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TELEVISÃO/MEMÓRIA

Silvio Santos foi rei com sucessos e polêmicas

publicado: 20/08/2024 09h29, última modificação: 20/08/2024 09h29
Apresentador, que morreu sábado, foi saudado com horas de retrospectiva
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Fotos: Divulgação/ SBT

por Renato Félix*

Entre horas de retrospectiva da carreira no SBT e nos canais concorrentes, entre elogios derretidos à sua capacidade como comunicador, entre o reconhecimento de seu talento e algumas poucas lembranças de polêmicas como o puxa-saquismo aos governos militares e a fraude no Banco Panamericano, do qual era dono, o Brasil viveu um fim de semana mergulhado em homenagens a Silvio Santos nos canais de TV. O animador e empresário morreu aos 93 anos, na madrihgada do sábado, de uma broncopneumonia.

Como relação à televisão, ele não foi o dono só no SBT. Ele sempre foi o dono, pelo menos nos seus programas. Após fazer do Baú da Felicidade uma empresa lucrativa, ele passou a comprar horários nas emissoras para apresentar seus programas. Primeiro na TV Paulista, que foi absorvida pela Globo em 1965, onde ele permaneceu e era uma das principais atrações da emissora. Já na Globo ele dominava o domingo, no formato de emendar vários programas em sequência.

Quando a Globo não aceitou que ele próprio vendesse os comerciais de seus programas, partiu para abrir sua própria emissora, em 1975.

Negociou com o governo militar para isso, e depois bajulou descaradamente os presidentes militares e civis com a voz pomposa do locutor Lombardi no inacreditável microprogama A Semana do Presidente, exibido logo antes do seu Show de Calouros. “O governo é meu patrão”, dizia ele, referindo-se ao fato de que a emissora era uma concessão pública. A Semana do Presidente deixou de ser exibido no primeiro governo Lula, em 2003.

Se Silvio já era o senhor absoluto de seu programa, isso aumentou no SBT. Também a relação com as “colegas de trabalho” ficou mais próxima, ao ponto do comunicador passar a apresentar parte do seu programa direto do auditório, quebrando a barreira invisível entre palco e plateia.

Quanto vale o show?

Como camelô que virou empresário milionário, o lucro pessoal algumas vezes falou mais alto que o bem comum. Talvez foi lembrada no fim de semana a queda de braço com o diretor José Celso Martinez Corrêa. Os dois disputaram o destino de um terreno próximo ao Teatro Oficina: o Grupo Silvio Santos, dono do terreno, pretendia construir no local prédios de até 100 metros de altura. Zé Celso defendia que o empreendimento prejudicaria o teatro, desconfiguraria o projeto original da arquiteta Lina Bo Bardi e que seria mais adequado a construção de um parque no local.

A briga na Justiça se arrastou por quatro décadas e, no mês passado, a Prefeitura de São Paulo e o Ministério Público chegaram a um acordo para a antecipação do pagamento de quase R$ 65 milhões dos recursos necessários para a desapropriação da área e a compra dos terrenos. Agora a Câmara de Vereadores paulistana discute se o parque receberá o nome do diretor de teatro ou do apresentador.

Topa tudo

No palco, Silvio zombava dos outros e de si mesmo e tinha noção de que um erro também podia ser um acerto. Se a pequena Maísa puxava sua peruca, ele dava risada. Se suas calças ameaçavam cair, dava risada.

E, sobretudo, quando sentou numa tábua sobre uma tina d’água para testar se funciona, caiu lá dentro de pernas pro ar e saiu completamente encharcado, fez isso dando risada, antes de encerrar o programa dançando. Um dos maiores “ra-rááái, hi-hiiii” de sua história.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de agosto de 2024.