Notícias

Vinte anos sem o escultor paraibano Jackson Ribeiro

publicado: 14/10/2017 20h05, última modificação: 14/10/2017 21h31
3.jpg

O ator Fernando Teixeira exibe o crucifixo feito por Jackson Ribeiro - Foto: Evandro Pereira

tags: Fernando Jackson Ribeiro


Hilton Gouvea

Artistas plásticos, poetas, jornalistas e escritores, lembraram fatos ligados à trajetória do escultor paraibano Fernando Jackson Ribeiro, que ganhou prêmios nas Bienais brasileiras, e acumulou diversos em exposições internacionais. Os 20 anos de sua morte, em Curitiba, serão lembrados na próxima quinta-feira (19). Quem conheceu este filho de Teixeira (PB), faz uma pergunta: será que o “Porteiro do Inferno” - a sua obra mais polêmica -, seria uma premonição? Se alguém reparar com acuidade, verá que, entre o autor e a escultura, existem incontestáveis semelhanças.

O “Porteiro do Inferno” foi projetado com ferros retorcidos. Sofreu reparos e peregrinou por nove locais de João Pessoa. Sempre acabou rejeitado como uma maldição. Atualmente implantado diante do Campus I da UFPB, no Castelo Branco, ainda não se pode afirmar que descansa em paz. Jackson peregrinou por mil chãos ao sair de Teixeira. Foi delegado de polícia na Bolívia. Levou um tiro no pescoço. E escapou ferido no Trem da Morte, para salvar a vida. Morreu pobre e esquecido, sob a proteção de padres dominicanos do Paraná.

Querem mais coincidências entre criador e criação? Também se pode dizer que, apesar de famoso, a fortuna nunca lhe sorriu. “Encontrei Jackson duas vezes, no Festival de Inverno de Areia, em 1972/73”, declara o ator Fernando Teixeira, que tem, em seu acervo pessoal, um crucifixo de ferro feito por Jackson e nos indicou a existência de duas artes do escultor, na Fundação Casa de José Américo. Teixeira lembra que Ribeiro estava participando da formação inicial do NAC – Núcleo de Arte Contemporânea, da UFPB. “Lembro dele como pessoa hiperativa, sempre entortando ferro, para dar uma forma criativa ao aço”.

O escultor disse a Alexandre Martins, editor da Lux, em Portugal, que utilizava o ferro em suas esculturas “por ser o metal que mais se identifica com meu sentido formal”. E acrescentou: “minha criação de artista se baseia na experiência quotidiana, isenta de conhecimentos livrescos”. Raul Córdula disse sobre ele: “a arte surgiu na vida de Jackson como a ordem surge do caos: de vida aventureira e atribulada, ele saiu de Teixeira em busca de um irmão perdido nos garimpos de Mato Grosso. E perambulou mergulhando de escafandro nos rios, em busca de ouro”. Este, um metal nunca farto em sua algibeira.
Ao retornar de uma de suas viagens a Europa, Jackson liderou movimentos estratégicos contra a Ditadura Militar. As reuniões eram organizadas dentro de seu atelier, na Lapa (RJ). Junto com outros artistas, desfraldava, ao vento, a Bandeira da Liga Camponesa, sua criação. Foi personagem dos movimentos pioneiros do Tropicalismo. Antes de morrer, apesar de acolhido por padres católicos, arranjou donativos e recuperou uma Igreja Evangélica, em Curitiba. Como o “Porteiro do Inferno”, Ribeiro cumpriu, sem reclamar, a sua sina de judeu errante.

O artista plástico Díogenes Chaves disse que, “em 1964, Jackson Ribeiro levou Hélio Oiticica para o Morro da Mangueira. Ali, Ribeiro ajudava Amílcar de Castro a confeccionar alegorias carnavalescas, que a Mangueira ia utilizar em seus desfiles. Oiticica, o tímido, ficou tão fascinado, que aprendeu a sambar, fez amizades na área e até criou uma obra,” Parangolé”, que se tornou um divisor de águas na sua produção artística”. Ribeiro era assim: convertia tímidos em festeiros, fazia esculturas, mas vivia de confeccionar molduras, segundo ele mesmo explicou, ao jornalista Ferreira Gullar.