A trajetória criminosa do paulista Francisco de Assis Pereira, que confessou o assassinato de 11 vítimas e o abuso de outras 23 mulheres, foi um dos assuntos mais comentados em 1998, no Brasil. A ampla cobertura dos telejornais e dos programas policiais e de entretenimento ajudou a popularizar o nome pelo qual ele ficou conhecido antes mesmo de ser preso: Maníaco do Parque. Um filme homônimo, dirigido por Maurício Eça, chega hoje ao catálogo do Prime Video, para revisar os acontecimentos que levaram à prisão do personagem-título, interpretado por Silvero Pereira, justamente sob o olhar de uma jornalista em início de carreira, vivida pela atriz Giovanna Grigio.
Na vida real, Francisco utilizava-se de carisma para abordar mulheres em espaços públicos, apresentando-se como agente de modelos e elogiando sua aparência. Trabalhando na verdade como motoboy, convencia as vítimas a subirem em sua garupa, levando-as para lugares ermos. Os crimes ocorreram no Parque das Fontes do Ipiranga, situado na região sudeste da cidade de São Paulo. Depois de preso, Francisco teve grande espaço na mídia, mesmo depois de o caso ter “esfriado”. Ao longo do tempo, outras notícias deram conta de aspectos peculiares de sua vida, como cartas de “fãs”, recebidas na prisão, e uma identidade transsexual, indicada em laudos revelados na biografia escrita por Ullisses Campbell.
Já no longa-metragem Maníaco do Parque, o roteirista L.G. Bayão e o diretor Maurício Eça optam por outro caminho: Francisco divide o lugar de protagonista com Elena (Grigio), jovem repórter ligada a um dos casos e que enxerga nele uma oportunidade de esclarecer os assassinatos e ascender no veículo para o qual trabalha. Além de trazer imagens de arquivo de telejornais da época — como trecho do Jornal Nacional que noticia a prisão —, o repórter e apresentador Gilberto Barros, destaque na televisão nos anos 1990, interpreta ele mesmo num programa policial fictício. O ator e cantor Xamã dá vida a Nivaldo, chefe de Francisco, e interpreta o tema “Where did you sleep last night”, um cover da banda Nirvana.
Em entrevista para A União, Maurício Eça rememora sua trajetória no audiovisual, primeiro como diretor de videoclipes e peças publicitárias. “Quando em 2014 realizei o meu primeiro longa-metragem, Apneia, já tinha uma boa bagagem profissional, mas ainda estava iniciando”, ele recorda. Ao longo dos anos seguintes, dirigiu longas infantis, como Carrossel 1 e 2, baseados na telenovela de mesmo nome. “Adoro trabalhar com gêneros diferentes, e essa alternância me mantém sempre estimulado e motivado. Sei da minha função como realizador, que é sempre questionar e gerar discussões e reflexões”, justifica.
A incursão no gênero true crime, ficcionalização de crimes reais, veio com a trilogia de filmes sobre Suzane von Richthofen, condenada pela morte dos pais junto dos então namorado e cunhado Daniel e Cristian Cravinhos. Os dois primeiros filmes, A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais (também do Prime Video) tratam dos crimes na versão de dois dos acusados. “O terceiro filme (A Confissão) aconteceu alguns anos depois, porque entendemos que tinham muitas coisas ainda a serem discutidas. Os dois primeiros já foram um desafio incrível”, pontua Eça.
O realizador diz rememorar o espaço que Francisco de Assis Pereira teve nas entrevistas que concedeu depois de preso e nas conversas que tinha com suas amigas, temerosas quanto a passear por outros parques da capital paulista. “A nossa escolha para esse filme foi contar a história dando voz às vítimas dele, quase como uma reparação histórica. Escolhemos uma repórter para podermos enxergar de fato o que ocorreu no caso, com essa ótica feminina”, assevera. Ele também comentou o interesse do público nacional e estrangeiro pelo true crime. “Acho que parte da curiosidade e a necessidade do ser humano em entender a mente do outro, além de serem histórias que repercutem muito, pois são vitrines da nossa sociedade”, finalizou.
Ainda abordando os crimes de Francisco de Assis Pereira, o Prime Video estreia em 1o de novembro dois novos produtos: a série documental Maníaco do Parque – A História Não Contada e o podcast Maníaco do Parque – Um Serial Killer entre Nós. Dividida em quatro episódios, a série traz depoimentos de vítimas, de policiais e de outras pessoas que conheceram um réu, perspectivando sua conduta e a cobertura midiática da época. Já o podcast, focado na investigação, conta com a participação de Silvero Pereira e será disponibilizado na Audible, plataforma de streaming de audiobooks da Amazon.
MANÍACO DO PARQUE
- Brasil, 2024. Dir.: Mauricio Eça. Elenco: Silvero Pereira, Giovanna Griglio, Gilberto Barros, Bruno Garcia, Mel Lisboa, Augusto Madeira, Xamã.
- Estreia hoje, no Prime Video.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 18 de outubro de 2024.