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Umberto Eco deixa legado em estudos da filosofia da arte, na comunicação e na literatura

publicado: 20/02/2016 11h52, última modificação: 20/02/2016 11h52
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Escritor, ensaísta, linguista e filósofo, autor de títulos imortais da literatura, faleceu no final da noite, em seu domicílio, aos 84 anos de idade - Foto: Andrea Barbiroli/Estadão Conteúdo

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Andrei Netto
- Correspondente da Agência Estado

A Itália, a Europa e o mundo perderam na noite desta sexta-feira, 19, uma de suas maiores referências culturais, artísticas e acadêmicas. Umberto Eco, escritor, ensaísta, linguista e filósofo, autor de títulos imortais da literatura, como O Nome da Rosa e O Pêndulo de Foucault, e de ensaios filosóficos como Obra Aberta, Apocalípticos e Integrados e História da Beleza, faleceu no final da noite, em seu domicílio, aos 84 anos de idade. Pilar internacional de toda uma disciplina, a Semiologia, que marcou os estudos de Comunicação no mundo, Eco também deixa um imenso e singular legado sobre estudos de estética.

Eco foi antes de mais nada um intelectual brilhante e reconhecido por sua obra sobre a estética medieval e sobre a filosofia da arte. Nascido em Alexandria, nas imediações de Turin, em 1932, diplomou-se em Filosofia em 1954 na Universidade de Turin. Sua formação diz muito: discípulo do grande filósofo antifascista Luigi Pareyson, defendeu uma tese de fim de estudos sobre Thomas de Aquino, que seria publicado dois anos mais tarde sobre o nome O Problema Estético em Tomas de Aquino. 

Em pouco tempo, seu brilhantismo o tornaria reconhecido em todo o mundo. Depois de publicar O Desenvolvimento da Estética Medieval, em 1959, Eco mudou os rumos da crítica da arte no Século 20 com dois textos fundamentais: Obra Aberta, de 1962, e Apocalípticos e Integrados, de 1964.

Esses livros, somados a A Definição da Arte e a A Estrutura Ausente, são referências na compreensão da história da estética, sobretudo no que diz respeito às relações entre a filosofia da arte, a linguística e a comunicação de massa na segunda metade do século passado. Para Eco, a estética não pode ser dissociada em diferentes ramos - não há uma "estética da pintura", ou uma "estética do cinema". Em Obra Aberta, o autor ajudou a romper com a ideia de que um objeto artístico é algo acabado, com uma interpretação única e fechada ditada pelo artista. Essa crítica, de "um novo modo de entender a relação com a obra e sua fruição por parte do público", seria compartilhada então por nomes como o poeta concretista Haroldo de Campos.

Ao longo dos anos 1960, Eco se transformaria em uma referência mundial na Teoria da Comunicação ao se integrar à chamada Escola Sociológica Europeia, da qual faziam parte nomes como Edgar Morin, Jean Baudrillard ou Roland Barthes. Esse grupo foi marcado por uma visão menos negativa sobre os meios de comunicação de massa, dissociando-se das críticas funcionalistas e da Escola de Frankfurt.

Tido como uma autoridade nos meios acadêmicos, Eco se transformaria, ele próprio, em um exemplo de fenômeno na cultura de massa com a publicação de um best seller mundial. Em O Nome da Rosa, de 1980, fez convergir em uma história de ficção várias de suas áreas de interesse: a história, a filosofia, a estética medieval e a semiótica. Sucesso extraordinário de público e crítica, com mais de 17 milhões de livros vendidos, o thriller policial medieval venceu, entre outros, o Prêmio Médicis de Melhor Romance estrangeiro em 1982. Em 1986, seu livro foi adaptado para o cinema por Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery e Christian Slater.

O toque de ironia: sua carreira tardia de escritor de sucesso só teve início graças à encomenda feita por uma editora que desejava lançar livros policiais curtos e contemporâneos escritos por "não-romancistas". Ao entregar o livro, Eco apresentou um romance de suspense de mais de 500 páginas ambientado na Idade Média.

A carreira de ficcionista continuou em 1988 com O Pêndulo de Foucault e a seguir em 1994, com A Ilha do Dia Anterior, romances cuja publicação foi esperada em todo o mundo. Em 2015, em seu último romance, Número Zero, que se passa em 1992, Eco revê a história de seu país a partir do fim da 2ª Guerra Mundial, destilando sua fina ironia sobre temas como a máfia, a corrupção e, claro, o jornalismo contemporâneo, alvo de crítica mordaz. Cínico, seu personagem afirma no curso de uma reunião de redação: "Seria conveniente, para o prazer de nosso editor, que nós encontrássemos um meio de lançar sombras de suspeitas sobre esse juiz intrometido. Saiba que hoje, para responder a uma acusação, não é necessário provar o contrário, basta deslegitimar o acusador".

Mesmo crítico, Eco jamais abandonou sua paixão pela informação, pelo jornalismo e pela comunicação - ele havia começado, em 1955, como assistente em programas culturais da rede de televisão RAI. Ao longo de sua vida, foi articulista assíduo e leitor inveterado da imprensa italiana e internacional. Eco se dizia fiel à ideia de Hegel de que jornais são "a reza cotidiana do homem moderno". 

Até por admirá-la, o autor lamentava a recente pulverização da informação nas novas tecnologias e, sobretudo, a superficialidade de alguns veículos de mídia.

"A imprensa exigente deve aprofundar a atualidade, abrir espaço às ideias", pregou em entrevista ao jornal Le Monde em maio passado, mostrando absoluta clareza de raciocínio. Eco sofria de câncer e faleceu às 22h30 de sexta-feira, em sua casa, segundo a família confirmou ao jornal La Repubblica.

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