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Tom K: uma referência ao canto coral

publicado: 03/10/2023 14h33, última modificação: 03/10/2023 14h33
Amigos e profissionais da música lamentam a morte, aos 70 anos de idade, do regente pernambucano radicado na PB
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No próximo mês, o maestro Tom K será homenageado no 21º Festival Paraibano de Coros (Fepac), evento que será realizado na capital paraibana - Foto: Arquivo A União - Foto: Jussie

por Guilherme Cabral*

“É uma perda indescritível para a Paraíba, nas áreas de composição e de canto coral, nas quais ele também era referência no Brasil”, declarou o maestro e professor universitário Eduardo Nóbrega, referindo-se à morte do maestro Tom K, aos 70 anos de idade, ocorrida ontem, data em que o corpo também foi sepultado, no final da tarde, no Cemitério Senhor da Boa Sentença, localizado na cidade de João Pessoa.

Nóbrega, que é coordenador-geral do 21º Festival Paraibano de Coros (Fepac), garantiu que o evento será realizado de 6 a 12 de novembro, no Espaço Cultural, na capital, ocasião em que haverá homenagem póstuma para o regente. A entidade divulgou nota se solidarizando com os familiares e amigos e manifestou “profundo carinho ao maestro Tom K”.

Amigo de longa data, com quem se apresentava no naipe de baixo, o cantor Ottoni de Figueiredo Melo também lamentou a perda, mas ressaltou que “o legado do maestro Tom K foi o de difundir o canto coral, criando grupos em instituições públicas e particulares numa época em que esses grupos só existiam em igrejas e colégios”.

O maestro Eduardo Nóbrega lembrou que, na tarde do último domingo (dia 1º), esteve com alguns componentes do Coro de Câmara Villa-Lobos no quarto do hospital particular, em João Pessoa, onde Tom K estava internado, e faleceu em decorrência de problemas no fígado e rins. “Naquele momento, o coral cantou para ele a música ‘Salve Regina’, do compositor brasileiro barroco José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, que ele gostava muito e iria reger durante o Fepac. Ele ficou agitado, levantou as mãos e, com certeza, gostou de ter ouvido a música”.

Ele contou que, no festival de novembro, essa música será apresentada no primeiro dia da programação, sob a regência da convidada do evento: a professora Wendy Moy, da Universidade Syracuse, de Nova York (EUA). “Eu também vou falar sobre Tom K, na abertura. O Coro Villa-Lobos e o coral de Brasília também cantarão em homenagem ao maestro”, disse ele.

“O maestro Tom K vai deixar uma grande lacuna. Ele era um dos maiores compositores e arranjadores de coro no Brasil. Ele não precisou sair da Paraíba para ser reconhecido por causa da qualidade do seu trabalho, pois sabia criar composições bem-feitas, que navegavam do erudito ao popular, pois tinha o dom de compor, técnica essa que dominava. Ele era meu amigo desde os 15 anos e estudamos juntos na Escola de Música Antenor Navarro e fizemos o curso de Música na UFPB, onde ele se aposentou pouco antes da pandemia da Covid-19, mas continuava produzindo em sua casa. No Coro Villa-Lobos, do qual sou o regente, 90% das composições e arranjos foram feitos por ele”, comentou Nóbrega.

O cantor Ottoni de Figueiredo Melo, que tem 83 anos, foi outro a lamentar a morte do maestro Tom K e observou que, quando o conheceu, nos anos 1970, já atuava em corais. “Em 1975, depois de alguns integrantes, inclusive eu, sairmos do Coral Universitário da UFPB, criamos, de forma independente, o Coral Madrigal Paraíba, e convidamos o maestro Pedro Santos para a regência, que trouxe o maestro Tom K e outros nomes, como os maestros Eduardo Nóbrega e Carlos Anísio. Naquela ocasião, alguns dos integrantes não sabiam ler partituras e Tom K já fazia isso, o que facilitava para aprendermos as músicas mais rápido”, relembrou o amigo.

Nas palavras de Figueiredo Melo, Tom K era uma pessoa simples, competente, calada, mas participativa, porque compartilhava seus conhecimentos com todos. “Seu grande mérito foi ser disseminador de corais, criando esses grupos em instituições, a exemplo do coral da Caixa Econômica Federal. Tom K é uma semente que veio de Pedro Santos, a quem chegou a substituir na regência do grupo”, disse ele, que iniciou suas atividades de canto coral em 1952.

Maestrina da Orquestra de Violões da Paraíba, Carla Santos destacou a figura de Tom K. “Um ser humano sensível, de coração magnífico, de uma delicadeza, gentileza e sensibilidade, com quem regemos vários concertos da OVPB. Ele era parte da nossa vida musical e a contribuição que deixa é a sua própria obra”, disse ela, em meio à emoção, por causa da perda do amigo.

Já o maestro Carlos Anísio lembrou que Tom K participou do que considera a “era de ouro do canto coral na Paraíba”, nos anos 1970. “O maestro Tom K fez um trabalho muito profícuo na UFPB e na cena cultural, tendo fundado e mantido vários corais”, afirmou o regente.

Ex-professor da UFPB e referência internacional em etnomusicologia, o carioca Samuel Araújo lamentou a morte do regente. “Eu o conheci no final dos anos 1970 e, durante toda a minha residência em João Pessoa, tive no Tom K um grande amigo, alguém que considero uma das pessoas mais íntegras que conheci, além de um brilhante músico e um grande companheiro”.

Quem foi o maestro

Natural de Recife (PE), o maestro Tom K, como é mais conhecido Antônio Carlos Batista Pinto Coelho, tinha 13 anos de idade quando chegou a João Pessoa, em 1966. Na capital paraibana, ele estudou música e se dedicou à profissão até se aposentar como professor/mestre, em 2017, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde, no Departamento de Educação Musical, lecionou as disciplinas Regência, Violão, Linguagem e Estruturação Musical, História da Música, Contraponto Harmonia e Análise.

Durante sua trajetória, Tom K também regeu o Coro Sinfônico da Paraíba por mais de 15 anos, fundou o Coro de Câmara Villa-Lobos, que regeu por 10 anos, e, ao longo de uma década, regeu o Madrigal Paraíba e foi maestro do Coral da Associação dos Aposentados da Caixa Econômica Federal na Paraíba por 35 anos, além de membro-fundador do Laboratório de Composição (Compomus-UFPB), ele foi diretor musical do Coral Gazzi de Sá durante mais de 15 anos.

No dia 13 de setembro de 2016, o maestro Tom K foi homenageado pela etapa do projeto Sesc Partituras, em João Pessoa. “Fico muito agradecido por ter sido lembrado”, confessou ele, na época, para o Jornal A União.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 03 de outubro de 2023.