Jadson Falcão - Especial para A União
Nesta quarta-feira (6), o Tintin Cineclube realiza no Cine Bangüê, às 19h30, uma sessão especial com a exibição de três filmes dirigidos pelo cineasta francês Jean Rouch (1917-2004). A programação faz parte da Mostra África, realizada pela Aliança Francesa de João Pessoa em comemoração à Festa da Francofonia no Brasil, evento anual que tem como objetivo divulgar as culturas dos diferentes países que integram a Organização Internacional da Francofonia (OIF).
Importante antropólogo e cineasta Francês, Jean Rouch deixou um grande legado com uma vasta filmografia que compreende a produção de filmes etnográficos e de antropologia visual.
Para comentar os filmes e debater com o público as particularidades e pluralidades da produção audiovisual africana, o evento, que é gratuito, contará com a presença do Professor Sada Niang.
Confira a seguir as sinopses dos curtas que serão exibidos legendados em português:
Os mestres loucos (Les maîtres fous) [doc, 28', 1954-5, Gana]
Primeiro filme de Rouch a causar um grande impacto nos meios cinematográficos, Os mestres loucos acompanha uma cerimônia de possessão anual dos membros da seita Hauka em Accra (na sua maioria trabalhadores imigrantes vindos do Níger). Depois de um breve preâmbulo em que Rouch mostra e comenta em over a presença dos imigrantes na paisagem urbana de Accra, o filme vai até seus arredores, na concessão do sacerdote Mountyeba, onde os participantes da cerimônia se reúnem para celebrá-la. Narrada por Rouch com alguma ênfase, esta cerimônia é o coração do filme, e ocupará todo o seu miolo. Após uma confissão pública, começa o ritual da possessão. Baba, tremores, respiração curta, sinais da chegada dos deuses da força, que vêm se encarnar no corpo dos participantes do rito. Um dado curiosíssimo deste rito confere ao filme uma inesperada dimensão política, que Rouch acentua ao inserir na montagem cenas de um desfile de autoridades coloniais (dentre as quais a própria rainha da Inglaterra): os espíritos daquele culto representam não os Deuses tradicionais, mas uma série de personagens emblemáticas do poder colonial laicizado: o capataz, o governador, o médico, a mulher do capitão, o general, o condutor da locomotiva, etc... A cerimônia atinge o ápice com o sacrifício de um cachorro que será comido pelos possuídos. No dia seguinte, vemo-los de volta a suas ocupações cotidianas, e o cineasta conclui, sempre em over, que aqueles ritos funcionam como um remédio capaz de lhes garantir a saúde psíquica, remédio que os europeus já não conheciam mais.
Saída das noviças em Sakpata (Sortie de novices à Sakpata) [doc, 16', 1959-63, Benin]
Lançando mão de um experimento de sincronização do som e da imagem, o filme mostra três momentos da iniciação de quatro noviças, os cavalos dos espíritos, em uma aldeia Vaudoun de Allada ao sul do Dahomé, atual Benin. A “danse de quête” das quatro noviças orientadas por uma velha ocupa os 6 minutos iniciais, as danças e os preparativos coletivos na véspera da saída são mostrados nos 3 minutos seguintes e finalmente a cerimônia da saída das noviças aparece nos 7 minutos finais, fechando este precioso documento etno-musicológico.
Mammy Water [doc, 18', 1953-66, Gana]
Primeiro filme de Rouch no Gana, e o primeiro explorando a beleza das paisagens marinhas, Mammy Water dá a ver uma profusão de cores, pessoas e movimentos. Novamente, seu comentário over convive com músicas e burburinhos dos nativos. No início, crianças brincando na praia e pescadores Fanti em ação no mar, mas o mar não está para peixe. A insatisfação dos deuses da água tornou a pesca ineficaz após a morte de uma sacerdotisa Fanti. Para se reconciliar com eles, a população deve organizar uma festa religiosa em homenagem a Mammy Water, Deusa da água, que dá nome ao filme. Na festa, vamos vendo então procissões, libações, oferendas, regatas, orquestras de percussões e metais, sacrifícios de bois para a Deusa, tudo para restabelecer a aliança com os espíritos da água e trazer de volta os bons tempos da pesca farta – o que de fato ocorre. Assim, o filme não só mostra as crenças religiosas dos Fanti como também acaba por validá-las, ao provar sua eficácia.
Durante os meses de Março e Abril, as Alianças Francesas vêm realizando, em comemoração à Festa da Francofonia, diversas atividades culturais com a exibição de filmes e palestras. A programação completa das atividades em João Pessoa pode ser conferida aqui.
Serviço: Tintin Cineclube
Data: 6 de abril
Local: Cine Bangüê - Fundação Espaço Cultural (Funesc)
Hora: 19h30
Ingressos: Sessão gratuita
Classificação indicativa: 12 anos