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Versão pop para Chico Buarque

publicado: 08/11/2023 08h52, última modificação: 08/11/2023 08h52
Amanhã, em Campina Grande, dueto Nu’zs apresentará um espetáculo cênico-musical com o repertório do artista carioca polido pela música eletrônica, rock e psicodelia
Chico Buarque - Um Outro Olhar Crédito Luiz Alvez (1).jpg

Sobem ao palco do Teatro Municipal Severino Cabral o arranjador e guitarrista paulista Max Silva (E) e a atriz e cantora mineira Marcê Porena (D) - Foto: Luiz Alvez/Divulgação

por Joel Cavalcanti*

Com mais de 500 obras registradas, Chico Buarque é um dos artistas mais regravados do país, com quase mil músicas reinterpretadas por outras vozes e em diferentes arranjos. Uma versão mais pop com riffs de guitarra e sintetizadores das canções que fazem parte do imaginário coletivo dos brasileiros é a proposta do espetáculo cênico-musical Chico Buarque – Um outro olhar. Apresentado pelo duo Nu’zs, formado pela atriz e cantora mineira Marcê Porena, e Max Silva, arranjador e guitarrista paulista, o show chega amanhã a Campina Grande em sessão única no Teatro Municipal Severino Cabral, a partir das 20h. Os ingressos podem ser adquiridos pelo Sympla e custam entre R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia).

São 20 canções com uma base na música eletrônica, no rock e na psicodelia que incorporam novos elementos até então pouco usados em gravações da obra do artista carioca. Um dos elementos que mais sobressaem no show com a carga teatral de Marcê Porena é a forma com qual ela redireciona o texto de Chico Buarque. “Não é um espetáculo de teatro, ele não tem um texto dramatúrgico. É um show de música, mas a forma como a Marcê usa as palavras na poesia do Chico, ela coloca naturalmente a dramaticidade ao lado da atuação. Isso proporciona a ela uma outra subjetividade em relação à interpretação. É o nosso olhar dentro da obra do Chico”, classifica Max Silva, que assina também a direção musical.

Peguei as músicas dele e escrevi nota por nota da melodia. E fui ver quais melodias se enquadrariam dentro de um contexto mais pop - Max Silva

Para a criação dos arranjos, o músico precisou reconstruir toda a orquestração das composições de Chico Buarque, readequando as harmonias e substituindo por exemplo o violão por timbres de guitarras pouco usuais na obra buarqueana. As melodias, porém, estão preservadas. “Respeitamos muito a obra do Chico e não iríamos mexer numa coisa que ficasse completamente fora de contexto. Peguei as músicas dele e escrevi nota por nota da melodia. E fui ver quais melodias se enquadrariam dentro de um contexto mais pop. Simplifiquei alguns caminhos de harmonia, inverti os baixos e essa mudança traz um caminho harmônico diferente. Depois de tudo isso, a gente foi pesquisar timbres, que timbres seriam interessantes, percebendo quais loopings se enquadram”, detalha ele.

O espetáculo é dividido em dois atos. O primeiro se destaca justamente por essa linguagem mais pop e eletrônica, e é marcado pela interpretação de canções como ‘O meu amor’ e ‘Folhetim’. “O show começa para cima. Pode-se dizer que a gente divide o primeiro ato como sendo o do amor. E no segundo ato é onde a gente se envolve mais com o público, tira o contexto eletrônico e trabalha muito a parte de guitarra e voz, também muitas coisas cantadas à capela também”, descreve Silva. É neste segundo ato que estão canções mais políticas e sociais do repertório de Chico, mas que ainda assim são canções bem intimistas, como ‘As Vitrines’ e ‘Cálice’. Compõem ainda o espetáculo sucessos como ‘Tatuagem’, do álbum Calabar, ‘Sem Açúcar’, do disco Chico e Bethânia, além de ‘Sob medida’ e ‘Olhos nos olhos’.

Optando por explorar a tecnologia gravando todos os instrumentos, de baterias a sintetizadores, suprimindo, assim, a necessidade de banda ao vivo, algumas músicas se mostraram especialmente desafiantes para a dupla. Um exemplo disso é Geni e o Zepelim, que o Nu’zs lançou há três semanas nas plataformas de streaming em formato de single. “Ela já é uma música complexa, porque ela tem seis minutos e pouco. Então ali ela tem mudança de fórmula de compasso, saindo de um 6x8 e vai para um 3x4. Ela tem mudança de andamento, tem toda essa sofisticação nesse quesito. Muitas coisas eu reduzi, muitas outras eu procurei outros caminhos e a intenção era dar uma sonoridade realmente diferente. Não foi de um dia para a noite, não. ‘Geni e o Zepelim’ demorou seis meses para ficar pronto”, explica o músico sobre seu processo de tornar os arranjos minimalistas.

Para a formação do repertório que o duo desenvolve desde 2018, Marcê Porena e Max Silva decidiram apostar na memória afetiva de ambos, por isso a predominância de canções da década de 1970. Todo o processo de reinterpretação dessas músicas foi devidamente aprovado pela editora responsável pela gerência da obra de Chico Buarque. “A relação nossa com ele é excelente. A gente tem um contato direto com a assessoria pessoal do Chico. A gente infelizmente ainda não o teve na platéia, não tivemos esse privilégio de ele assistir, mas ele com certeza está por dentro de tudo, vê tudo. Tudo passa pelo crivo dele”, garante Max Silva.

Chico Buarque - Um Outro Olhar Crédito Leo Aversa (2).jpg
Foto: Luiz Alvez/Divulgação

Na primeira vez que o dueto Nu’zs chega a Campina Grande, o público da cidade ganha uma oportunidade de perceber a genialidade de Chico Buarque através de outras sensibilidades e novas subjetividades. “Existe o ganho de você refletir sobre algumas mensagens do autor que não foram tão entendidas, proporcionando ao público uma outra sensação. O mais importante, na verdade, que o público vai receber da gente é o amor. A gente interpreta as canções com muito amor. Queremos levar um pouquinho de humanidade também através da obra dele, que é uma obra amorosa, uma obra sensual, uma obra séria, uma obra que faz as pessoas pensarem, refletirem, até mesmo sobre o comportamento delas, porque é uma música que coloca a gente numa posição de refletir. O público pode receber e a gente está indo de coração aberto, espero que a gente toque o coração de Campina Grande também”, conclui Max Silva.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 08 de novembro de 2023.