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Tragédias e romances marcaram a vida de Castro Alves, o poeta da liberdade

publicado: 02/10/2016 00h05, última modificação: 01/10/2016 11h04
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Famoso poeta brasileiro nasceu no ano de 1874, em Curralinho, Bahia - Foto: Divulgação

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Hilton Gouvêa

Em 14 de março do próximo ano ocorrerá o 166º aniversário da morte de Antonio Frederico de Castro Alves – o famoso poeta Castro Alves -, o menino de família-média-alta que nasceu em Curralinho (BA), destinado a ser o profeta da igualdade, por sonhar com a abolição da escravatura e vaticinar que “a praça é do povo”, uma alusão ao preceito democrático da Revolução Francesa, que pregava: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Morrer de tuberculose aos 24 anos, amputar um pé sem anestesia aos 23 e amar mulheres jovens e maduras talvez ao estilo donjuanesco de Bocage, eram as regras comuns da vida do adolescente que veio estudar Direito em Recife, mas que trocava a Faculdade pela boemia.

Aos 16 anos, teve coragem para recitar “Navio Negreiro”, no Grêmio Literário de Salvador, durante solenidade frequentada por barões do império. Seu porte bonito o fez amar e ser amado por diversas mulheres – sendo três as suas prediletas: a fascinante Eugênia, uma atriz portuguesa 10 anos mais velha que o abandonou doente, a misteriosa Idalina e a doce Leonídia, com quem manteve um amor platônico até morrer. Cecéu, como era mais conhecido, ao que parece tinha uma predestinada para a poesia, mesmo que tétrica.

Sem saber foi morar numa casa da Rua do Rosário, em Salvador (1854), onde morrera uma jovem, cujo noivo matou-a com uma bala de ouro, confeccionada para este fim. Daí teria escrito um poema, que seus biógrafos afirmam ter se perdido dentro de um caderno que o poeta atirou no lixo.

A sensibilidade do adolescente para a arte e poesia foi herdada de seu pai, o médico e pintor Antonio José Alves, um dos fundadores da Sociedade de Belas-Artes da Bahia. Conheceu a dengosa Idalina em março de 1865, ao voltar ao Recife, acompanhado do amigo Fagundes Varela. Em 19 de agosto do mesmo ano, alistou-se como voluntário para a Guerra do Paraguai, mas foi excluído por causa da saúde frágil.

Com Idalina, num quartinho singelo

Junto com Rui Barbosa, o frenético advogado republicano, ele fundou em Recife o jornal A Luz, de tendência liberal. No bairro de Santo Amaro conheceu Idalina, uma moça simples, com quem dividiu por muito tempo um quartinho singelo. Castro Alves a homenageou no poema “Aves de Arribação”. De volta a Curralinho, reencontrou uma namorada de infância, Leonídia Fraga. Namorador doentio, apaixonou-se por Agnése Trinci Murri, uma jovem viúva italiana, professora de música de Adelaide, irmã do poeta. A ela dedicou os poemas Noite de Maio, Versos para Música, Remorso, Gesso e Bronze, Longe de Ti, Aquela Mão e Em que Pensas? O amor por Agnése não foi correspondido. O homem que se vestia de negro para declamar, morreu às 15h30 de 6 de julho de 1871, num quarto do Palacete Sodré (Salvador), numa cama junto a uma janela banhada fartamente pelo sol.

A escritora baiana Myriam Fraga, lançou um livro há três anos com o título A Musa Infeliz do Poeta Castro Alves. Ela conta, nesta biografia de Leonídia Fraga, que o poeta voltou à casa da infância em 1870, por orientação médica. Tinha poucos meses de vida pela frente, o suficiente para estreitar seu relacionamento com a amiga-namorada de infância.

Após a morte do poeta, Leonídia casou-se, mas seu novo marido acabou a abandonando pois ela própria se denominava “noiva de Castro Alves”. A musa de Cecéu morreu no Hospício São João de Deus, em Salvador. Em seus pertences, havia uma trouxinha, com poemas do namorado e uma lista de receitas de doces preferidos pelo poeta. Esta revelação foi feita pelo médico Raimundo Nonato de Almeida Gouveia, biógrafo de Castro Alves, que acompanhou os últimos anos de vida de Leonídia.

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