Lucas Silva - Especial para A União
O Colóquio Internacional sobre Cinema Documentário dos Ateliers Varan começa hoje, e prossegue até esta sexta-feira, a partir das 13h30, com sua programação ocorrendo no Cine Aruanda da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Com apoio de algumas instituições internacionais e nacionais o Varan, este ano, irá abordar o tema “Um mundo Visível”. Além disso, na ocasião, se reúnem diversos especialistas do cinema para debater o tema. O evento possui entrada gratuita ao público.
Além do tema base, a reunião irá tratar também da história dos Ateliers Varan, os primeiros anos de experiência em Moçambique e no Brasil, em especial na Paraíba, a metodologia de formação em documentário desenvolvida por Varan desde sua origem e suas mudanças em função dos suportes utilizados, as técnicas do cinema direto e suas consequências para a realização do documentário nos Ateliers Varan, dentre outros pontos chave.
Para o professor e um dos organizadores do evento, João de Lima, a importância do evento para a Paraíba é grande devido o nosso Estado ter uma grande produção cinematográfica voltada para o documentário, então nada mais justo do que debater isso em um ambiente tão propício.
Com nacionalidades diferentes, os especialistas que irão se reunir para debater a temática são conhecedores do universo cinematográfico e da tamanha força que o documentário pode ter entre a sociedade. Entre os nomes que formaram a mesa podemos destacar os franceses Chantal Roussel e Andre Van In, criadores do Ateliers Varan, os professores do Institut de recherche sur le cinéma et l’audiovisuel (Instituto de Pesquisa sobre o cinema e audiovisual) da Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris, Martin Goutte, Michel Marie e Roger Odin entre outros.
Em torno dessa discussão, o objetivo do evento é fazer um cinema de longa duração e que se preocupe com a verdadeira relação com as pessoas filmadas, numa ética de respeito por elas.
O professor João de Lima disse ainda que, mesmo sendo um evento internacional haverá tradução simultânea, ou seja, os alunos que não entenderem francês vão poder ficar por dentro da discussão. “Isso irá proporcionar uma maior interação entre alunos e o conteúdo explorado”, ressaltou o professor.
A experiência dos Ateliers Varan, que vêm se desenvolvendo há mais de 30 anos, nos leva a perguntar-nos sobre o lugar do cinema documentário no fluxo midiático do audiovisual contemporâneo. Virando as costas à rapidez dos noticiários televisivos ou ao culto do sensacional fundado no espetáculo.
Registrados em sua história os Ateliers Varan já conseguiram filmar, em situações difíceis, momentos chave de transformações políticas do mundo contemporâneo, como na Bolívia, na África do Sul, no Afeganistão, e vários outros países. Esses filmes tornaram-se testemunhos maiores de nossa história, como “A Comissão da Verdade”, filmado na África do Sul pós-apartheid, e aqueles filmados no Afeganistão e no Vietnã nos últimos 10 anos.
Sua fundação se deu em 1978, com a jovem República do Moçambique propondo à embaixada da França que convidasse cineastas para filmar as mudanças que ocorriam no País. Jean Rouch teve a ideia de em vez disso propor, porque não estabelecer ali um atelier de documentário para formar moçambicanos, a fim de que eles mesmos pudessem filmá-las.
A experiência foi tão bem sucedida que em 1981, Jean Rouch e seus companheiros fundam Varan, uma associação de realizadores e técnicos do cinema, com o objetivo de organizar ateliers de documentário pelo mundo.
Com isso, Varan é precursor de um cinema de campo, fundado nas técnicas do cinema direto, na longa duração, na relação continuada com os personagens, na abertura para a contextualização sociopolítica do tema filmado. Essa experiência, longe da velocidade dos jornais televisivos e do culto ao espetáculo, nos leva a pensar o lugar do documentário no fluxo midiático do audiovisual contemporâneo.