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Biografia

Trajetória pessoal e profissional de Biu Ramos

publicado: 31/08/2023 10h10, última modificação: 31/08/2023 10h10
Livro que será lançado amanhã se debruça sobre a vida de um dos grandes nomes do jornalismo paraibano
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O autor Samuel Amaral considera sua obra a primeira biografia do jornalista - Foto: Edson Matos

por Guilherme Cabral*

Um dos grandes nomes da história da imprensa paraibana, o jornalista e escritor paraibano Severino Ramos Pedro da Silva (1938 – 2018), mais conhecido como Biu Ramos, teria completado 85 anos de idade no dia 19 deste mês de agosto. Com o intuito de homenageá-lo, o jornalista Samuel Amaral lançará amanhã, às 19h, a biografia Biu Ramos: o timoneiro da Arca de Sonhos, na Livraria A União, no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. Publicada pela Editora A União (R$ 60,00, 411 págs.), a obra registra em 10 capítulos toda a trajetória – do nascimento à morte – de um profissional que teve de superar desafios, a exemplo do racismo, para exercer o seu ofício.

O livro é resultado da dissertação de mestrado defendida pelo autor em 2022, no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (PPJ) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sob orientação da professora doutora Joana Belarmino de Sousa. Samuel Amaral afirma que considera sua obra a primeira biografia sobre o jornalista e escritor Biu Ramos, que em 1993 escreveu o livro Memórias de Um Repórter, mas que não se configura como biografia.

O autor relata que se propôs a escrever a biografia “a partir do momento em que li em dois dias, durante a pandemia da Covid – 19, os dois volumes de Crimes que Abalaram a Paraíba, de Biu Ramos, e fiquei muito seduzido pela forma instigante, a linguagem que adotou e o estilo jornalístico do seu autor, que eu não conhecia. Com isso, procurei através de sebos adquirir e ler outras obras de Biu Ramos, já que ele, como escritor, publicou 11 livros”, disse ele.

No intuito de produzir a obra, Samuel Amaral procurou ler os livros lançados por Biu Ramos e obteve acesso aos arquivos do saudoso jornalista, que então estavam de posse da família e, atualmente, estão sob a salvaguarda da Fundação Casa de José Américo (FCJA), em João Pessoa. “Além de entrevistar familiares, como a viúva, Lúcia Sá, e suas duas filhas, Lícia Silva e Liane Costa, para saber como era Biu Ramos no dia a dia, também conversei com amigos que com ele conviveram, como a secretária Leila Oliveira, o presidente da FCJA, Fernando Moura, e os jornalistas Nonato Guedes, Alarico Correia Neto e Rubens Nóbrega. Não encontrei muitas entrevistas de Biu Ramos na internet, mas nos arquivos encontrei vários documentos, como a coluna Linha Direta, que estreou no jornal O Norte, na qual contava histórias polêmicas”, comentou o autor.

O escritor ainda ressaltou que o principal objetivo da publicação “é resgatar a trajetória pessoal e profissional de Biu Ramos, tido como um dos melhores jornalistas de sua geração e integrante da chamada “Era de Ouro” da imprensa paraibana nas décadas de 1950 e 1960, quando jovens repórteres chegaram às redações e imprimiram um novo estilo de fazer jornalismo. Mas também mostrar a importância de Biu Ramos para as novas gerações e até mesmo para os jornalistas que ainda não o conhecem. A gente não traz apenas a figura de Biu, mas também o contexto social, político e econômico da trajetória dele”.

Trajetória

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O livro é resultado do mestrado concluído pelo autor em 2022, no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFPB - Foto: Roberto Guedes

Samuel conta que Biu Ramos era filho de uma parteira e de um operário da Usina São João, no mnicípio de Santa Rita, onde nasceu. Era negro, pobre e tinha uma deficiência congênita que o fazia ter os pés tortos. “Ele nasceu apenas 50 anos após a abolição da escravatura no Brasil, o que é um marco histórico muito curto, de pouco tempo. Ele teve que enfrentar muito preconceito para se firmar como jornalista. Em 1971, por exemplo, ele foi escolhido pelo então governador Ernani Sátyro para ser o diretor-geral de A União e os jornalistas mais vetustos se manifestaram contra, sob o argumento de que o cargo era destinado a alguém oriundo de famílias de proa da sociedade e que ele não tinha esse perfil”, relata.

O jornalista diz ainda que Biu também “trouxe a primeira impressora off set para o Jornal A União, onde também juntou uma equipe talentosa de repórteres e, em conjunto com Gonzaga Rodrigues, começou a setorizar a Redação, destinando repórteres especializados para Cultura, Esporte e Política, por exemplo. Biu também foi um jornalista polêmico, como ocorreu quando se posicionou contrário aos professores que vinham de outros estados e até estrangeiros, durante o reitorado de Linaldo Cavalcante, no momento em que a UFPB se expandia, chamando-os de alienígenas porque defendia que os professores prata da casa é que deveriam exercer a função”.

O autor da biografia ainda destacou que outro legado de Biu Ramos foi a coragem. “Ao lado de Hélio Zenaide e Gonzaga Rodrigues, Biu foi um dos precursores do jornalismo investigativo. No caso do assassinato do militante das Ligas Camponesas João Pedro Teixeira, em 1962, Biu Ramos foi testemunha ocular, junto com o delegado do caso, para achar a testemunha chave do processo, uma camponesa que denunciou os acusados. Biu dizia antigamente que o jornalismo na Paraíba era de água de flor de laranjeira, porque só tinha coluna social e notas políticas, mas não tinha reportagens, de fato. Biu Ramos foi importante e se impôs pelo talento”, disse Samuel Amaral.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 30 de agosto de 2023.