Diversos conjuntos de vozes de todo o Brasil cantando em uníssono. De amanhã até o próximo domingo (24), João Pessoa se transformará na capital brasileira do canto coral, com a realização da 22a edição do Festival Paraibano de Coros (Fepac). Com 63 grupos confirmados, incluindo corais de várias regiões do país, o evento promete oferecer ao público apresentações reunindo estilos e repertórios variados da música popular e erudita. A entrada para todas as noites é gratuita, e as apresentações acontecem na Sala de Concertos José Siqueira, no Espaço Cultural.
Segundo Eduardo Nóbrega, maestro e coordenador do festival, o Fepac começou em 2003 como um evento local, mas rapidamente se expandiu para abarcar corais de várias partes do Brasil. “O primeiro festival foi restrito a grupos da Paraíba, mas, já no terceiro ano, conseguimos a participação de corais de outros estados e ele se consolidou como um evento de destaque no calendário nacional”, afirma. Para o maestro, a expectativa diante desta edição é de um público heterogêneo e interessado em acompanhar a programação.
Inclusão e diversidade
A edição deste ano presta homenagens ao maestro e professor do Instituto Villa-Lobos da Unirio, Eduardo Lakschevitz, do Rio de Janeiro, pela contribuição ao canto coral no Brasil e por seu apoio ao Fepac. Lakschevitz, que estará presente no evento, tem colaborado com o festival desde suas edições iniciais — tendo sido homenageado na oitava edição —, e seu apoio foi decisivo para dar visibilidade internacional ao festival, facilitando o intercâmbio de maestros e corais de outros estados e países.
“Eduardo foi fundamental para que o festival alcançasse uma dimensão nacional e até mesmo internacional, promovendo o Fepac entre profissionais do canto coral em diversos países”, explica o coordenador.
O evento também contará com a participação do maestro norte-americano John Warren, da Universidade de Syracuse (EUA), que regerá o Coral Universitário Gazzi de Sá, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no sábado (23), na apresentação “IV tractus para o Sábado Santo”, do compositor José Emerico Lobo de Mesquita. Além disso, Warren ministrará palestras e workshops voltados para regentes e coralistas durante o evento, e fará uma visita a projetos sociais, como o coral feminino formado por internas de presídios locais.
O caráter inclusivo do Fepac é uma de suas marcas. Desde a primeira edição, o evento tem como princípio a participação aberta a grupos variados, independentemente do nível técnico ou do tipo de formação. “Desde o começo, quando comecei a reger, a filosofia é: canta todo mundo! Seja o coro de uma grande empresa, seja o grupo de internas do sistema prisional. O Fepac é uma celebração do canto coral em sua forma mais democrática”, afirma o maestro. Neste ano, entre os participantes, estão o coral masculino e feminino de apenados, o coral de cantores traqueostomizados e grupos formados em pequenos municípios do interior da Paraíba.
Para ele, a diversidade de grupos e perfis entre os participantes é um dos fatores que tornam o festival único e enriquecedor. “Temos coros de empresas, de aposentados, de igrejas, além dos corais universitários. É uma festa da inclusão, pois a prática do canto coral é acessível para qualquer pessoa”, explica Eduardo, destacando que o evento incentiva tanto a formação de novos grupos quanto a participação de coros já consolidados.
O maestro Daniel Berg, que integra o Fepac deste ano, regendo quatro corais, já participa do festival desde 2010. “Naquele ano, fui como aluno e lembro que fiquei impressionado com a riqueza do festival, de vários regentes do estado e com o conhecimento e amizade que fiz com o professor Lakschevitz. A partir desse momento, passei a participar todos os anos com os corais que eu já regia”, destaca.
Dias de canto
Todos os dias, as atividades do Fepac começam com uma atração musical abrindo a noite, seguido pela apresentação de 10 coros. A Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa, sob a regência do maestro Nilson Galvão Júnior, fará a abertura de amanhã, com participação especial da cantora Isadora França, que interpretará trechos de ópera. Já na terça-feira (19), o festival segue com a apresentação do Grupo Voz Ativa, que exibirá um documentário sobre canto coral antes das performances dos grupos da noite.
Na quarta-feira (20), será a vez da Orquestra Armorial do Marista Pio X fazer a abertura, às 18h, e, na quinta-feira (21), o público poderá assistir à performance de Clara Dantas, voz e violão, antes das apresentações corais. A sexta-feira (22) reserva uma atração especial: o Sambatuqueiras, grupo de percussão feminino que trará uma mistura de ritmos tradicionais nordestinos, como xaxado, xote e maracatu.
No sábado (23), o festival recebe Felipe Reznik, percussionista especialista em hand pan (panela de mão) — raro e inusitado instrumento de percussão melódica — que se apresentará ao lado do Coral Universitário, regido pelo maestro Lakschevitz. Reznik também fará na sexta-feira (22), das 14h às 17h, uma palestra e oficina sobre o instrumento no Departamento de Música da UFPB.
No domingo (24), a culminância do evento contará com a participação da Orquestra de Violões da Paraíba, com a maestrina Carla Santos, que abrirá as apresentações finais da edição.
A cada edição, o Fepac ganha mais reconhecimento como um dos maiores festivais de coros do Brasil, atraindo participantes de estados como Brasília, Goiás, Mato Grosso, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Além das apresentações, neste ano o festival contará com transmissão ao vivo pelo YouTube, permitindo que o público acompanhe o evento de qualquer lugar. “É a primeira vez que transmitimos ao vivo, o que é um passo importante para ampliar o alcance do Fepac e trazer o festival para um público que não pode estar presente fisicamente”, acrescenta o coordenador.
Daniel lembra que existem outros festivais de coros na cidade, mas enfatiza: “Temos outros, mas sem dúvida o Festival Paraibano de Coros assume um papel importantíssimo para a promoção do canto coral não só paraibano, não só nacional, mas internacional também”.
Para o maestro, o verdadeiro ganho do festival vai além de qualquer retorno financeiro. “Ver o movimento coral ressurgindo em João Pessoa e na Paraíba, e ver novos grupos tomando forma, é o que faz todo o esforço valer a pena”, conclui o coordenador do festival.
FESTIVAL PARAIBANO DE COROS
- Abertura amanhã, às 20h.
- Na Sala José Siqueira (Espaço Cultural, R. Abdias Gomes de Almeida, 800, Tambauzinho, João Pessoa).
- Entrada franca.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 17 de novembro de 2024.