Em O Espaço Infinito, a viagem mais longa e mais complexa que a astrofísica Nina faz é para dentro de si mesma, na tentativa de se recuperar de um surto psicótico. Cartaz deste mês no Cine Bangüê do Espaço Cultural, em João Pessoa, essa ficção é o longa-metragem de estreia do cineasta brasiliense Leo Bello. O filme terá uma sessão especial hoje, a partir das 19h, com participação da atriz protagonista, Gabrielle Lopes, e do produtor Alisson Machado; o bate-papo deles com o público será mediado pelo editor de Cultura de A União, Renato Félix. Os ingressos, a partir de R$ 5, podem ser adquiridos presencialmente, na bilheteria do Bangüê.
Gabrielle nasceu em Brasília e atua desde os 14 anos. Ela soma participações em filmes como Big Jato, de Cláudio Assis, e Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky; também fez parte do elenco de séries de TV como Sessão de Terapia e Carcereiros. O convite para O Espaço Infinito partiu do produtor Alisson, após outra experiência que tiveram no cinema. “Depois que conversei com o diretor sobre a proposta, ficou até difícil de dizer ‘vou pensar’. Achei naquele momento e continuo achando que este é um filme supernecessário. Eu fiquei muito empolgada, mesmo ciente dos riscos de se interpretar uma mulher à beira do abismo”, recorda.
Gabrielle detalha que, aprofundando-se no perfil profissional de sua personagem, leu muitos textos indicados pelo diretor e que teve aulas com o professor Ivan Soares Ferreira, então chefe do Departamento de Física da Universidade de Brasília (UnB). Mergulhando também na psique de Nina, ela fez laboratório em uma clínica particular de atenção à saúde mental. “A cada descoberta, um novo mundo se iniciava para mim. Ter contato com pessoas que estavam em sofrimento psíquico ajudou a derrubar os preconceitos que eu tinha. Trabalhamos todas as camadas que conseguimos, com muito respeito”, explica.
O ESPAÇO INFINITO
- Brasil, 2024. Dir.: Leo Bello. Elenco: Gabrielle Lopes, Luciana Domschke, Sergio Sartorio.
- Hoje, às 19h no Cine Bangüê (Espaço Cultural, R. Abdias Gomes de Almeida, 800, Tambauzinho, João Pessoa)
- Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Abraço coletivo
Com cenas externas rodadas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, Gabrielle conta que se sentia energizada a cada tomada filmada ali, mesmo que tenha sofrido com a temperatura. Ao repetir, pela 13a vez, uma cena ambientada nas águas frias de uma cachoeira, a intérprete de Nina chegou perto de um estado de hipotermia. Ela foi salva graças a um abraço coletivo e literal da equipe, que lhe recobrou o calor perdido. “Foram muitas surpresas, mas todas positivas. Ao final eu me sentia uma onça mesmo, fui de volta às minhas origens”, revela Gabrielle.
Ela se diz satisfeita com seu trabalho no longa, asseverando que conseguiu dar muita verdade ao papel. Ela também destaca seu protagonismo feminino como sendo um ponto importante em O Espaço Infinito. “Às vezes, a gente precisa desconfiar da unanimidade, mas todo mundo que assiste nos dá um retorno positivo, principalmente os profissionais da área da saúde. Eles nos abordam dizendo que conseguimos humanizar os indivíduos que passam por isso”, declara.
Delírio e realidade
Descrito pelo diretor como um filme “sensorial”, a visualidade de O Espaço Infinito foi pensada na tentativa de se reproduzir a mente de alguém em surto e a posterior recuperação de sua consciência. “Inclusive os atos do roteiro funcionam desta maneira. O longa começa num grande delírio e avança até o ponto em que ela retorna à realidade. A gente tem todo um conceito de câmera e direção de arte para chegarmos neste lugar”, detalha Leo Bello sobre seu filme.
O trabalho do diretor de fotografia Pedro Maffei foi indicado ao Prêmio ABC. A próxima estreia de Bello, o longa-metragem Cartório das Almas, também conta com participação de Gabrielle Lopes e produção de Alisson Machado.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de junho de 2024.