Lucas Silva - Especial para A União
As produções ‘Hooji’, ‘Gatilho de Prata’, ‘Quinze’ e ‘A Dama do Estácio’ são os quatro curtas–metragens que o Tintin CineClube apresenta ao público hoje na Fundação Espaço Cultural (Funesc). As sessões, que foram intituladas de “Elas por Eles – Narrativas Femininas”, tem início às 19h30 e possuem entrada gratuita. É importante lembrar que a classificação indicativa é 16 anos. A intenção da atividade veio com o objetivo de apresentar aos adeptos da sétima arte narrativas sensíveis que buscam um olhar atencioso e que reconhecem a importância feminina e suas peculiaridades.
Segundo uma das coordenadoras do Tintin CineClube, Liuba de Medeiros, a temática desse mês de março foi fácil de se escolher porque queríamos debater a mulher como tema. “Embora o foco seja a mulher, queríamos abordar ela de uma forma diferente. Queremos fazer com que a visão do público seja mais dialógica, ou seja, que consigamos falar uma língua mais parecida, para que haja uma participação de ambos os gêneros nessa discussão sobre a mulher em nossa sociedade atual”, ressaltou a coordenadora do projeto.
O diferencial das sessões dessa semana é que, embora os filmes sejam sobre mulheres, todos eles foram produzidos por diretores homens. Então podemos dizer que é de fato um universo delas por eles. Além disso, a ideia base parte de uma curadoria madura que reconhece a importância de uma representação de gêneros mais ampla e diversificada no meio audiovisual e demais mídias de comunicação em massa.
Liuba Medeiros revelou ainda que, a curadoria dos filmes é feita através de alguns fatores. Muitas vezes temos ajuda dos colaboradores, dos próprios realizados que já apresentaram suas produções que vamos sempre nos atualizando com coisas novas e da nossa própria memória. “Estamos tentando voltar a ter temáticas mensais, por exemplo, esse mês estamos com o tema mulher, mas logo após já estamos pensando em qual tema podemos abordar”, completou.
Então pra quem se interessou pela discussão, o filme dirigido por Marcello Quintella e Boynard, “Hooji”, dá o pontapé inicial nas sessões. A gravação das cenas, que foi feita em 2012, e o filme conta a história de uma viúva que prepara a celebração budista pela alma de seu marido – o “hooji”. Ela espera por seu casal de filhos, até que um misterioso telefonema muda tudo. Um conto sobre saudade, solidão e esperança. Livremente inspirado no haikai da morte do poeta japonês Umezawa Bokusui (1875-1914).
Estrelado por Carlos Takeshi (Pai), Miwa Yanagizawa (mãe), Michele Hayashi (filha) e Danilo Watanabe (filho), a produção já ganhou algumas premiações. Além disso, foi dirigido por Marcello Quintella e Boynard que é carioca e jornalista por formação. O Cinéfilo após os 40 anos começou a estudar roteiro. Em 2010, produziu e dirigiu seu primeiro curta, “Sitiados”. O filme teve boa aceitação em festivais e isso o estimulou a abrir a sua própria produtora, a Fata Morgana Filmes. Em 2012, com baixíssimo orçamento, produziu “Hooji”, que já foi exibido em festivais de cinema em 17 países. Para o diretor Marcello Quintella e Boynard, a protagonista não poderia ser qualquer atriz, sob pena de destruir o filme por excesso. “Menos é mais” – essa era a premissa, relativamente a todos os aspectos do filme. Então, surgiu para nós Miwa Yanagizawa, uma atriz brilhante que muito ajudou a todos a encontrar o tom do filme e, particularmente, muito me ensinou sobre o que é dirigir um ator. “Durante o processo das filmagens, a cada cena que acabávamos de rodar, sentia crescer na equipe a confiança de que algo diferente iria resultar daquilo tudo. Como um grande ator faz diferença”, completou o diretor.
Logo após é a vez do curta-metragem do diretor paraibano Bruno de Sales. ‘Gatilho de Prata’ é uma produção do gênero ficção, gravado em 2014, na Paraíba. Como elenco, podemos destacar Caroline Monteiro e Tavinho Teixeira. A história do filme gira em torno da seguinte definição “Penso em você, tento te ajudar, mas seu campo de força não me deixa entrar”.
Para muitos pode parecer bastante confusa, mas o diretor Bruno de Sales explica que o filme fala sobre a história de uma mulher que se encontra sozinha e solitária. “Depois que seu marido parte, a personagem do curta fica sozinha e com isso ela cria uma barreira de proteção conta empecilhos que possam vir da sociedade como paqueras futuras e afins”, explicou o diretor.
Já o filme ‘Quinze’, de Maurílio Martins, conta a história de Luiza que fará 15 anos e Raquel que tem alguns sonhos. O curta chama a atenção de quem o vê devido a sua forma única de trabalhar a aproximação ao cinema clássico, coisa que vemos poucas vezes, no cinema brasileiro contemporâneo. Além disso, seu estilo é mais próximo do narrativo-clássico.
Encerrando a sessão, a última exibição fica por conta de ‘A Dama do Estácio’, estrelado por Fernanda Montenegro e dirigido por Eduardo Ades. No média-metragem, o público irá se deparar com a personagem Zulmira, uma velha prostituta. Um dia ela acorda obcecada com a ideia de que vai morrer e que precisa de um caixão.
A ideia base para o filme veio quando Eduardo Ades ouviu a gravação de uma música da cantora Aracy de Almeida. Logo após, surgiu em sua mente à imagem do filme ‘Falecida’, feito em 1965 de Leon Hirszman baseado na peça de Nelson Rodrigues. “Queríamos uma história que juntasse as duas coisas, e a gente acabou criando uma continuação de A Falecida, explicau o diretor Eduardo Ades.