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Vida escrita

publicado: 19/08/2024 09h11, última modificação: 19/08/2024 09h31
Antônio Mariano celebra seus 60 anos autografando todos os seus oito livros nesta terça, no Bistrô 17, incluindo o lançamento do inédito “Havia Pássaros em Mim”
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Antônio Mariano passa em revista uma vida como escritor, com lançamentos em poesia, conto e romance | Fotos: Carlos Rodrigo

por Daniel Abath*

Dos 60 anos de vida, 40 foram dedicados ao ofício das letras. Nascido em 1964, em casa, na Ilha do Bispo, conseguiu vencer as constrições estruturais da origem humilde e se tornar um grande nome da literatura atual da Paraíba. O poeta, contista e romancista paraibano Antônio Mariano tem mesmo muita história pra contar e celebra sua trajetória na terça-feira (20), às 18h30, no Bistrô 17, em João Pessoa, apresentando e autografando seus oito livros — ao preço de R$ 50 cada um.

“Eu diria que estou relançando apenas os livros de contos O Olho Branco de Meu Tio (Editora Mondrongo, 2023) e O Dia em que Comemos Maria Dulce (Editora Ficções, 2015). O romance, Entrevamento (Kotter, 2021), não teve lançamento presencial em João Pessoa em razão da pandemia”, explica o escritor. Os demais livros são novas edições, que não são iguais às lançadas anteriormente. E há o inédito Havia Pássaros em Mim (Selinho Editorial, 2024), seu retorno à poesia.

Presente e passado: o poeta vê a si mesmo e ao seu primeiro livro, lançado há 33 anos

“Acredito que ali pelos 18, 19 anos foi que comecei a manifestar a intenção de entrar no mundo da literatura. O primeiro passo nessa direção foi quando, em 1984 (ainda não tinha 20 anos), o Sesc da Paraíba abriu inscrição para o seu primeiro concurso em nível estadual. Eu inscrevi um poema e fui classificado em primeiro lugar”, rememora.

No mesmo ano de 1984, começou a publicar e ganhar espaço inicialmente no grupo Oficina Literária, na seção “Tudo” do Diário da Borborema e na revista Presença Literária, editada por Juca Pontes. Em 1985, publica o primeiro poema no suplemento literário Correio das Artes — a propósito, a edição atual do suplemento está nas bancas com uma grande reportagem de capa sobre o escritor. Em 1986, vence o concurso de contos Jovem Escritor, promovido pelo suplemento, para escritores com até 25 anos de idade.

Uma vida em livros

O Gozo Insólito (Scortecci, 1991) é seu primeiro livro publicado. “O título é descrição do prazer inabitual que a obra de arte nos traz, mas a coletânea também faz reverência ao amor em si e à eroticidade”, explica Mariano. Permeiam a obra, também, outros temas, como o social e a reflexão sobre o ato de escrever.

Te Odeio com Doçura (Scortecci, 1995) se inicia pelo título que o autor extrai do verso francês de Saint-John Perse —“Je vous hais tous avec douceur”—, com uma proposta de tratar dos desencontros amorosos e de uma revolta em torno disso. “São poemas que trazem uma voz irada, às vezes mesmo violenta na forma de tratar o amor. Mas, ao mesmo tempo, sem deixar de lado outros temas já expressados no livro anterior”, comenta.

Carta de apresentação

Antônio revela que, após o lançamento de Te Odeio com Doçura, passaram-se 10 anos para vir a público seu terceiro livro — Guarda-Chuvas Esquecidos (Lamparina, 2005). A edição proporcionou a oportunidade de alcançar um público mais amplo: é o livro que ele considera como sua “carta de apresentação” à poesia brasileira, dado o destaque que a obra recebeu na imprensa cultural. Isso inclui uma resenha significativa no Jornal do Brasil, assinada pelo poeta e crítico literário Ronaldo Cagiano. “É o livro que me abriu mais espaço nas revistas e suplementos literários e me rendeu a primeira capa no Correio das Artes”.

Ainda em 2005, vem à luz o primeiro livro de contos — Imensa Asa sobre o Dia —, um conjunto de 13 narrativas, tendo como personagem comum a cada peça, Jailson. “O nome, embora um tanto comum, é a junção de duas palavras em inglês (jail, de prisão, e son, de filho), com uma temática que reflete, em sua maioria, o social e preconceitos de toda natureza, como o racismo, além da denúncia à discriminação aos desfavorecidos economicamente, a violência, o incesto, a incomunicabilidade familiar e o realismo fantástico”. O Dia em que Comemos Maria Dulce é a segunda edição deste livro, revista 10 anos depois.

A quinta obra de Mariano se chama Sob o Amor (Patuá, 2013). Ele afirma que o livro reúne toda a sua lírica com temática amorosa: “São peças que tratam desde a relação homem/mulher já reverenciada nas obras anteriores até o amor fraterno e filial”.

Estreia no romance

O suplemento Correio das Artes está nas bancas com uma grande reportagem sobre a trajetória de Antônio Mariano

Em 2021, o poeta incursiona mais uma vez na prosa de ficção, dessa vez por vias narrativas mais longas. Entrevamento, seu primeiro romance, conta uma história em dois tempos trágicos para o protagonista: o passado, marcado por uma história de amor com fim infeliz, e o presente experienciado na prisão, em que divide cela com um homossexual que se identifica como mulher. A obra denuncia o preconceito social, a homofobia e a misoginia, num tom violento e dotado de linguagem forte. “Não é um romance para salões. Eu diria mesmo que é um romance porrada, ambientado na João Pessoa dos anos de 1980. Expõe a paisagem da cidade, mas há também um passeio pelas zonas sombrias da alma humana”.

O Olho Branco do Meu Tio é o segundo livro de contos, publicado no ano passado, de cunho marcadamente social, em 41 narrativas distribuídas entre mini e microcontos, além de textos maiores. E, finalmente, Havia Pássaros em Mim. “Minha poesia sempre foi marcada por esse lado musical, como toda poesia que eu respeito. Mas a intenção nesse livro, que agora trago a público, era deixá-lo mais patente como o próprio título dá a entender. São 60 poemas em que as aves canoras são seres em primeiro plano para recriar essas atmosferas musicais, mas há temas fortes que fazem parte de minha literatura e nunca foram abandonados. Acredito que ofereço o melhor de mim nesse livro”, considera.

Antônio Mariano resume a si mesmo, dizendo que “não se tranca em uma redoma de vidro. Que tem um lado, e esse lado é o dos injustiçados. Um escritor preocupado com sua ferramenta de trabalho que são as palavras, que está mais preocupado com o ‘como’ dizer as coisas, do que propriamente em dizê-las. Que sua literatura encanta, mas também pode chocar”.

ANTÔNIO MARIANO

  • Sessão de autógrafos de oito livros.
  • Terça-feira (20), às 18h30.
  • No Bistrô 17 (Rua Conselheiro Henrique, 17, Centro, João Pessoa).
  • Entrada franca.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 18 de agosto de 2024.