Depois de sete meses de gravação no interior da Paraíba, está chegando o dia de lançamento da série Cangaço Novo, um dos maiores investimentos da Amazon Prime em parceria com a O2 Filmes no Brasil. A premiére mundial da superprodução acontece durante o 51º Festival de Cinema de Gramado, mas, antes, os diretores e parte do elenco vêm a João Pessoa para um painel que fará parte da programação do Imagineland, evento de cultura pop que acontece nos dias 28, 29 e 30 deste mês, no Centro de Convenções da cidade. “É um momento de muito prazer, de, enfim, encontrar o público para saber o que eles acham do trabalho que a gente fez. É um dos momentos mais especiais”, considera Aly Muritiba, que divide a direção com Fabio Mendonça.
Estão confirmados no evento, além dos diretores, o protagonista Allan Souza Lima e as atrizes Alice Carvalho e Hermila Guedes. Quando os oito episódios, cada um com 45 minutos a uma hora de duração, estiverem disponíveis no catálogo da gigante do streaming a partir do dia 18 de agosto, mais de 200 países poderão assistir a série composta majoritariamente por nordestinos, muitos deles paraibanos. E foi justamente por contar uma história contemporânea no Sertão nordestino com elenco local o que motivou Muritiba a embarcar nessa jornada. “Estava muito interessado em contar a história de minha gente, fugindo dos estereótipos. Queria falar do Sertão moderno e high tech. Cangaço Novo possibilita isso. Eu queria trabalhar com um monte de nordestino numa produção gigantesca”, diz o cineasta natural de Mairi, interior baiano.
Ambientada na cidade fictícia de Cratará, no Ceará, Cangaço Novo conta a história de Ubaldo (Allan Souza Lima), um infeliz bancário da Zona Urbana de São Paulo sem nenhuma lembrança de sua infância. Ele descobre que tem uma herança e duas irmãs no Sertão cearense: Dilvânia (Thainá Duarte) lidera um grupo que adora seu famoso pai falecido; e Dinorah (Alice Carvalho) é a única mulher em uma gangue de ladrões de banco. Ubaldo chega à cidade, passa a ser cultuado pela forte semelhança com o pai, e é chamado a cumprir seu destino como o novo mítico “cangaceiro” e líder supremo da gangue. Ubaldo terá que enfrentar bandidos, assassinos, policiais corruptos e literalmente explodir pequenas cidades enquanto embarca em sua jornada, tentando desesperadamente manter seus valores morais sob controle. Estão no elenco do núcleo principal os paraibanos Marcélia Cartaxo, Joálisson Cunha e Luiz Carlos Vasconcelos, dentre outros.
Aly Muritiba já possui um histórico de trabalhos com artistas paraibanos, como Mayana Neiva no premiado Para Minha Amada Morta e Zezita Matos, em Deserto Particular, filme indicado pelo país para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional, mas que acabou por ficar de fora da relação final em disputa pela estatueta. Vencedor do prêmio do público da mostra paralela Venice Days, do Festival de Veneza, Deserto Particular guarda semelhanças com Cangaço Novo. Ambas obras são protagonizadas por homens perturbados por questões não resolvidas que empreendem em viagem à aridez do interior nordestino para tentar redefinir suas vidas. “Mas essas semelhanças param por aí. Cangaço Novo é uma série de ação. Deserto Particular é um filme dramático”, resume Muritiba.
“A Paraíba tem atores, artistas e gente da área técnica incríveis. É sempre muito bom trabalhar com paraibanos. É um povo que além de muito talentoso tem muita energia boa de trabalhar, muito alegre, parceiro e batalhador”, declara o realizador, que escolheu para locação de Cangaço Novo o polo cinematográfico de Cabaceiras, no Cariri paraibano. “Cabaceiras tem algumas características que são muito marcantes que a gente queria trazer para a série. Estamos acostumados a ver o Sertão brasileiro como esse universo desértico formado de areia. A gente queria mostrar ao mundo um deserto diferente, de pedras. É isso que a região de Cabaceiras oferece. Além disso, como a cidade já acolheu outras produções, apesar de ser muito pequenininha, ela sabe como receber o povo do cinema”, acrescenta Muritiba.
O realizador baiano precisou se mudar para a Paraíba, ficando aqui por sete meses para as gravações, que aconteceram de novembro de 2021 a maio de 2022. “Não foi fácil. Esse foi um período pandêmico em que fiquei muito tempo longe de casa. Mas foi uma experiência definidora ficar tanto tempo dedicado a uma produção só. As pessoas e a paisagem do Sertão paraibano me marcaram profundamente. Voltei de Cangaço... como um grande conhecedor do interior da Paraíba e do povo paraibano”.
As expectativas com o lançamento da série são grandes por parte de seus realizadores. A produção executiva é de Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck, responsáveis pelo longa Marighella, além de Fábio Mendonça e Aly Muritiba. A série foi criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, que também atuam como roteiristas ao lado de Fernando Garrido e Erez Milgrom.
O sucesso da produção tem sido visto como fundamental para atrair novos investidores para a região. “Espero que outras produtoras, ao verem Cangaço Novo, entendam que, sim, nós sabemos e podemos fazer ação no Brasil, e, sim, sabemos contar histórias no Nordeste brasileiro como nordestinos e não sudestinos fingindo ser nordestinos. Chega de sudestino fingindo ser nordestino!”, conclui Aly Muritiba.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de julho de 2023.