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Uma feira de imagens: Usina Energisa abrirá exposição póstuma do fotógrafo Roberto Coura

publicado: 04/05/2022 08h44, última modificação: 04/05/2022 08h44
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por Guilherme Cabral*

Noventa fotografias produzidas em 2007 integram a exposição – inédita na cidade de João Pessoa – em homenagem póstuma ao fotógrafo paraibano Roberto Coura (1954-2021): Cores da Feira, cujo vernissage acontecerá amanhã, a partir das 19h, na Usina Energisa, com o intuito de comemorar o Mês do Artista Visual.

A individual, que tem curadoria do artista e crítico Dyógenes Chaves, é uma realização da Secretaria Especial da Cultura/Ministério do Turismo (pela Lei Rouanet), com patrocínio da Energisa Paraíba, vai permanecer aberta à visitação do público, sempre de terça-feira a sábado, das 13h às 18h, até o próximo dia 5 de junho.

“Ele deixou um trabalho muito consistente, tanto do ponto de vista antropológico como da plasticidade”, disse Pedro Coura, referindo-se ao legado do pai. “Fiquei muito feliz e muito gratificado com o convite de Dyógenes Chaves para a realização dessa exposição. Meu pai havia deixado com Dyógenes todo o material dessa individual já pronto, incluindo a seleção das fotografias, para que acontecesse em João Pessoa. No entanto, veio a pandemia, esse projeto não pode acontecer e meu pai terminou falecendo em agosto do ano passado. Esse foi o último trabalho produzido por ele, que ainda chegou a expor na cidade de Campina Grande. Vai ser a mesma exposição realizada em Campina, sendo a única diferença a inserção, entre as imagens, por Dyógenes, de textos do livro que meu pai lançou sobre essa feira. Como curador, a ideia dele é convidar, toda semana, artistas visuais para ter um momento de conversa sobre a mostra e o trabalho do meu pai”, acrescentou Pedro.

Quem visitar a mostra individual terá a oportunidade de ver registros diversos, a exemplo de feirantes, dos frequentadores do local, os produtos à venda, transportadores de mercadorias, além da arquitetura do ambiente. “Essa exposição é uma revisitação, um resgate da Feira de Campina Grande, que meu pai já havia fotografado, só que em preto e branco, em 1978. É um trabalho que se caracteriza principalmente pela questão antropológica, mas também pela plasticidade”, explicou Pedro Coura.

Essas características presentes no foco de Roberto Coura podem no livro A Feira de Campina Grande 1978 e Cores da Feira 2014, publicação conjunta comemorativa dos 150 Anos de Campina Grande, através da Prefeitura Municipal e Seplan, realizada em 2014. “Essa obra é em dois volumes, que mostram a transformação sofrida não apenas pela Feira, com o passar do tempo, mas também na linguagem do meu pai como fotógrafo. Ele falava que a questão da cor fazia uma diferença enorme, por achar que a cor o levava a uma preocupação maior com a plasticidade da imagem. A capa de cada volume sobre a Feira de Campina Grande é ilustrada com foto de catadoras de feijão. Quando ele fez a exposição em Campina Grande, as filhas da catadora de feijão retratada nos anos 1970 procuraram meu pai para falar sobre a alegria e a satisfação de verem a imagem da mãe no livro”, explicou o filho do fotógrafo.

Tal pai, tal filho

Empresário no setor do comércio, Pedro Coura disse que também trabalha fotografando alimentos para restaurantes divulgarem no Instagram. Ele admitiu que foi influenciado pelo pai a gostar dessa arte. “Além de gostar muito, ele me ensinou, pois desde criança eu o acompanhava no estúdio, como assistente, e no laboratório, quando as fotos eram analógicas. Quando surgiu a fotografia digital, fui eu que o ensinei a trabalhar com o Photoshop. Ele era um fotógrafo perfeccionista e detalhista. No processo de edição, se percebesse que algo o incomodava na foto, se não conseguisse resolver no Photoshop, voltava ao local para fazer outra foto. Quando fizemos o último trabalho juntos morávamos em João Pessoa, que foi o livro Escritos e Poemas, lançado em 2012, em homenagem a minha avó, Maria do Carmo Barbosa Coura, reunindo textos poéticos dela e principalmente imagens do pôr do sol do acervo dele. Depois, ele foi morar em Campina Grande”, afirmou o filho.

 

No texto de apresentação da exposição que assina para a individual, Dyógenes Chaves registra que “a realização da mostra Cores da Feira era um desejo dele verbalizado num encontro na Usina Energisa, em fevereiro de 2020. Imediatamente agendamos a exposição para outubro, com o objetivo de homenagear sua cidade, Campina Grande, em seu aniversário. Mas as restrições impostas pela Covid-19 nos fez adiar o projeto”, justificou ele. “A mostra agora, além de homenagem a Campina Grande, é toda dedicada à memória e à produção de cinco décadas desse genial fotógrafo Roberto Coura. Além de tudo, para nós, seus amigos e admiradores, este ato se reveste de muito carinho e saudades”, complementou o Chaves no texto.

Na apresentação, o curador continuou: “Roberto Coura surgiu para a arte da fotografia em torno dos 20 anos. E essa era a média de idade dos artistas que se aventuravam nos salões de arte, tão em voga entre os anos 1970 e 80 pelo país afora. Simples. Coura, ainda muito jovem, já se debruçava exaustivamente no estudo da técnica fotográfica, já vislumbrava uma produção madura, de ‘gente grande’, notadamente na opção pelo registro documental e apaixonado acerca da cultura popular e da geografia humana de sua cidade natal, Campina Grande. Eram ‘relatos imagéticos, remetendo à fotografia socioantropológica’, como ele mesmo afirma. E vem desse seu período ‘dos vinte e poucos anos’ os ensaios fotográficos, hoje reconhecidos como seminais para a compreensão da recente história da fotografia paraibana: O Bairro da Cachoeira (1977), A Feira de Campina Grande (1978), Os Carnavais de Rua (1979-1980) e As Festas Populares de Rua (1980-1981)", escreveu, entre outros trechos do texto, Dyógenes Chaves.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 4 de maio de 2022