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Uma imersão no universo Armorial

publicado: 19/05/2023 15h06, última modificação: 19/05/2023 15h06
Em Campina Grande, o Jornal A União fez um passeio detalhado pela exposição que celebra o cinquentenário do movimento, criado pelo dramaturgo e escritor Ariano Suassuna
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Na mostra realizada no MAPP, o “Museu dos Três Pandeiros” (foto maior), até o dia 22 de agosto, o público é recepcionado pela Onça Caetana (abaixo), um dos personagens épicos da obra de Ariano Suassuna - Fotos: Fabiana Veloso
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Com mais de 200 peças, a exposição possui um leque que engloba música, teatro, artes visuais, literatura, culinária, folguedos e outras manifestações populares que representam o movimento
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por Giovannia Brito*

Uma imersão no universo do escritor, dramaturgo, professor e pintor Ariano Suassuna e ao movimento por ele idealizado, que nasceu com a incumbência de produzir uma arte com tradições e manifestações artístico-culturais populares do Nordeste e de outras regiões do país, mas, ao mesmo tempo, erudita e universal. Essa é a proposta da mostra Armorial 50, que acontece em Campina Grande, no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) até 20 de agosto. Além de uma exposição marcante, serão promovidos eventos paralelos, como encontros musicais e rodas de conversa, marcados para acontecer nos meses de julho e agosto, no Teatro Severino Cabral. Todos gratuitos.

Com mais de 200 peças, o público é recepcionado pela Onça Caetana, personagem épico da obra do escritor. De corpo amarelo, pequenas bolas vermelhas, asas imensas e com mais de quatro metros de comprimentos, ela foi confeccionada em isopor pelo bonequeiro mineiro Agnaldo Pinho, e está no espaço térreo do museu, convidando para a imersão nesse universo fantástico.

Aberta desde ontem, o lançamento da exposição contou com a presença do filho de Ariano, Manuel Dantas Suassuna. Feliz com a vinda da mostra para o Nordeste, ele esteve presente nas cidades que a receberam e se mostrou surpreso com a receptividade. “Percebi que o Armorial está sendo muito referendado, vejo que suas ideias continuam vivas. Por onde essa exposição passou, teve uma boa receptividade”.

Dispostas ao longo de três salas do MAPP, as peças vão surpreendendo os visitantes com a diversidade do movimento. Nessa mostra estão itens de coleções particulares e públicas, a exemplo das pertencentes ao Museu de Arte Moderna Aluízio Magalhães (Mamam), em Recife (PE), e as da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), uma coleção escolhida pelo próprio Ariano e de autoria de artistas que fizeram parte do início do movimento Armorial, ainda na fase experimental. Além de Suassuna, há também trabalhos de sua esposa, Zélia Suassuna, Francisco Brennand, Gilvan Samico, Aluísio Braga e Lourdes Magalhães.

Patrocinada pelo Ministério da Cultura e Petrobras, com idealização e coordenação da produtora Regina Rosa de Godoy, curadoria de Denise Mattar, consultoria de Manuel Dantas Suassuna e Carlos Newton Júnior, a mostra ainda não havia circulado pelo Nordeste, estando exposta somente nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília.

Ao entrar no “Museu dos Três Pandeiros”, popularmente como é conhecido o MAPP, o visitante vai ter acesso ao conjunto de obras dividido por fases. Na primeira galeria estão as peças da fase experimental, com obras dos artistas supracitados, mas com um espaço especial dedicado a Gilvan Samico, e não por acaso: ele é considerado o mais “armorial” de todos, tendo mergulhado com profundidade nas ideias de Suassuna.

Logo após estão as obras da segunda fase do movimento, com iluminogravuras de Ariano, uma escrita emblemática. Nessa área, ele conseguiu manter interação, de forma mais profunda, com Ariano – o artista plástico, sempre mantendo os princípios da pintura e da gravura armoriais.

Na segunda galeria estão reunidos dois módulos: Ariano Suassuna vida e obra, e Armorial Hoje e Sempre. No primeiro, pode-se encontrar uma cronologia, com fotos raras registradas na sua infância, do seu casamento com Zélia, em apresentação com o Quinteto Armorial, além de manuscritos, livros e aulas-espetáculos.

O segundo módulo está a terceira fase do Armorial, chamado de Arraial, com a apresentação de vídeos das famosas aulas-espetáculos, figurinos e fotos do Grial, criado pelo escritor em parceria com a dançarina Maria Paula da Costa Rego, que estará em Campina Grande para uma das apresentações que ocorrerá durante o período expositivo.

Também nessa galeria, os visitantes poderão conhecer um pouco mais “Ilumiaras”, conceito criado para definir locais magnetizados. Suassuna acreditava que eles emanavam uma energia criadora, sendo ainda espaços propícios de celebração da cultura brasileira e de construção intelectual. Nesse rol estão a Ilumiara Zumbi, em Olinda, como ponto de encontro do Maracatu Piaba de Ouro; a Coroada, sua residência no Recife; a Ilumiara Pedra do Reino, em São José do Belmonte (PE), além da Pedra do Ingá e a Fazenda Acauhan, ambas na Paraíba, sendo a última, lugar onde viveu quando criança, na Zona Rural de Taperoá.

Na terceira galeria, o público terá contato com o módulo de referenciais. “Eu trairia Ariano se não mostrasse de onde saíram as ideias dele, os originais. Temos aqui o cavalo-marinho, o reisado, o maracatu, referências dele dentro das festas populares. Além de, naturalmente, o cordel, que para ele era a arte mais importante. Ele dizia que o cordel reunia tudo, literatura, o romanceiro popular do Nordeste; a música, por conta dos cantadores; a dança, porque os dançarinos saiam atrás dos cantadores; e a xilogravura das capas dos cordéis”, explicou Godoy.

O público poderá ainda ser surpreendido ao se deparar com o queijo de cabra. A iguaria chegou a ser produzida por Suassuna, em Taperoá. “Ariano adorava esse queijo e teve a ideia de fazê-lo. Ele ainda tentou buscar junto ao governo o reconhecimento do produto, colocando o selo que garantisse a venda. Como não conseguiu, ele, com sua genialidade, deixou um espaço na embalagem, confeccionada em papelão, ironizando”, lembrou Regina Godoy. Na caixa do queijo, está escrito, em meio ao mapa da Paraíba: “Este espaço está reservado para o serviço de inspeção, quando o Governo reconhecer o queijo artesanal brasileiro”.

Armorial 50 acontece de terça a sexta-feira, das 10h às 20h; e sábados e domingos, das 14h às 20h. A entrada é gratuita e os ingressos para controle de lotação podem ser adquiridos por meio do site Sympla (www.sympla.com.br). Os bilhetes também podem ser obtidos na portaria do museu.

“Teremos de 23 a 30 de julho a Mostra Petrobrás de Música com várias atrações. Uma já confirmada é o Quinteto da Paraíba, mas ainda não temos a data exata. Teremos também uma série de palestras, de 9 a 13 de agosto, que acontecerá no Teatro Severino Cabral, sob a curadoria de Carlos Milton Jr.”, informou Regina Godoy.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 19 de maio de 2023.