Waldonys, Dorgival Dantas e Flávio José unem forças e talentos no show Encontro das Sanfonas — amanhã, às 21h, na Domus Hall do Manaira Shopping, em João Pessoa. A amizade do trio atravessa décadas, mas a relação do músico de Monteiro com o instrumento que lhe fez célebre é ainda mais antiga e remonta ao dia em que ao assistiu a uma apresentação histórica, no interior de Pernambuco: “A primeira vez que vi uma sanfona na minha vida foi logo na mão de quem? Do Rei do Baião”, conta Flávio. Ingressos antecipados no site Evenyx, custam de R$ 110 (meia entrada no front stage) a R$ 3.100 (valor do camarote para 10 pessoas).
O show, deste fim de semana, na capital passeia não apenas por faixas dos três artistas, como pelo repertório de outros ases do forró como Dominguinhos e Aciolly Neto: dentre as canções selecionadas estão “Sala de reboco”, “Espumas ao vento”, “Destá” e “Mala e cuia”. Waldonys, cearense, soma mais de 30 anos de carreira: começou ainda adolescente, sob as bênçãos de Luiz Gonzaga, que o chamou para contribuir com a sanfona em “Fruta madura”, presente no penúltimo disco do mestre – Aí Tem Gonzagão, de 1988.
As primeiras lembranças e lições do músico (que também é paraquedista) vieram do pai, Francisco Eurides, um entusiasta da sanfona. Waldonys brinca, inclusive, dizendo ter certeza que foi gerado ao som do instrumento. Com o passar dos anos, buscou aperfeiçoar sua técnica com os colegas mais experientes, a exemplo do próprio Gonzaga, e pelo ensino formal de música.
“Depois estudei com um professor chamado Valmir. Estudei ainda no Conservatório Alberto Nepomuceno [em Fortaleza], tendo aulas com o professor Tarcísio Lima”, informa.
Questionado sobre quais músicas com a presença da sanfona mais gosta de ouvir — e que gostaria de ter composto —, ele cita “Asa branca”, que apelida de “hino nacional nordestino”. Sem fazer média, ele também menciona trabalhos de dois paraibanos, um deles, a propósito, seu companheiro de palco.
“Há tantos solos do mestre Flávio José! Como ‘Tareco e mariola’. Quando você escuta essa, constata que é sanfona pura. Ouvir ‘João e Maria’, de Sivuca com Chico Buarque, é outra joia rara. Eu enumeraria aqui uma penca”, assevera.
A trajetória no forró proporcionou a Waldonys parcerias com outros cantores, fora de seu gênero de origem. Uma das mais famosas, aconteceu em 1994, no clássico álbum Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão, de Marisa Monte — o solo na canção “Segue o seco”, escrita por Carlinhos Brown.
“A sanfona representa a extensão do meu corpo, representa a voz da minha alma, e mais ainda, representa o povo nordestino e tantas coisas. Não a encaro como um instrumento de trabalho apenas, mas como minha confidente”, resume.
Emoção nos acordes
Flávio José revela que seu primeiro encontro com a sanfona ocorreu aos cinco anos, numa viagem à cidade pernambucana de Arcoverde. O Rei do Baião fazia um show em frente à casa em que ele estava.
“Meu pai se descuidou e me perdeu. Me encontraram ao pé do caminhão, olhando bem para cima assim, para Luiz Gonzaga e a sanfona. Esse é um momento inesquecível, para mim. E também, quando eu ganhei a minha primeira, do meu pai, também foi muito bacana”, relata.
Os primeiros acordes saíram de forma intuitiva, aos 10 anos de idade. Chegou a ter aulas com um professor local, adepto do método de Mário Mascarenhas, mas com a partida desse mestre, seguiu com o aprendizado autodidata. “Posso dizer que ela é, para mim, como se fosse uma companheira, né? Porque foi exatamente na sanfona que eu criei os meus primeiros arranjos e gravei. E é como se fosse uma parte de mim, entendeu? Quando a gente coloca ela no peito assim, que encaixa, a gente se sente completo um com o outro”, sustenta.
Falando das composições de outros artistas que admira, Flávio José aponta “Poucas palavras”, do repertório de Eliane. Recorda de ter ouvido, pela primeira vez, durante uma participação breve em uma rádio paulistana.
“Era uma música dela e de Ilmar Cavalcante, aqui de Monteiro. A introdução, quando tocou, encheu meus olhos de lágrimas, eu me emocionei demais. É um arranjo de Oswaldinho do Acordeon. E é aquela coisa, quando se faz um arranjo que marca, não adianta mexer. É aquilo e pronto, porque ninguém vai fazer melhor”.
Flávio contribuiu para o novo EP do artista pessoense Juzé, lançado há duas semanas, fornecendo vocais e acordes para a canção “Agarrado”. O sanfoneiro experiente celebra a oportunidade de interagir com outras gerações de músicos.
“Às vezes, eles me agradecem para caramba. Mas eu digo, ‘Olha, vocês estão esquecendo de que a gratidão aqui é minha, porque vocês estão me dando a oportunidade de participar da história de vocês’. E, um dia, a gente vai embora, né? E aí, tem que ter alguém aí ‘para segurar a peteca’”, finaliza.
Através deste link, acesse o site para compra de ingressos
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 17 de Outubro de 2025.
