Monumento histórico e cultural de João Pessoa, o Convento de São Frei Pedro Gonçalves, no Varadouro, passou por importante revitalização e foi, enfim, reaberto em dezembro do ano passado. A parceria entre a Prefeitura de João Pessoa e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio de recursos superiores a R$ 6 milhões provenientes de acordos integrados entre Governo Federal e do Estado, fez com que o espaço de 2,7 mil m², também conhecido como Conventinho, se transformasse em um centro de atividades culturais e de fortalecimento da economia criativa. Nascia a Cidade da Imagem.
Gerenciado pela Funjope, Secretaria de Cultura e Secretaria de Educação, além da iniciativa privada, a Cidade da Imagem (CDI) Conventinho — como passou a ser chamado o local — inaugurou, em parceria com o Banco do Nordeste (BNB) Cultural, os projetos Galerias Urbanas — exposição itinerante com painéis de arte urbana exibidos na área externa da CDI — e o Ecossistema Musical. A ideia é ofertar à população, em suas dezenas de salas, cursos, oficinas e infraestrutura cultural para promover a troca de conhecimento entre artistas e o desenvolvimento de projetos culturais.
Desde o mês passado, o Ecossistema Musical vem oferecendo shows inteiramente gratuitos, de artistas e grupos da terra, a exemplo de Cátia de França, Quinteto da Paraíba, Escurinho e Papangu. Hoje, o evento começa a partir das 17h, com DJ Tildal, seguido pelas apresentações de Candeeiro Natural, Margaridas em Fúria e Val Donato. Amanhã o ecossistema aflora às 15h30, com DJ Iordz e shows de As Calungas, Tocaia da Paraíba – que lança o trabalho Caririrs Contemporâneos –, e Seu Pereira e Coletivo 401, encerrando os trabalhos deste ano.
Ecossistema expansivo
A ideia, segundo o produtor cultural e curador do evento na Paraíba, Rayan Lins, data de três anos atrás. “A gente primeiro foi fazer uma curadoria de artistas e de músicas que entraram para a playlist, produzimos um artigo sobre a história da música da Paraíba e fizemos uma lista de discos essenciais sobre essa história”, conta Rayan, que guarda diversas lembranças do simbólico espaço.
“Eu mesmo já realizei muitos festivais lá dentro. O Festival das Quadrilhas Juninas acontecia lá, os ensaios da Paixão de Cristo aconteciam lá, a Companhia Municipal de Dança de João Pessoa ensaiava lá. Infelizmente passou quase 20 anos fechado, por várias licitações que não deram certo, e finalmente ano passado a prefeitura finalizou a reforma e entregou à Cidade da Imagem pra que pudesse captar recursos e manter o espaço funcionando”.

- A exposição “Nordeste Expandido” está em cartaz no Cidade da Imagem, que quer promover também cursos e oficinas
Rayan afirma que a inauguração foi feita “meio que de surpresa” e muita gente ainda não sabia que nos últimos meses, durante todo o fim de semana, a mostra do Ecossistema Musical vinha ocupando o lugar com muita música.
No último dia 10 (quarta-feira), o grande equipamento inaugurou a exposição de artes visuais Nordeste Expandido: Estratégias de (Re)Existir, com 195 obras de artistas nordestinos, as quais compõem o acervo do BNB Cultural. Com entrada gratuita, a exposição segue até o dia 31 de janeiro envolvendo as artes plásticas — telas em pintura, gravuras, arte popular, bordados e cerâmica.
“A exposição Nordeste Expandido é uma referência à área de atuação do BNB, que envolve também as regiões norte de Minas Gerais e do Espírito Santo, que contemplam essa característica do semiárido brasileiro”, ressalta Jacqueline Medeiros, gerente executiva do BNB Cultural.
Ativo cultural
Murilo Albuquerque, gerente do Centro Corporativo de Cultura do Banco do Nordeste Cultural, órgão responsável por coordenar todas as ações de cultura do banco, explica como vem sendo realizada a integração do BNB com a Cidade da Imagem, empresa sediada em São Paulo com forte atuação no setor da economia criativa. “O banco tem expandido muito a sua atuação. Foi apresentado o projeto para a gente, a gente achou interessante e então propomos uma ação continuada até o final do ano”, diz Murilo.

A escolha por João Pessoa levou em conta, além da presença do Conventinho, a importância estratégica da capital paraibana dentro desse processo — residente em Fortaleza, mas natural de Campina Grande, Murilo ressalta que o vínculo pessoal com o estado foi fator fundamental à empreitada.
Ao todo, foram realizadas 55 atividades, distribuídas ao longo de seis semanas. Para o próximo ano, a atuação no Conventinho deve ocorrer de forma mais espaçada, com atividades concentradas em um fim de semana por mês. “A gente está pensando em mensalmente realizar as atividades, porque não temos tanta capacidade operacional para manter o mesmo ritmo”, explica.
Em termos de público, a programação no Conventinho registrou média estimada de 600 pessoas por atividade. “Ficou em torno de mil pessoas por público em alguns momentos, mas a média foi de 600 por atividade”, contabiliza Murilo, afirmando que o número não inclui o fluxo contínuo de visitantes nas exposições de arte urbana nem o público do projeto Nordeste Expandido por ser mais recente.
Para Murilo, compreender a atuação do banco junto à cultura exige observar a rede de iniciativas de forma integrada. Na Paraíba, essa trajetória envolve desde o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) Sousa, em funcionamento há 18 anos, até as recentes ações no Brejo Paraibano, em Campina Grande e na capital. Em relação às ações de expansão, Murilo destaca a implantação do Centro Cultural em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e a realização de atividades em ruas, sedes de grupos de teatro e espaços diversos em municípios do interior potiguar e paraibano.
“A ideia é continuar”, garante Rayan. “É que o BNB Cultural esteja cada vez mais presente em João Pessoa de forma contínua, como está chegando em várias outras localidades aqui do Nordeste. A cidade só tem a ganhar e a ideia é que para o próximo ano a gente abra pra circulação — que a gente converse, dialogue e faça intercâmbio com os ecossistemas musicais dos outros estados também e com a circulação dos artistas do Brasil e do mundo que estejam passando por João Pessoa”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de dezembro de 2025.