Linaldo Guedes
São cerca de 300 páginas de muita poesia e muito talento literário. “Folha corrida” (Editora Escrituras, São Paulo) reúne poemas escolhidos por Sérgio de Castro Pinto publicados ao longo de 50 anos des trajetória literária. A obra será lançada nesta sexta-feira (22) em grande evento na Academia Paraibana de Letras, a partir das 19 horas. Na ocasião, Ângela Bezerra de Castro apresentará a obra, o grupo poético Evocare, à frente a professora Marineuma Oliveira, Jerônimo Vieira e Ramos, fará um sarau. Haverá, ainda, a apresentação do duo Danado, composto pelo violonista Vinícius de Lucena e pela violinista Ana Carolina Petrus.
Sérgio de Castro Pinto lembra que, em sua forma dicionarizada, folha corrida “consiste na identificação criminal da pessoa que a solicitou”. Mas, por extensão, “pode representar todo o histórico de alguém ou algo, ou seja, os acontecimentos que marcam o passado e que ajudam a influenciar a situação presente”. Para o poeta, “poesia que se preze não deve ter uma boa folha corrida, desde que isto represente acomodação e epigonismo. Deve, na medida do possível, subverter e transgredir as séries literária e ideológica”. E continua: “Como diria Adolfo Casais Monteiro, à poesia não cabe ensinar a governar e muito menos a ser governado. Cumpre à poesia, sobretudo, indisciplinar os espíritos”.
Sérgio de Castro Pinto, agrade a alguns ou não, é hoje a maior referência na poética paraibana. Sem desmerecer outros grandes poetas paraibanos em atividade ainda, Sérgio tem uma poesia que ganhou o respeito da crítica nacional e de escritores e leitores de todo o país. Uma poesia minimalista em alguns casos, mas de uma profundidade lírica que é uma raridade na produção contemporânea. E isso tudo somado com muita coerência, sobretudo. Coerência com seus princípios literários que vem praticando desde quando integrou o Grupo Sanhauá.
Sobre o Grupo Sanhauá, aliás, movimento ao qual pertenceu, juntamente com Marcos dos Anjos, Anco Márcio - estes dois já falecidos -, Marcos Tavares e Marcos Vinícius, Sérgio afirma que ele se propôs a fazer com que a lírica paraibana entrasse em sintonia com as experimentações de vanguarda do Sudeste do país, principalmente as levadas a efeito pelo Concretismo e seus desdobramentos. Segundo ainda o autor de “Folha corrida”, “Sanhauá não se submeteu ao jugo do ideário vanguardista, uma vez que procurou submetê-lo à nossa realidade, resultando daí um profundo sentimento de nordestinidade não só com referência à exploração dos núcleos temáticos como também no que diz respeito à escolha de uma linguagem de extração regional, isto, no entanto, sem incorrer no equívoco de exaltar o meramente pitoresco. Aliás, o título de um dos livros de Marcos Tavares - “Fuzuê e finados - corrobora essa minha afirmativa”. E concluiu: “Benfazejos arroubos os da juventude, pois, sem eles, certamente teríamos nos extraviado dos caminhos tortuosos e íngremes da poesia. A perseverança, hoje, talvez seja o vocábulo mais exato para substituir as efusões da juventude perdida. Perdida? Não, pois creio que, de alguma forma, ela resiste e permanece na devoção à palavra, na profissão de fé na poesia”.
“Folha corrida” traz poemas dos livros: A Flor do Gol (2014), Zoo Imaginário (2005), O Cerco da Memória (1993), A Quatro Mãos (1996), Domicílio em Trânsito (1983), A Ilha na Ostra (1970) e Gestos Lúcidos (1967). Traz, ainda, poemas inéditos, fortuna crítica parcial, obras do autor, livros sobre o autor e algumas opiniões sobre sua poética. São 70 anos de vida e 50 anos de poesia que serão celebrados nesta noite de sexta-feira. Evoé, Sérgio! Evoé, Poesia!