A voz de Xangai carrega a história e a herança cultural da tradição dos violeiros e trovadores nordestinos. O timbre do cantor baiano de 75 anos é caracterizado por uma expressividade marcante e uma riqueza de inflexões que servem a um repertório que canta a poesia popular em todos os tons de alegria, tristeza e saudade. O reencontro desse artista com o público paraibano acontece hoje, às 18h30, no Teatro Paulo Pontes, em João Pessoa. Com abertura do violeiro Chagas Fernandes, a apresentação do projeto Seis & Meia tem ingressos com valores que variam entre R$ 55 e R$ 110, e podem ser adquiridos on-line através da plataforma Outgo (www.outgo.com.br).
Com 20 discos lançados, vários troféus, entre os quais o de melhor cantor regional, no Prêmio da Música Brasileira, em 2016, muitos fãs de Eugênio Avelino, o Xangai, tiveram o primeiro contato com ele através do disco Cantoria, que, no próximo ano, completa quatro décadas de lançamento. Foi em janeiro de 1984, no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), que ele se juntou ao pernambucano Geraldo Azevedo, o paraibano Vital Farias e ao amigo de infância Elomar para produzir o LP que é considerado o primeiro registro ao vivo gravado em sistema digital no Brasil, da Kuarup Discos. Iniciando com os versos “Senhores donos da casa, o ‘cantadô’ pede licença / Pra puxar viola rasa, aqui na vossa presença”, do ‘Desafio do Auto da Catingueira’, os quatro menestréis criaram um álbum que alterou a forma de que se enxergava o cancioneiro popular nordestino.
O show levou os músicos com seus violões e nenhum outro apoio musical a excursionar por diversas capitais brasileiras. O disco com 13 faixas conta com interpretações antológicas de Xangai, a exemplo de ‘Aí d’eu sodade - o ABC do preguiçoso’ e ‘Kukukaya (Jogo da asa da bruxa)’, de Cátia de França, de quem ele se tornou amigo. Tanto que foi convidado para cantar com a paraibana ‘Coisas do Campo’, presente no disco Avatar (1998). O êxito de Cantoria levou ao lançamento de uma sequência. Cantoria 2 foi lançado quatro anos depois, durante turnê de concertos do grupo de cantadores. O álbum reúne músicas das apresentações que não entraram no primeiro projeto e parte dos registros dos espetáculos realizados pelo país.
Um dos últimos encontros do quarteto aconteceu em Fortaleza, em novembro de 2016, e foi marcado com muita confusão e atritos com o público. Uma ordem de Elomar proibindo que filmassem ou o fotografassem só não desagradou mais a plateia no Centro de Eventos cearense do que a homenagem que Vital Farias tentou fazer à Operação Lava-Jato. A reação da maioria dos presentes foi imediata em se manifestar com vaias e gritos de “Fora Temer”. Enquanto isso, Geraldo Azevedo preferiu permanecer em silêncio, apenas levantando o braço em apoio à manifestação da multidão.
Mas Xangai, filho e neto de sanfoneiro, tem seu trabalho associado mesmo é com a música erudita e medieval brasileira por meio da utilização de instrumentos, elementos harmônicos e melódicos, e também pela temática de suas composições, que abordam a história e a cultura brasileira. Isso ficou ainda mais claro com o disco Um abraço pra ti pequenina (2007), em que o baiano interpreta canções apenas de compositores paraibanos. No álbum, ele se junta ao Quinteto da Paraíba e aos arranjos de Sérgio Galo para homenagear nomes como Jackson do Pandeiro, Herbert Viana, Zé Marcolino, Pedro Osmar, Cátia de França, Chico César, Zé Ramalho, Sivuca, Bráulio Tavares, Antônio Barros, Rosil Cavalcanti, Zé do Norte, Geraldo Vandré, Cassiano e Genival Macedo.
Em Campina Grande
Atualmente, Xangai trabalha na divulgação do álbum Cantingueiros (2020), que tem algumas faixas apresentadas no show do Clube do Choro. O disco é um mergulho pelo Sertão da Bahia e celebra os compositores baianos Gordurinha, Elomar, Bule-Bule e Mateus Aleluia, com quem ele interpreta ‘Cordeiro de Nanã’ e ‘Deixa a Gira Gira’.
É esse show com os sucessos de toda a carreira que ele deve trazer hoje para João Pessoa e, no próximo sábado (dia 13), para Campina Grande, no Teatro Municipal Severino Cabral. Será mais uma apresentação em que estarão em primeiro plano as raízes da literatura de cordel, os violeiros que cantam e tocam histórias que retratavam a vida cotidiana, os costumes, as lendas e as tradições do Nordeste brasileiro. Valores culturais que Xangai permanece sendo um defensor incansável.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de maio de 2023.