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Vladimir Carvalho é homenageado

publicado: 02/04/2025 10h07, última modificação: 02/04/2025 10h08
Paraibano é celebrado na 30ª edição do É Tudo Verdade — Festival Internacional de Documentários
Vladimir com Manuel Clemente em set de Sarue, foto Walter Carvalho - mais baixa.jpg

Vladimir rodando “O País de São Saruê” (acima, à esq., ao lado de Manuel Clemente) e mostrando o cartaz do mesmo filme (à dir.), que será um dos nove exibidos no evento | Foto: Walter Carvalho/Arquivo pessoal

por Daniel Abath*

O gênero documentário sempre assumiu posição de ambiguidade perante a crítica e a teoria cinematográfica. Um dos motivos era o fato de retratar a realidade objetiva sem poder prescindir dos meios próprios à linguagem audiovisual para fazê-lo, tais como escolha de planos, montagem e edição. Em 1996, um festival do eixo Rio–São Paulo já atentava para essas desconfianças e conferia prestígio e visibilidade às produções documentais, o que viria a acontecer ano após ano. Nascia o É Tudo Verdade (ETV)Festival Internacional de Documentários, que, em sua 30ª edição anual, homenageia a obra do documentarista paraibano Vladimir Carvalho (1935–2024).

O festival é gratuito e ocorre até o dia 13, em cinco salas de São Paulo e em três do Rio de Janeiro. A abertura é hoje, com pré-estreia mundial de Ritas, de Oswaldo Santana, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, às 20h30. Amanhã, a abertura para convidados, no Rio, exibirá Viva Marília (2024), de Zelito Viana, às 20h30, no Estação Net Botafogo.

Só de Vladimir Carvalho entram na programação nove longas-metragens (confira a lista completa no quadro ao lado), realizados em mais de meio século, a exemplo de O País de São Saruê (1971) e Conterrâneos Velhos de Guerra (1991).

Ao todo serão exibidas 85 produções — entre longas, médias e curtas-metragens —, oriundas de 30 países. Para além dos filmes, a programação conta ainda com debates, conferências e sessões em streaming. O clássico Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho (no qual Vladimir era assistente de fotografia da primeira fase do filme), também ganha uma sessão especial no evento.

“O documentário estava a exigir uma janela anual específica no país que propiciasse o acesso do público das salas à excelência e à originalidade da produção não ficcional brasileira e internacional”, afirmou o diretor-fundador do festival, Amir Labaki, sobre a emergência do É Tudo Verdade, enquanto resposta a uma demanda inicial.

A arte do documentário no Brasil deve muito ao realizador paraibano Vladimir Carvalho, documentarista de intensa produção e que esteve de passagem pelo festival em diversas ocasiões. “Vladimir é o principal cineasta exclusivamente dedicado ao documentário da história do cinema brasileiro”, atesta Labaki. “Esse compromisso radical dele fortaleceu extraordinariamente essa produção enraizada no real entre nós”, acresce.

“É muito relevante e justo que os filmes do Vladimir Carvalho sejam exibidos em retrospectiva na edição do ETV 2025, o maior festival do cinema de não ficção da América Latina. O paraibano, diga--se, está entre os cineastas que estimularam o Amir Labaki na criação do evento”, ressalta Lúcio Vilar, coordenador de um dos principais festivais na Paraíba, o Fest Aruanda.

Marcado pelo cariz de apresentação e revisitação de autores fundamentais ao ofício em tela, o É Tudo Verdade 2025 destaca igualmente a obra do diretor britânico Humphrey Jennings (1907–1950), pioneiro na produção não ficcional inglesa. Entre os seus clássicos, serão exibidos Fires Were Started (1943) e Family Portrait (1950).

Uma cerimônia de premiação será realizada no dia 12, às 19h, na Cinemateca Brasileira (SP) e as produções que forem contempladas pelos júris oficiais terão reapresentações especiais no dia 13, em ambas as cidades-sede.

“Muito mudou, do impacto do digital sobre produção, distribuição e exibição à maior familiaridade do público com narrativas audiovisuais não ficcionais. O sentimento é de jornada bem-desenvolvida, [já que] o documentário ganhou maior visibilidade no país, como almejávamos”, conclui Amir Labaki.

Filmes de Vladimir que serão exibidos no evento 

  • O País de São Saruê
    90min. / 1971
  • O Homem de Areia
    116min. / 1982
  • O Evangelho Segundo Teotônio
    90min. / 1984
  • Conterrâneos Velhos de Guerra
    153min. / 1991
  • Barra 68 – Sem Perder a Ternura
    82min. / 2000
  • O Engenho de Zé Lins
    84min. / 2007
  • Rock Brasília – Era de Ouro
    109min. / 2011
  • Cícero Dias, o Compadre de Picasso
    79min. / 2016
  • Giocondo Dias – O Ilustre Clandestino
    91min. / 2019

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 02 de abril de 2025.