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Tintin Cineclube realiza mostra com obras de Jorge Furtado

publicado: 19/10/2016 00h05, última modificação: 19/10/2016 13h58
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O gaúcho Jorge Furtado é considerado um dos grandes cineastas brasileiros - Foto: Divulgação

tags: Tintin CineClube , Jorge Furtado


Lucas Silva - Especial para A União

Responsável por ter escrito roteiros para séries e programas de televisão, como ‘Comédia da Vida Privada’, ‘Agosto’, ‘A Invenção do Brasil’ e ser precursor na fundação da Casa de Cinema de Porto Alegre, o gaúcho Jorge Furtado é considerado um dos grandes cineastas brasileiros que transpassa suas obras com suas técnicas. E é por esse e outros motivos que ele será o homenageado na sessão de hoje do Tintin CineClube. Com mostra intitulada “A Pedagogia do Cineasta – Jorge Furtado”, a sessão tem início às 19h30, na sala do Cine Bangüê, no Espaço Cultural e a entrada é franca.

Algo importante a se destacar é que como a sessão é gratuita, é interessante que o público chegue com antecedência no local para garantir o ticket do filme.

Exibindo uma seleção de seis curtas-metragens, a curadoria do Tintin CineClube fez um recorte na filmografia extensa de Furtado, entre curtas, longas e produções para a televisão. Na lista em cartaz desta noite podemos destacar produções audiovisuais como Esta não é a sua vida, Veja Bem, Ilha das flores, A matadeira, Oscar Boz e O sanduíche.

“Temos esse formato de sessão em nossa programação interna, que se chama A Pedagogia do Cineasta, em que a gente se debruça sobre a obra de curta-metragem de um realizador para através de um apanhado de filmes entendermos um pouco da estética e do estilo desse cineasta. A ideia é identificar traços estilísticos e narrativos que reverberem por todo o trabalho dele inclusive em longa-metragem”, contou, em entrevista ao jornal A União, a curadora Mariah Benaglia.

Como dito anteriormente, o gaúcho possui um estilo que transpassa suas obras, permeando as fronteiras da ficção e do documentário muito bem, além de explorar diferentes possibilidades da montagem fílmica, a hipertextualidade e a bricolagem de vários elementos e linguagens.

“Já fizemos esse formato esse ano com cineastas como Agnes Varda e Jean Rouche e queríamos muito fazer com um brasileiro ainda esse ano. Jorge Furtado é um cineasta excelente pra fazer esse exercício. É um realizador que teve um trabalho muito importante pro curta-metragem brasileiro e ainda é muito ativo na produção de longas e séries para a TV”, completou Benaglia.

Desse modo, após sabermos como o cineasta trabalha e ver todos sentados na sala de cinema, o primeiro filme a dar play à sessão é “Esta não é a sua vida”, feito em 1991. Na produção é contada a história de Noeli Joner Cavalheiro, que mora num subúrbio de Porto Alegre, é dona de casa e tem dois filhos. Nascida em uma cidade do interior, foi pra capital, trabalhou numa padaria e casou-se. Hoje é uma pessoa comum, mas Furtado vem com sua produção para dizer que não existem pessoas comuns.

Já “Veja bem”, de 1994, tem uma simbologia curiosa, pois além de filme é também um objeto - um zootrópio - espécie de precursor do cinema. Na primeira parte do filme (e do lado de fora do objeto), o foco de atenção é o maravilhoso e ridículo caleidoscópio de ofertas da cidade, as imagens são pura diversidade, e o texto é de Drummond. Na segunda parte do filme (e do lado de dentro do objeto) o foco de atenção é o homem-músculo, as imagens se repetem até a exaustão, e o texto é de João Cabral.

Logo após, a “Ilha das flores” traz à tela de cinema um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho.

O quarto filme da noite tem como título “A matadeira”, também de 1994. A produção audiovisual conta o massacre de Canudos a partir de um canhão inglês Withworth de 32 libras, apelidado pelos sertanejos de “A matadeira”, que foi transportado por vinte juntas de bois através do Sertão, tendo disparado um único tiro.

Antes mesmo de começar o filme, a sinopse já mostra aos telespectadores a tremenda máquina feita para a quietude das fortalezas costeiras, era o entupimento dos caminhos, um trambolho a qualquer deslocação de manobras. Era, porém, preciso assustar os sertões com o monstruoso espantalho de aço.

Na penúltima produção “Oscar Boz”, de 2004, o cineasta toma como ponto de partida o episódio da série “Umas Velhices” produzida pelo Sesc-SP. Fazendo um breve resumo, um pioneiro das filmagens familiares revê os filmes rodados por ele nos anos 50, em seu formato original e retrabalhados digitalmente. E finalizando, “O sanduíche” apresenta os últimos momentos de um casal - a hora da separação. O fim de alguma coisa pode ser o começo de outra. Outro casal, os primeiros momentos, a hora da descoberta. Encontros, separações e um sanduíche. No cinema, o sabor está nos olhos de quem vê.