Autor infantil, editor de jornal, cartazista de propaganda, de filmes, de campanhas educativas, roteirista e desenhista de histórias em quadrinhos, muralista, cartunista que abordava política, comportamento e tudo quanto era tema. Ziraldo era, antes de qualquer coisa, um artista gráfico, que combinava um estilo muito pessoal e facilmente identificável e uma versatilidade impressionante.
Mineiro de Caratinga, Ziraldo Alves Pinto já desenhava desde criança. Chegou ao Rio de Janeiro nos anos 1950 e desenhou de tudo. “Folhinha, caixa de fósforo, anúncio, cartuns, capas de discos e de livros”, escreve o jornalista Ruy Castro - outro “carioca de Caratinga” - no livro Ela É Carioca - Uma Enciclopédia de Ipanema.
Mas já em 1960 ele marcou a HQ no Brasil, com Pererê, pela editora O Cruzeiro, o primeiro gibi colorido com conteúdo totalmente brasileiro. E desenhou pelas duas décadas seguintes uma série de cartazes de filme brasileiros, de filmes sérios do cinema novo, como Os Fuzis a comédias cheias de picardia, como Como É Boa a Nossa Empregada.
Marcou a arte do traço no Brasil a bordo de O Pasquim, do qual foi colaborador desde o começo, em 1969, e do qual chegou a ser proprietário. Também em 1969, veio Flicts, seu primeiro livro infantil, que abriu caminho para o seu maior sucesso: O Menino Maluquinho, de 1980.
Furacão
O livro já conta com 129 edições e quatro milhões de exemplares vendidos. Virou dois filmes para cinema, série de TV, peça de teatro, estampou todo tipo de produto e foi até ópera. E virou também gibi, a partir de 1989, com mais de 100 edições publicadas por editoras como Abril e Globo.
Nesse momento, Ziraldo já tinha uma equipe para ajudá-lo, da qual fez parte a desenhista Thaís Linhares. “Eu conheci o Ziraldo na escola. Ele fazia visitas nas escolas com frequência, onde conversava com as crianças. Assim que eu tive a oportunidade eu fui mostrar meus desenhos para ele”, conta ela. “Aí a gente ficou conversando e eu falei que meu sonho era ser quadrinista na França. Aí ele fala: ‘Ah, você vai sim, vai ser maravilhoso, tem tudo a ver contigo, você tem que ir’”.
Alguns anos depois, Thais integrou, em 1990, a equipe do gibi O Menino Maluquinho. “Quando o Ziraldo entrava no estúdio era um furacão entrando, só para começar”, lembra. “Tipo, qualquer coisa que a gente tivesse feito ele fazia 30 vezes melhor (risos). E ele sempre com aquela energia toda. Ele era muito uma inspiração bacana, uma energia bacana, e politicamente atuante. Até coisas pequenas ele comentava. E desbocado pra caramba. Falava 20 palavrões por segundo (risos)”.
Aposta em Deodato
O paraibano Mike Deodato conta, emocionado, sua relação com Ziraldo. O mineiro tem participação fundamental no início da carreira do desenhista que há muitos anos trabalha para o mercado americano, desenhando os maiores super-heróis do mundo.
Depois de enviar para Ziraldo, então presidente da Funarte, um exemplar do álbum 3.000 Anos Depois, Deodato foi surpreendido com o convite para integrar a delegação de quadrinistas brasileiros que iria ao festival de Angoulême, o principal do mundo no gênero.
“Imagine, Ziraldo pegou um cara da Paraíba completamente desconhecido e me botou no meio de um monte de gênio!”, recorda. Na delegação estavam, entre outros, Mauricio de Sousa, Luís Gê, os irmãos Chico e Paulo Caruso, Jô Oliveira, Laerte e Angeli. “Depois eu soube que ele colocou Jô Oliveira pra tomar conta de mim, pra eu não fazer muita besteira”.
No retorno da França, Deodato ainda ficou alguns dias “sob as asas” de Ziraldo, enquanto não pegava o voo de volta a João Pessoa. “Ele acreditou em mim e isso, vindo de Ziraldo, meu ídolo, me deu fôlego pra prosseguir. O maior presente que ele me deu não foi um contrato fixo, foi a confiança que ele me deu. Eu sempre fui muito confiante, mas o apoio dele me deu muito mais”, diz. “Ele disse que eu seria o maior desenhista do mundo (risos)”.
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*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 09 de abril de 2024.