Cabaceiras autointitula-se a Roliúde Nordestina, seguindo a mania criativa de reescrever nomes estrangeiros de acordo com nosso falar, um “nordestinismo”. É esse mesmo recurso que o grupo Lampiarte utiliza para renomear a Broadway, avenida e distrito nova-iorquinos que sedia os teatros dos grandes espetáculos musicais, para dar nome ao festival de teatro musical Bróduei Nordestina. A quarta edição começa amanhã e vai até 30 de julho, com encenações na Usina Energisa e no Teatro Paulo Pontes.
Com o tema “Raízes à beira-mar”, a curadoria desta edição apostou em 11 peças teatrais musicais produzidas, nos últimos anos, por grupos paraibanos (oriundos de João Pessoa, Bayeux e Pedras de Fogo): Lamúrias, Xote Carimbolado, Encantos da Jurema, Pense num Fuá, O Mar É o Mesmo, Guã e os Mortais, Shakespeare Nordestino, Violetas, Um Conto de Amor Nordestino, Cadê Tu? e Paixões de Fogueira.
Entre elas, experimentações sobre o ser teatral nordestino, as relações com a ancestralidade e o campo do místico e do misterioso, a ambiência de espaços coletivos, como as feiras livres, uma vila de pescadores ou as festas juninas, questões de gênero e palhaçaria.
“A proposta principal do festival é celebrar o teatro musical, promovendo integração entre teatro, música e dança. No entanto, também são acolhidas peças teatrais que dialoguem com música e/ou dança, espetáculos de teatro musicado ou shows musicais com elementos teatrais”, explica o produtor do festival, Jordy Lamarke.
Para ele, outro aspecto é a conexão das obras com João Pessoa e com a Paraíba, por meio das histórias que contam, das vivências que representam ou dos elementos culturais que incorporam. “Os espetáculos selecionados abordam temas que vão da jurema ao xote, passando pelo São João de Campina Grande, pela cultura do interior e pelas paisagens e simbologias do litoral paraibano”, completa.
Na Bróduei Nordestina, os artifícios do teatro musical vêm baseados na geologia, na fauna, na flora e nas culturas locais. O cenário, os textos e as histórias são inspiradas na vegetação costeira, nas falésias e nos mangues, nos coqueirais, nas restingas, na Mata Atlântica urbana.
“João Pessoa é mais que um palco, é personagem, paisagem e provocação. É a cidade que cresce entre rios e mar, entre areia e concreto, oferece uma vegetação que ensina a criar com resistência e profundidade”, dialoga a descrição-provocação do festival. “A Bróduei assume, assim, o papel de festival que planta arte no litoral e colhe pertencimento. A arte que fazemos é como a vegetação da costa: ela finca raízes no sal, resiste como falésia e dança com o vento. João Pessoa é o solo e a cena. A Bróduei Nordestina é a raiz que cresce à beira-mar”.
Premiação Tonho
Além das apresentações teatrais e das oficinas que permeiam o evento, o festival conta ainda com — mais um dos nossos “nordestinismos” — a Premiação Tonho, uma paródia com o Tony Awards, principal prêmio de teatro musical dos Estados Unidos. A ideia é celebrar e valorizar os talentos locais, destacando as contribuições para o desenvolvimento da cena teatral e fortalecendo a conexão com o público, com votações de júris técnico e popular.
“Em edições anteriores, os destaques têm vindo, majoritariamente, de grupos universitários ou formados em cursos especializados em Teatro. Em 2023, o grande vencedor foi A Concha e a Sopeira, espetáculo surgido no curso de Teatro da UFPB [Universidade Federal da Paraíba]. Já em 2024, os premiados foram Anacrônico, fruto do estágio de bacharelado em Teatro da UFPB, e Cidade Cão, resultado do curso de Teatro da Funesc [Fundação Espaço Cultural]”, conta o produtor.
O festival tem se expandido desde sua primeira edição, em 2022, quando contava apenas com três espetáculos, dois da própria produtora, a Lampiarte, e um do curso de Teatro da UFPB. A segunda edição conseguiu congregar cinco espetáculos de teatro musical, três espetáculos teatrais e três shows musicais. Na terceira edição, o festival apresentou cinco espetáculos de teatro musical, três espetáculos de teatro e dois espetáculos de dança.
“O festival vem crescendo em número de dias, quantidade de espetáculos e público, mas, sobretudo, amadureceu enquanto projeto cultural com propósito, coerência curatorial e conexão com o território”, reforça Lamarke. Para conseguir espraiar ainda as peças junto ao público, todas as apresentações do festival contarão com acessibilidade, com a interpretação em Libras.
Teatro musical se renova
Segundo a produção do festival, apesar do cenário do teatro musical ser desafiador na Paraíba, é possível perceber uma nova cena surgindo dentro e fora dos cursos de teatro.
“Esse movimento aponta para o surgimento de uma nova cena, mais consciente, autoral e conectada com a musicalidade e a identidade cultural do nosso estado”, diz Lamarke. “Dentro da Lampiarte, por exemplo, desenvolvemos espetáculos que se aprofundam na linguagem do teatro musical a partir de temáticas regionais e elementos da cultura popular nordestina”.
Mas ele ressalta também que, fora da companhia, surgem produções que demonstram que o teatro musical paraibano está em expansão criativa. “Temos o objetivo de preencher essa lacuna e o festival cria espaço para o teatro paraibano, oferecendo visibilidade a produções locais que, frequentemente, não encontram espaço nos grandes circuitos”, finaliza.
Programação:
- AMANHÃ, dia 3: Lamúrias (20h – Usina Cultural Energisa)
- SEXTA, dia 4: Xote Carimbolado (19h30 – Usina Cultural Energisa)
- DOMINGO, dia 6: Encantos da Jurema 20h – Usina Cultural Energisa)
- TERÇA, dia 8: Pense num Fuá (20h – Teatro Paulo Pontes)
- QUARTA, dia 9: O Mar É o Mesmo (20h – Teatro Paulo Pontes)
- DOMINGO, dia 13: Guã e os Mortais (19h – Usina Cultural Energisa)
- QUINTA, dia 17: Shakespeare Nordestino (16h – Usina Cultural Energisa)
- SEXTA, dia 18: Violetas (20h – Teatro Paulo Pontes
- DOMINGO, dia 20: Um Conto de Amor Nordestino (17h – Teatro Paulo Pontes)
- TERÇA, dia 29: Cadê Tu? (20h – Teatro Paulo Pontes)
- QUARTA, dia 30: Paixões de Fogueira (20h – Teatro Paulo Pontes) Premiação (21h30 – Teatro Paulo Pontes
Onde:
- USINA CULTURAL ENERGISA (R. João Bernardo de Albuquerque, no 243, Tambiá, João Pessoa)
- TEATRO PAULO PONTES (Espaço Cultural, R. Abdias Gomes de Almeida, no 800, Tambauzinho, João Pessoa)
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*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 2 de julho de 2025.