Grande Sertão: Veredas, escrito por João Guimarães Rosa e publicado em 1956, é uma obra-prima da literatura brasileira, desafiador por sua linguagem tanto quanto marcante pela surpresa envolvendo a relação entre os dois jagunços centrais de sua trama: Riobaldo e Diadorim. Surpreendente também pretende ser a nova adaptação do livro para o cinema: o filme Grande Sertão, dirigido por Guel Arraes, que traz a trama para um cenário de violência urbana, envolvendo facções criminosas e a polícia em uma comunidade pobre de uma cidade.
Atual
O diretor ponderou que a guerra dos jagunços é basicamente a mesma no Sertão de algum ponto do século 20 e nas comunidades periféricas de hoje: o poder central não chega
“Grande Sertão”, no caso, passa a ser o nome da comunidade. Caio Blat interpreta Riobaldo, que já foi papel de Mauricio do Valle e de Tony Ramos em adaptações mais literais da obra (veja o quadro nesta página). Aqui, ele é um professor de escola pública que tem em Diadorim um amigo de infância e que o reencontra no contexto da guerrilha urbana que está sendo travada no local. Com o andar dos acontecimentos, ele acaba se envolvendo na batalha acompanhando o amigo, por quem tem sentimentos conflitantes.
Diadorim, agora Luísa Arraes, já esteve na pele de Sônia Clara, na versão para cinema de 1965, e de Bruna Lombardi na memorável minissérie da Globo de 1985.
Rodrigo Lombardi, Luís Miranda e Eduardo Sterblicht comparecem no elenco com personagens de visual elaborado, quase operísticos. Carregam, a princípío, o ar teatral das obras de Guel Arraes para ressaltar a selvageria reinante. O teatro sempre se fez presente na dramaturgia do diretor, tanto no teatro quanto na televisão: de Armação Ilimitada e TV Pirata a O Auto da Compadecida e Lisbela e o Prisioneiro.
Parceria
Algumas das produções dirigidas por Guel tiveram a parceria de Jorge Furtado no roteiro (a série A Comédia da Vida Privada, na TV, os filmes Lisvbela e o Prisioneiro e Romance, no cinema). Aqui, eles estão juntos de novo, o pernambucano e o gaúcho, na autoria da adaptação de Grande Sertão.
O diretor contou à Folha de S. Paulo que notou que a guerra dos jagunços é basicamente a mesma no Sertão de algum ponto do século 20 e nas comunidades periféricas de hoje: uma luta travada onde o poder central não chega. A ideia para este direcionamento veio ainda em 2019, quando Guel foi convidado para o projeto por Heitor Dhalia, que adquiriu os direitos da adaptação, mas a pandemia em 2020 postergou a produção do filme, orçado em R$ 17 milhões.
Além da parceria recorrente entre Guel Arraes e Jorge Furtado, o filme é uma produção em família: Guel é pai de Luísa e ela vive com Caio Blat. Luísa e Blat também viveram Grande Sertão: Veredas no teatro, entre 2017 e 2019, em montagem de Bia Lessa. Porém, embora ele fosse Riobaldo na peça, ela não era Diadorim.
É curioso notar que esta é a primeira de duas adaptações de iconografias do interior do Semiárido que Guel Arraes este ano: Grande Sertão agora e O Auto da Compadecida 2 em dezembro, em que retoma os personagens de Ariano Suassuna, numa visão, em comparação, bem mais tradicional.
Através do link, acesse o trailer oficial de ‘Grande Sertão’
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 06 de junho de 2024.