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Valéria Antunes realiza primeira exposição individual de pinturas e objetos

publicado: 21/07/2016 00h05, última modificação: 21/07/2016 05h49
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A artista visual traz em sua obra influências da infância, contatos com a natureza e a observação dos detalhes imperceptíveis para muitos - Foto: Divulgação

tags: Valéria Antunes , Centro Cultural de São Francisco


William Costa

A artista plástica e arquiteta Valéria Antunes promove a sua primeira exposição individual de pinturas e objetos (intervenções em botelhas de cerâmica). O vernissage de “Passeio por Sutilezas”, título da mostra, acontece hoje, às 19h30, no Centro Cultural de São Francisco, em João Pessoa. Os trabalhos estão divididos em quatro grupos temáticos, a saber: “Pingos de Chuva”, “Garimpo”, “Bambus” e “Flores Tropicais”. A curadoria é assinada pelo marchand e consultor de marketing Nelson Rossiter.

“Deus está nos detalhes”. A frase, atribuída ao físico teórico alemão Albert Einstein (teoria da relatividade geral, mecânica quântica, física moderna), suscita reflexões em quase todos os campos do conhecimento, porém, com mais propriedade nos domínios da ciência, da arte, da filosofia e da religião. Na pintura de Valéria, portanto, a essência também habita os pormenores, porque são as sutilezas - da vida, da arte, da natureza – que motivam a pesquisa estética e dão norte e sentido existencial à artista.
 
Há quem dispense os aspectos biográficos na avaliação da obra do artista. No caso de Valéria, é improvável que se chegue a bom resultado, na análise das coisas íntimas relacionadas ao seu trabalho, negligenciando, por exemplo, a infância, que transcorreu no interior goiano, sendo assim, sob as insígnias divinas e sociológicas inscritas na cultura, na geografia, na fauna e na flora do cerrado. E, posteriormente, a influência do meio brasiliense, onde passou a viver, antes de vir morar em João Pessoa.

Filha de artesã, Valéria conviveu com um processo caseiro de produção artesanal que incluía, por exemplo, plantar, colher, tingir e fiar algodão, como também tosar animais e colorir a lã. “Desde a infância eu pude experimentar o contato com a arte, haja vista que minhas brincadeiras todas eram conduzidas com esses materiais, que me permitiam criar, moldar, desenvolver qualquer coisa que pudesse, hoje ainda, ter alguma influência na minha história, na minha vida”, comenta a artista, em entrevista.

O princípio lúdico da arte manifestava-se, em Valéria, na preferência pela pintura, utilizando, como suportes, para o que, naquele tempo, tinha a aparência de brincadeira, elementos naturais, como pedras e cascas de árvores. “Desenvolvi minha infância e adolescência voltada sempre para esse lado artístico bastante latente”, ressalta. A fase de aperfeiçoamento técnico e conceitual teria início com a mudança para a capital federal e o ingresso na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB).

Com o amálgama da informação empírica da época infantojuvenil autodidata com o conhecimento acadêmico especializado do ciclo adulto, Valéria apurou os sentidos e sentimentos em relação à arte,desenvolvendo técnicas que modelaram sua identidade artística. “Passei por várias fases, do desenho a lápis, grafite ou carvão às tintas, começando pela aquarela (muito pouco) e óleo (mais tempo), até chegar à acrílica, por meio da qual faço um misto de pintura e escultura, por gostar de trabalhar muito com texturas”, explica.

Hoje, as telas da artista são moldadas, ou mesmo esculpidas – ela também diz assim -, devido à grande quantidade de tinta utilizada, ao ponto de funcionar como uma espécie de argamassa, de tonalidades claras, neutras ou mais intensas. O resultado são composições abstratas, como também figurativas. “Não um figurativo muito definido – esclarece Valéria -, mas tendendo ao abstrato; um figurativo menos romântico, com um pouco mais de personalidade, algo mais firme”.

Valéria não nega a inspiração. Muito pelo contrário. A artista revela que a sua fonte maior de inspiração são os detalhes do cotidiano. As sutilezas de cada momento da sua vida. Um fragmento da existência - física ou espiritual - que, normalmente, a maioria das pessoas não percebe, é colhido pela alma ou pelos olhos sensíveis de Valéria, que o transpõe, como motivo, para as telas. “Essa ampliação, esse zoom - informa -, pode ser ou não intencional, do mesmo modo que, às vezes, quanto menor o detalhe, maior a tela”.

Os detalhes a que Valéria se refere podem ser o reflexo do sol nos pingos da chuva – para lembrar um dos núcleos temáticos de “Passeio por Sutilezas”, a textura da casca de uma árvore, a onda do mar, o céu, enfim, as cores, as formas e os movimentos da natureza. “São flashes de viagens que eu procuro, realmente, registrar na minha memória, para, depois, eternizar esses momentos nas minhas telas, sempre procurando passar a mesma emoção que sinto, traduzindo-a, no meu trabalho, com a maior intensidade”, declara.

A artista confessa que a primeira exposição individual da sua jornada criativa tem um significado muito especial na sua vida. Os trabalhos reunidos dizem muito da sua história. E resumem suas propostas estéticas e afetivas. “Estou procurando contar, através desse ‘Passeio por Sutilezas’, um pouco dessa minha história de observadora, expor a minha sensibilidade, a minha personalidade, que transportei para as telas de uma maneira honesta, às vezes divertida, às vezes um pouco mais intensa”, sublinha.