por Joel Cavalcanti*
Há 35 anos um teatro abriga as manifestações criativas do povo de Cabedelo, na Região Metropolitana de João Pessoa. O cenário cultural da cidade portuária tem em seu epicentro o Teatro Santa Catarina, que se abre à comunidade para celebrar a data com uma programação especial durante toda essa semana. O calendário de ações, que se iniciou ontem e segue até o próximo domingo (27), traz espetáculos teatrais, debates, apresentações de cultura popular e oficinas. As atividades são gratuitas e têm capacidade de ocupação reduzida a 80% do espaço.
Hoje e amanhã, sempre às 9h, acontece a oficina de ‘Teatro e Literatura’, com o ator e multiplicador do método Teatro do Oprimido, Flávio José Rocha. A ação é voltada para adolescentes de 13 a 17 anos que terão a experiência de participar de técnicas, jogos e exercícios de preparação de elenco elaborados pelo célebre teatrólogo brasileiro Augusto Boal. Os jovens cabedelenses serão instigados a pensar na transformação da realidade sociocultural através do diálogo e do teatro. A inclusão de coletivos sociais marginalizados está intimamente ligada ao Teatro Santa Catarina desde a sua fundação, em 1987, até os dias atuais.
Foi para abrigar o grupo Teatro Experimental de Cabedelo (Teca), criado no final da década de 1970, que o prédio foi erguido. A reivindicação partiu da companhia dirigida pelo teatrólogo e folclorista Altimar Pimentel, morto em 2008. E a programação vai explorar as apresentações já na sexta-feira (25), às 10h, com o espetáculo A Terra é uma mulher e meu útero, o universo, do grupo Cidadania em Cena, formado por alunas do Instituto Federal da Paraíba (IFPB). No mesmo dia, às 19h, será a vez do monólogo, A paz é uma desgraça, de Renálide Carvalho.
“O surgimento do teatro ocorreu num momento de extrema ebulição cultural na Paraíba e principalmente em Cabedelo. Saíamos de uma ditadura militar e ao mesmo tempo a cidade respirava as expressões culturais tradicionais locais, inclusive com importantes trabalhos de pesquisa nas áreas de música, teatro e cultura popular. Isso tudo foi canalizado e contribuiu para a edificação do equipamento cultural. Então não há como falar da história e da importância do Teatro Santa Catarina sem retomar esse passado que ainda é tão presente, inclusive nesse momento de celebração com a presença de grupos tradicionais locais”, narra sobre esse período histórico o presidente da Funesc, Pedro Santos.
Não é todo equipamento de promoção e debate cultural que pode se orgulhar de ter sido influenciado por um grupo de Coco de Roda e Ciranda, expressões artísticas fruto da junção de cultura negra e dos povos indígenas. Trata-se do Teca de Cabedelo, do Mestre Benedito, grupo que foi oficializado em 1976, mas o início das atividades remonta aos anos 1950. Atualmente, o Coco e Ciranda do Mestre Benedito é comandado por sua filha, Dona Teca do Coco, reconhecida como mestre das Artes.
“Creio que o equipamento traz duas missões muito significativas. Primeiro funciona como palco para as celebrações, manifestações e produções da cidade de Cabedelo. É algo relacionado ao pertencimento, mesmo. O teatro é mais das pessoas da cidade do que do poder público e isso é muito importante. Além disso, é também uma referência para espetáculos em circulação, garantindo em vários momentos o intercâmbio entre artistas e proporcionando o acesso da população a novas produções artísticas”, destaca o presidente da Funesc.
As comemorações pelos 35 anos do Teatro Santa Catarina serão encerradas no domingo (27), às 19h, com A Revolta dos Bichos, espetáculo da Cia. de Artes Saltimbancos. Inspirado e adaptado do texto original Os Saltimbancos, do italiano Sérgio Berdotti baseado no conto Os músicos de Bremen, dos irmãos Grimm, a peça infantil é um musical feito para todas as idades que expõe uma crítica político-social representada alegoricamente pelos personagens centrais do Burro, do Cachorro, da Galinha e da Gata. Trata-se de uma fábula musical que levanta questões sociais de modo lúdico sobre a representação do trabalho e a importância da arte no processo de formação do sujeito.
O Teatro Santa Catarina teve a conclusão de suas reformas entregues há pouco mais de dois anos e recebeu um investimento na ordem de R$ 4,5 milhões do Tesouro Estadual. Foi quando o local gerido pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba passou por sua primeira grande intervenção desde a sua fundação.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 22 de março de 2022