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Tom na Fazenda

publicado: 22/08/2023 09h05, última modificação: 22/08/2023 09h05
Peça discute temas como sexualidade, amadurecimento e relações familiares
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O ator Armando Babaioff é o protagonista do espetáculo, dirigido por Rodrigo Portella, com as atrizes Soraya Ravenle, Camila Nhary e o ator Gustavo Rodrigues no elenco - Foto: Victor Pollak

por Guilherme Cabral*

“Fora o prazer de pisar num palco inédito para mim, existe, também, a curiosidade em ver como a peça será recebida pelo público pessoense. Cada palco é um encontro único que o teatro propicia”, disse o ator pernambucano Armando Babaioff sobre a encenação do espetáculo Tom na Fazenda no palco do Teatro Santa Roza, em João Pessoa, próxima sexta-feira (25) e sábado (26), às 18h. O espetáculo iniciará pela Paraíba a turnê na região Nordeste.

O ator é o protagonista do espetáculo e tradutor do texto, baseado na obra homônima do canadense Michel Marc Bouchard. Dirigida por Rodrigo Portella, com as atrizes Soraya Ravenle, Camila Nhary e o ator Gustavo Rodrigues no elenco, a montagem discute temas como sexualidade, heteronormatividade, família e amadurecimento. Armando Babaioff atribuiu a “uma feliz coincidência” o fato de o estado ser o local para o início da circulação pelo Nordeste: “Na verdade, foi a Paraíba que escolheu assim. Quando começamos a montar a nossa grade de apresentações de acordo com a disponibilidade, o Teatro Santa Roza estava lá, abrindo essa turnê”, disse o ator.

A temporada itinerante da peça Tom na Fazenda é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Vivo. O espetáculo está em cartaz desde 2017 e já se apresentou mais de 300 vezes em mais de 60 teatros. “Os paraibanos vão assistir a um trabalho que, mesmo depois de tanto tempo de estrada, continua absorvendo discussões e ganhando significados, gerando outras camadas de entendimento que vão se somando aos significados anteriores e que modificam a cena, ou seja, a peça está em movimento. Muita coisa aconteceu, eu não sou o mesmo ator quando estreei em 2017, nós envelhecemos, a peça não, pelo contrário, continua atual”, comentou Armando Babaioff.

Escrita pelo canadense Michel Marc Bouchard, a peça acompanha a ida do publicitário Tom (Babaioff) para a fazenda da família do namorado, morto precoce e repentinamente, onde ocorrerá o funeral. Lá, descobre que Agatha, a sogra (Soraya Ravenle), nunca tinha ouvido falar dele e tampouco sabia que o filho era gay. Nesse ambiente rural e austero, Tom é envolvido em uma trama de mentiras criada por Francis (Gustavo Rodrigues), o truculento irmão do falecido, que o obriga a compactuar com uma farsa a fim de ocultar de Agatha a sexualidade do filho morto. Nesta fazenda, o espectador da peça vai perceber que o ato de mentir é a primeira condição de sobrevivência, mesmo que o sangue e a lama sujem as palavras e engrandeçam os corpos transfigurados pelas emoções enfrentadas naquele momento.

“Tom na Fazenda evoca sentimentos que só o teatro mesmo é capaz de provocar. O teatro, essa arte que existe há três milênios, é realmente catártica, mesmo que a história que esteja sendo contada ali, no palco, naquele momento, não tenha, a princípio, nada a ver com você, mesmo que você não se identifique com absolutamente nada numa primeira camada”, comenta o protagonista.

Adaptação

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A peça acompanha a ida do publicitário Tom para a fazenda da família do namorado, morto precoce e repentinamente. Lá, descobre que a sogra não sabia que o filho era homossexual - Foto: Victor Pollak

Babaioff também justificou a razão de ter escolhido essa peça para ser encenada pelo grupo. “A montagem brasileira é uma adaptação do texto do canadense Michel Marc Bouchard, que estreou no país de origem do dramaturgo em 2011. Em 2013, a obra foi levada ao cinema pelo diretor Xavier Dolan, que assinou o roteiro junto a Bouchard. Foi através da versão cinematográfica que eu tive contato com a obra teatral e decidi traduzi-la para o português. Li o texto e ali, no meu quarto, já comecei a imaginar quem faria o quê, quem ocuparia qual função, já comecei a produzir”. Ele destaca que o que o surpreendeu foi a temática e a maneira como o autor se utiliza das palavras e das cenas para construir uma obra que fala de tantas coisas para além de uma discussão sobre homofobia, já que, na história, homofobia foi algo que aconteceu no passado e que determina o presente das personagens. “Tom na Fazenda fala de relacionamentos humanos dentro de um núcleo familiar, onde nem tudo é o que parece ser”, disse.

O artista ainda relatou como foi o trabalho de adaptação da peça. “A minha tradução é impregnada da minha maneira de ver o mundo, traduzi os textos falando todas as falas em voz alta, tem muito da minha mãe na Agatha, tem partes que soariam muito "estrangeiras" e que eu escolhi cortar para não afastar o público da realidade que estávamos propostos a contar, ou seja, de que se trata de um lugar num interior qualquer”, afirmou Babaioff.

Babaioff lembra que, ao longo de seis anos, desde a estreia no Brasil, a montagem obteve repercussão e notoriedade nacional e, também, internacional, tendo marcado presença nos principais festivais de teatro do mundo, a exemplo do Festival de Avignon, na França, e o FTA - Festival TransAmériques, no Canadá. Em março passado, a convite do Théâtre Paris-Villette, o espetáculo cumpriu temporada de um mês na cidade de Paris, registrando recorde de público e bilheteria e recebendo elogios de publicações importantes da França, como o jornal Le Monde. E, mais recentemente, a peça esteve em cartaz em São Paulo e repetiu o sucesso das temporadas anteriores, com mais de oito mil espectadores e ingressos esgotados muito antes do fim de uma temporada de três meses no Teatro Vivo.

O ator apontou um motivo para justificar tamanho sucesso da peça: “Acho que está na encenação dirigida pelo Rodrigo Portella, ela chega a um lugar onde o truque está à mostra, se vê o teatro aberto, sem subterfúgios, isso, de cara, já leva o público a experimentar uma maneira diferente de ver teatro. O que chama a atenção no exterior é a nossa encenação, a maneira como a história é contada. É um lugar mais visceral, mais animalesco, mais vibrante, com uma invasão de espaços pessoais que mexem com o público que não está acostumado com um teatro mais perigoso, mais realista, menos encenado, apesar de ser teatro”, disse ele.

O espetáculo tem 120 minutos de duração, a classificação indicativa é 18 anos, e os ingressos podem ser adquiridos on-line, aos preços de R$ 110 (inteira) e R$ 55 (meia), na plataforma Sympla.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 22 de agosto de 2023.