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Versos da alegria colhidos na cesta

publicado: 24/11/2023 08h56, última modificação: 24/11/2023 08h56
Hoje, em João Pessoa, psicanalista e coautor maranhense William Amorim lança a coletânea poética ‘Balaio de Felicidades’
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Murray: “As grandes felicidades acontecem poucas vezes na vida. Mas as pequenas esvoaçam todo o tempo, basta se entregar” - Foto: Hetzel/Divulgação
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São 19 poemas adornados pelas artes da ilustradora Christiane Mello, fazendo um jogo de palavras que dão vazão à perspectiva infantil da descoberta do que a criança entende por felicidade - Imagem: Estrela Cultural/Divulgação
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Imagem: Estrela Cultural/Divulgação
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Amorim: “Queria associar algo tão regional como o balaio, tão nordestino, com algo tão universal como a felicidade” - Foto: Edgar Rocha/Divulgação
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por Joel Cavalcanti*

Tudo partiu de um balaio. De um utensílio artesanal próprio para carregar toda sorte de produtos é que surgem poemas produzidos a quatro mãos para serem acessíveis a todas as crianças. “Pensamos em colocar as felicidadezinhas neste balaio, transformando o espaço do poema em algo concreto”, afirma a escritora Roseana Murray. “Queria associar algo tão regional como o balaio, tão nordestino, com algo tão universal como a felicidade”, reforça William Amorim. Eles são autores de Balaio de Felicidades (Editora Estrela Cultural, 48 páginas, R$ 50), livro que será lançado hoje, às 18h30, no Mun Café, no bairro de Miramar, em João Pessoa, com a presença de Amorim.

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Imagem: Estrela Cultural/Divulgação

Com 19 poemas, a dupla prepara as tramas em um jogo de palavras que dão vazão à perspectiva infantil da descoberta do que ela entende por felicidade, e que muitas vezes se acha despercebida por quem se apartou do olhar da criança. “A felicidade é também da ordem da invenção, do um a um e não um ideal imposto com um modelo prêt-à-porter. Cabe a cada um descobrir o que lhe faz feliz e ir colocando essas felicidadezinhas em seu ‘balaio-vida’”, exemplifica William Amorim.

Esse é o terceiro livro que os poetas publicam em conjunto. Uma parceria que exige intimidade e confiança para obter a unidade que o projeto demanda. “Nunca experimentei fazer com outro escritor, e nem sei se conseguiria. Escrever com Roseana é como dançar um movimento singular. A poesia é música, e a escrita é essa dança que nos enlaça e movimenta, nosso ‘dois pra lá, dois pra cá’”, conta Amorim. A inspiração para a produção dos poemas presentes no livro veio do próprio conceito que os dois possuem sobre felicidade, que é abordada sob variadas formas.

“Basta ter os olhos bem abertos e toda a sensibilidade aguçada para viver um momento de felicidade, já que não existe felicidade contínua. As grandes felicidades acontecem poucas vezes na vida. Mas as pequenas esvoaçam todo o tempo, basta se entregar”, acredita Murray. “A felicidade é sempre uma contingência. Não tem essência. É provisória. Não se compra e nem se conquista. É um estado que exige de nós coragem para dizer não à tão premente obrigação de ser feliz e de como ser feliz”, emenda Amorim.

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Amorim: “Queria associar algo tão regional como o balaio, tão nordestino, com algo tão universal como a felicidade” - Foto: Edgar Rocha/Divulgação

William Amorim é também psicanalista e professor radicado em São Luís, no Maranhão. Já Roseana Murray é carioca e já produziu uma centena de livros em mais de 40 anos, voltados principalmente para a literatura infantojuvenil. Mesmo com toda experiência de uma carreira dedicada à produção literária, Balaio de Felicidades também representou desafios e uma oportunidade para os dois. “O desafio de qualquer poeta para um leitor de qualquer idade é tocar naquele lugar exato e inexato das emoções. Para isso, o poeta conta com as palavras e seus múltiplos significados, musicalidade, símbolos, metáforas. A poesia é considerada um gênero difícil e as crianças discordam: elas amam. Os jovens precisam ler poesia para dar conta do difícil ato da metamorfose, e os adultos que ainda não foram sugados pela vertigem da vida, também gostam de poesia”, explica Murray.

“Não escrevo para crianças ou adolescentes. Mas para a infância e a adolescência recalcadas em mim. Talvez seja isso, aliado evidentemente à arte poética, que faça reverberar nos leitores, independentemente da idade, a magia e a surpresa da poesia. As crianças estão muito mais próximas da poesia e da compreensão dela do que adolescentes e adultos que podem. Ir se tornando, com o passar da vida, menos poéticos e mais narrativos”, pontua Amorim, que emenda: “Escrever literatura é sempre um ato inédito, por mais que se tenha escrito a vida inteira. Não há nenhuma garantia em escrever e há sempre um não sabido que me habitava e se revela à minha revelia, um estranho familiar”.

Todas essas ideias tão próprias dos autores foram transformadas em imagens abstratas que colorem em aquarelas todas as páginas do livro pela ilustradora Christiane Mello. “O resultado final é belíssimo em cada página do livro. Nunca me envolvo pessoalmente com o trabalho do ilustrador”, aprova a escritora carioca.

“A experiência tem nos mostrado que a boa literatura não tem idade específica. Cada leitor poderá encontrar sua chave para adentrar a obra a partir de seu repertório simbólico. Professores, quando leitores, podem ser exímios mediadores da obra para seus alunos, quer do maternal, quer da universidade”, conclui William Amorim.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de novembro de 2023.