A Caverna dos Pequenos Ursos é um livro de contos escrito por 14 meninas e um menino, entre 12 e 14 anos de idade. Organizado pelos escritores Tiago Germano e Laís Lúcio, o produto inusitado é fruto de uma oficina de escrita criativa oferecida pela escola Maple Bear, entre estudantes do 6o ao 9o ano do Ensino Fundamental, e será apresentado ao mundo hoje, na Livraria Leitura (Manaíra Shopping), às 19h.
“A ideia de publicar um livro com os contos produzidos na oficina teve o objetivo de engajar a turma num projeto comum e de proporcionar a culminância dessa iniciativa”, conta Germano. O que chama a atenção é que a maioria dos contos foi escrita por meninas, situação para a qual ele encontra uma possível explicação no fato de haver várias outras atividades extracurriculares na Maple Bear, como robótica e esgrima, por exemplo, que atrairiam mais os meninos. “Mas este ano a participação está bem mais equilibrada entre meninas e meninos”, afirma.
De acordo com o escritor, os contos breves que compõem A Caverna dos Pequenos Ursos trazem resultados criativos das dinâmicas realizadas em sala de aula, que exploram não somente as aptidões literárias dos estudantes, mas questões pertinentes à literatura e à Língua Portuguesa, que são disciplinas do currículo escolar. “O livro apresenta um universo imaginativo extremamente rico, que permeia temas profundos, como a migração e a conquista da independência na transição da infância para a adolescência, e também leves e divertidos, ao dialogar com os interesses dos estudantes e a cultura de entretenimento que os cerca”, diz.
Atual coordenador da Festa Literária da Rede Estadual de Ensino (Flirede), Germano vê a iniciativa da Maple Bear como parte de uma cena que se fortalece em João Pessoa, tendo como foco a prática da boa escrita. Ele também citou as oficinas do Centro Estadual de Arte (Cearte) e a pós-graduação em escrita criativa do Centro Universitário Uniesp.
A oficina de escrita criativa da Maple Bear teve início em 2022, com o professor Valnikson Vianna. Depois, veio Tiago Germano, e agora, depois do seu afastamento — por causa da Flirede — o bastão passou para a escritora Débora Ferraz. Os encontros acontecem nas tardes de segunda a quinta-feira.
Boa escrita
Em qualquer curso ou oficina que foque na produção textual, o objetivo é transformar narrativas e ideias em palavras que surpreendam e encantem os leitores. Para tal, os professores e facilitadores são unânimes naquela famosa equação: escrever é 10% inspiração e 90% transpiração; exige prática e leitura. É aí que entra a oficina de escrita criativa.
Mas é possível ensinar alguém a ser criativo? “A criatividade só se desenvolve se for estimulada, como um músculo que precisa ser hipertrofiado com momentos de tensão e de descanso. E esse é um dos nossos papéis. É possível ensinar algumas técnicas de escrita, assim como é possível alfabetizar alguém”, afirma Germano.
Laís Lúcio, parceira dele na organização de A Caverna dos Pequenos Ursos, acrescenta: “A partir do exercício do cérebro, da disponibilidade para olhar, ouvir e sentir o que existe dentro e fora de si mesmo e do empenho em praticar, todos podem ser mais criativos”, atesta.
Isso vai transformar essa pessoa em artista? “Não necessariamente, porque aí entram muitos fatores, tanto particulares quanto coletivos. Mas de uma coisa eu tenho certeza: se os estudantes não saírem dessas oficinas como futuros escritores, sairão como futuros leitores, porque ela também fomenta a leitura como instrumento de criação”, responde Germano.
Para Laís, antes mesmo de saber que haveria a publicação de um livro, ela já achava a ideia da oficina maravilhosa. “Os estudantes mostraram muito potencial e criatividade. Como escritora, sempre fico animada quando vejo outras pessoas, ainda mais crianças e adolescentes, interessadas na arte da escrita”, arremata.
Abraçados à literatura
Natural de Picuí, Tiago Germano é jornalista e escritor. Dentre os quatro títulos que já publicou, está O que Pesa no Norte (2022), semifinalista do Prêmio Oceanos, e Demônios Domésticos (2017), indicado ao Prêmio Jabuti e vencedor do Prêmio Minuano de Literatura. É mestre e doutor em escrita criativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Já a patoense Laís Lúcio é professora com mais de uma década de experiência em sala de aula, para onde diariamente leva a literatura, ao mediar leituras para crianças. Recentemente, ela lançou o seu primeiro livro infantil, intitulado Um Livro sobre como Ler um Livro (2023). Atualmente, estuda escrita criativa e trabalha em novas obras para o público infantil.
Ambos concordam que fazer uma oficina de escrita criativa não é algo exclusivo para estudantes, mas para qualquer pessoa que queira melhorar a escrita. Seja para quem pretende escrever romances, poemas ou contos, seja para criar letras de música, discursos, peças teatrais, roteiros, memórias, crônicas e até ensaios.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de abril de 2024.