A edição do Salão do Artesanato Paraibano e os desfiles de Carnaval já acabaram, mas as homenagens ainda continuam aos povos indígenas. Na sua 5ª edição, a Exposição das Tribos Indígenas Carnavalescas da Paraíba será aberta amanhã, na Praça do Povo do Espaço Cultural José Lins do Rego, localizado na cidade de João Pessoa. A mostra gratuita vai reunir 10 cocares usados pelas agremiações, durante o desfile do Carnaval Tradição, evento que foi realizado pela Prefeitura da capital, no mês passado. O público poderá visitá-la até 30 de abril, no período das 7h às 22h, além de poder interagir com as peças. Na ocasião, haverá QR code disponível, pelo qual as pessoas terão acesso às informações sobre o evento e as indumentárias.
Durante a visita, poderá ser observado adereços das tribos indígenas Ubirajara, do bairro do Rangel; Tupinambás (Alto do Céu); Tupi Guanabara (Água Fria); Xavantes (Bairro dos Novais); Papo Amarelo (Cruz das Armas); Guanabara e Tupi Guarani (ambas de Mandacaru); Tabajara, Africanos e Pele Vermelha (todas com sede no bairro do Cristo Redentor). “Os cocares são de tamanhos diversos, com dimensões que variam aproximadamente de dois metros até três metros e meio, e vão ficar suspensos, em alturas distintas, ao longo de todo o período da exposição, para que as pessoas possam interagir colocando na cabeça, como se simulasse o uso, para tirarem fotos”, descreveu Maurise Quaresma, a gerente de Artes Visuais da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), instituição que realiza a mostra em parceria com o Grupo Jaraguá, que é um coletivo interessado em difundir a cultura popular e tradicional do estado.
Ao interagirem com tais adereços suspensos, as pessoas simularão o personagem conhecido como “espião”, que integra esse tipo de folguedo, praticado na região Nordeste do Brasil, mas que, na Paraíba, possui características próprias nas indumentárias, na dança e na música. “O cocar é um adereço muito importante, porque vai à frente, abrindo o desfile da agremiação, e serve para identificar para o público, por meio das cores e dos adereços usados na sua confecção, quem é aquela tribo indígena”, frisou Maurise Quaresma. “Um integrante da Tribo Tupinambás veio deixar o cocar no Espaço Cultural, na última segunda-feira (dia 13), e eu pude perceber o respeito e o orgulho que possuem com esse adereço, pois ele pediu para cuidar da peça. Costuma haver uma seleção de quem vai carregar o cocar, pois é preciso ter força, porque a peça é muito grande e pesada”, disse ela, acrescentando que, a cada ano, outros novos cocares são produzidos para serem utilizados durante os desfiles no Carnaval Tradição.
Patrimônio imaterial
Ao observar que o ciclo do Carnaval é o período de maior produção e difusão das tribos indígenas, por ser época dos desfiles, a organizadora da exposição, Maurise Quaresma, explicou que realizar a mostra com os cocares é uma forma de divulgar os aspectos plásticos e visuais dessas indumentárias. “É promover, também, a valorização da expressividade dessa brincadeira popular, permitindo que o público, inclusive turistas, possa conhecer tais produções fora do período carnavalesco. Não apenas os adultos, mas as crianças gostam muito de ver esses adereços, por causa das suas dimensões, formato e cores. E, ainda, é poder difundir não só um passado histórico, mas o presente vivo e culturalmente rico que as comunidades recriam e preservam a cada Carnaval, passando as tradições de pai para filho”, afirmou a gestora.
No entender de Maurise, a sanção, pelo governador do Estado, em 18 de novembro de 2022, da Lei nº 12.452/22, que reconhece as tribos indígenas carnavalescas como Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba, foi muito importante por fortalecer essas tribos indígenas como manifestação popular, por envolver dança, música, encenação e poesia oral, consideradas como formas de expressar uma dança dramática. Trata-se de uma prática realizada por moradores de bairros da capital paraibana, durante os festejos carnavalescos, que celebra referências culturais afro-indígenas, como também comemora o imaginário popular de referências afro-indígenas brasileiras.
Produtor cultural que trabalha na organização da mostra em conjunto com o Grupo Jaraguá, José Reinaldo confessou-se um apaixonado pelo tema da mostra e disse que também participou das outras edições do evento. “Esses grandes cocares usados pelo personagem ‘espião’, nas tribos indígenas que desfilam no Carnaval Tradição de João Pessoa, também são conhecidos como ‘capacetes’ e são uma expressão única da cultura popular paraibana essa exposição, na Funesc, contribui para preservação e divulgação desse tipo de manifestação popular”, concluiu ele.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 16 de março de 2023.