Notícias

entrada franca

Temas sérios no palco

publicado: 21/08/2024 09h12, última modificação: 21/08/2024 09h12
Mostra de Teatro de Direitos Humanos começa hoje na sede do Coletivo Alfenim
DESMONTAGEM JÚLIIO DEUNIER2.JPG

“Violetas em Desmontagem” (sexta) é uma das peças na mostra | Foto: Júlio Deunier/Divulgação - Foto:

por Esmejoano Lincol*

Chegando a uma segunda edição, desta vez em caráter presencial, a Mostra de Teatro de Direitos Humanos inicia sua programação hoje em João Pessoa com apresentação de peças e oferta de oficinas para o público em geral. Os espetáculos serão encenados na sede do Coletivo Alfenim, no bairro do Castelo Branco; já os dois cursos serão ministrados na Usina Cultural Energisa, no bairro de Tambiá.

Toda a programação é gratuita, mas as cortesias para as sessões teatrais, com limite de público de 40 lugares, deverão ser retiradas no site Sympla. Já os interessados nas duas oficinas disponíveis devem se inscrever através de formulário on-line; o acesso a todos esses links pode ser feito por meio do perfil da Amora Produções no Instagram (@producoesamora). 

“Dora”, com Sara Antunes, atração de hoje, é ensaio aberto de peça em construção | Foto: Alessandra Nohvais/Divulgação

A II Mostra de Teatro de Direitos Humanos abre logo mais com um ensaio aberto de Dora, peça ainda em construção escrita e dirigida pela atriz paulistana Sara Antunes, que deve estrear oficialmente em São Paulo no mês que vem: será a partir das 19h30, no Alfenim. O texto do espetáculo mergulha na biografia da guerrilheira Maria Auxiliadora Lara Barcelos, que foi perseguida pelo Regime Militar brasileiro nos 1960 e que acabou tirando sua própria vida, em exílio na Europa, tempos depois. Lara conheceu a trajetória de Dora ao participar do docudrama Alma Clandestina, que retratava a vida da ativista.

“Depois eu entendi que eu queria fazer uma peça sobre isso e as coisas foram crescendo dentro de mim. Meu pai também foi exilado político e estava fazendo outros trabalhos no teatro sobre a ditadura. Essas memórias ficaram cada vez mais fortes na pandemia”, detalha Sara.

Esses antecedentes resultaram, inicialmente, numa versão on-line do espetáculo, já encenado anteriormente. Dora – Continuo Sonhando é o nome definitivo da peça que chegará ao público, em sua completude, no mês que vem.

Comentando sobre a importância do tema da mostra, Sara diz que vivemos numa sociedade em que o poder do dinheiro acaba se sobrepondo aos direitos básicos do ser humano. “A gente deveria entender quais as réguas que a gente usa para medir nossos limites. No período da ditadura muitos desses limites foram ultrapassados, ao mesmo tempo em que vivenciamos lutas na tentativa de fazer com que os direitos humanos tivessem mais espaço”, assevera a atriz.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA
- HOJE: Dora (19h30)
- AMANHÃ: Violetas (19h30)
- SEXTA: Violetas em Desmontagem (19h30)
- SÁBADO: Desertores (19h30)

Contra a violência

A programação segue amanhã na Energisa, a partir das 14h, com a oficina “Exercícios para uma cena dialética”, ministrada pelos atores Lara Torrezan e Murilo Franco, do Coletivo Alfenim. Os artistas buscam inspiração em conceito do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, trabalhando com a contradição como elemento importante para o ator em cena. Às 19h30, no Castelo Branco, será encenada a peça Violetas, com direção da brasiliense Raquel Scotti Hirson e texto da cantora e atriz paraibana Mayra Montenegro. O espetáculo é baseado na vida da avó de Mayra, Wilma Pinheiro, e trata das violências e silenciamentos sofridos por ela e por outras mulheres. “Ele estreou em 2016 e eu continuo apresentado até hoje. Rodamos o país inteiro e já nos apresentamos em uma universidade da Áustria”, revela.

Baseada nesta primeira peça, Mayra criou outro espetáculo: Violetas em Desmontagem, que trata do processo de criação da obra sobre Wilma e que também aborda vivências da dramaturga, que assina a sua direção.

Este desdobramento, encenado como palestra, será apresentado na Mostra de Teatro de Direitos Humanos na sexta-feira, a partir das 19h30. “Se trata de um ato político que denuncia as violências sexuais que, lamentavelmente, meninas e mulheres sofrem”, afirma Mayra.

Também na sexta-feira, mas às 14h, a oficina “Conto e me reconto: escrevivências e poéticas pretas por uma dramaturgia antirracista na cena cultural JP/PB” será aplicada pela atriz Fernanda Ferreira, a partir de dinâmica em grupo. O encerramento desta segunda edição da mostra será com a encenação do espetáculo Desertores, desenvolvido pelo Alfenim, com texto e direção de Márcio Marciano. A peça será encenada sábado, às 19h30, na sede do Coletivo, trazendo a história de quatro soldados que abandonam seus postos após a Batalha de Verdun, na Primeira Guerra Mundial: eles lutam para não serem descobertos por seus superiores.

Direitos de todos

A produtora pessoense Marcelina Moraes está à frente da Mostra de Teatro de Direitos Humanos, idealizou o evento em 2021, durante a pandemia. A primeira empreitada foi realizada remotamente e contou com mostras teatrais on-line. “Desde 2016 que este projeto estava na gaveta. Conseguimos torná-lo realidade graças a recursos do primeiro Edital Aldir Blanc. Tivemos um bom público de pessoas assistindo simultaneamente e todos permaneciam para debater as peças, após o final de cada sessão”, rememora.

Depois de um hiato de três anos, a mostra retorna com duas oficinas teatrais, a partir de fomento alcançado por edital da Lei Paulo Gustavo. Projetando uma terceira edição do evento, Marcelina relata que submeteu sua iniciativa para edital da Lei Rouanet: o projeto para captação de auxílio foi aprovado e ela aguarda a vinda dos recursos. “Direitos Humanos parecem ser um tema específico, mas não são, porque se trata de direitos de todos, universais. Em muitos desses espetáculos, questionaremos este fato. A linguagem subjetiva e artística do teatro atinge o público neste ponto, mas de uma outra forma”, finaliza Marcelina.

- No Coletivo Alfenim (Av. José Gonçalves Jr, 182 - Castelo Branco I, João Pessoa)
Através do link, acesse o site para reserva de ingressos
- Entrada franca

*Matéria publicada originalmente na edição impressa no dia 21 de agosto de 2024.