Por muitas vezes, várias mídias – como o cinema, o teatro, a música, os quadrinhos e a televisão – imaginaram como seriam diálogos entre grandes personalidades da humanidade, inclusive os contemporâneos que nunca estiveram juntos em uma sala de estar. Um exemplo é no palco do Teatro Paulo Pontes, localizado no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa, que será transformado no gabinete de Sigmund Freud (1856-1939) neste final de semana.
Dois intelectuais que influenciaram o pensamento científico-filosófico da sociedade do século 20 são os protagonistas de A Última Sessão de Freud, que será apresentada hoje e amanhã, às 20h, e no domingo (24), às 19h. Os ingressos estão disponíveis no site do Ingresso Digital (www.ingressodigital.com), com valores que custam entre R$ 50 e R$ 120.
É a segunda vinda da peça dirigida por Elias Andreato para o texto do premiado autor norte-americano Mark St. Germain, que tem base no livro Deus em Questão, do Dr. Armand M. Nicholi Jr. (1926-2017). No mesmo Paulo Pontes, as sessões da curtíssima temporada foram realizadas no começo de setembro do ano passado. Um ano depois, o público paraibano poderá presenciar algo que não aconteceu na vida real, além das coxias: o encontro entre o “pai da psicanálise”, vivido por Odilon Wagner, e o escritor, poeta e crítico literário C.S. Lewis (1898-1963), encarnado nos palcos pelo ator Claudio Fontana.
Na montagem, Sigmund Freud, que é um crítico implacável da crença religiosa, trava um diálogo com o escritor irlandês C.S. Lewis, um ex-ateu e influente defensor da fé alicerçada na razão, que também é autor de uma das mais famosas obras de fantasia: As Crônicas de Nárnia.
A conversa existencial (e ficcional) entre os dois – envolto em um clima de ironia e sarcasmo – se passa no gabinete de Freud, na Inglaterra. O bate-papo especulativo se expande para outros temas, como o sentido da vida, a natureza humana, o sexo e a morte. Inclusive, falando na finitude, a peça se passa no último dia da vida do médico austríaco Sigmund Freud, que tinha 83 anos.
“Esse espetáculo é muito interessante porque a gente resgata o teatro um pouco mais clássico. Quando chamo de clássico, eu me refiro a aspectos como o cenário, que é o gabinete de Freud reproduzido em detalhes e assinado por Fábio Namatame, e começar com a cortina fechada, o que é uma coisa mais rara e é o símbolo do teatro, além da direção brilhante”, ressaltou Odilon Wagner, quando foi entrevistado pelo Jornal A União, no ano passado. “O último dia de vida de Freud, o 3 de setembro de 1939, é muito emblemático, onde a Inglaterra declara guerra contra a Alemanha nazista, um dia histórico e importante. Enquanto os dois debatem no gabinete, que é lindo, existe uma guerra acontecendo lá fora e que tem um som eletrizante”, apontou o artista paulista.
Odilon Wagner ainda ressaltou a sua fascinação por encarnar essa personalidade tão importante para a História global. “Para um ator, ter a oportunidade de representar um personagem tão intenso e profundo, que fez parte de nossa história recente, é um privilégio. A construção desse personagem me fez vibrar desde a primeira leitura, foram meses estudando sua vida e personalidade, para tentar trazer um recorte mais fiel possível do último ano de vida desse grande gênio do século 20”, disse o ator.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 22 de setembro de 2023.