O primeiro longa-metragem que se tem notícia na Parahyba foi o documentário Sob o Céu Nordestino, de Walfredo Rodriguez. O filme produzido pela Nordeste Filmes demorou quatro anos para ser finalizado (1924-1928). No enredo, as coisas da nossa terra: o indígena, a fauna, a flora, o Litoral da Paraíba, jardins e monumentos.
A estreia na capital paraibana foi precedida de ampla publicidade. Era um acontecimento notável para a velha cidade. Todos queriam ver a película que o crítico amador Severino Alves Ayres chamou de “panoramização da Paraíba”. Ao Cine Rio Branco compareceram as principais autoridades estaduais: o presidente João Pessoa e seu chefe de gabinete, Silvino Olavo, além do secretário José Américo de Almeida.
Zé Américo por esse tempo era um dos auxiliares do governo paraibano, exercendo o cargo de secretário da Segurança Pública, com significativa participação na chamada Revolta de Princesa. A sua escrita teria contribuído, ainda que indiretamente, com o filme. Ao menos na descrição dos cenários, onde se destacava a aridez do Sertão em contraste com as regiões mais férteis do estado e mostrava as dificuldades enfrentadas e a resiliência do paraibano no enfrentamento das secas:
“Sente-se na forma como ele idealizou a produção, a presença bem viva de uma obra que dominava o cenário cultural da Paraíba de então: A Paraíba e Seus Problemas, de José Américo de Almeida” (Walfredo Rodriguez e a cultura paraibana, A União: 1989, p. 44).
A película chamou a atenção dos espectadores que ficaram admirados com as paisagens do nosso estado. Não obstante, os presentes circulavam entre o bar ao lado da sala de projeção, onde havia a “passarela da beleza” — em que as beldades se faziam presentes — e podia-se ouvir os comentários vivazes da “sociedade”.
Virgínius da Gama e Melo, citado por José Marinho, com muito humor, comenta aquela sessão: “Soirée de cinema não era esse seco ritual de hoje, em que o espectador vai mesmo assistir ao filme e só com muita sorte pode assistir a outra coisa. Junto ao salão de projeção, estava o bar frequentadíssimo da beleza e do society todo” (Dos homens e das pedras: 1998, p. 44).
Na saída, o chefe do governo democrata mostrava- -se de bom humor, aspecto esse que fora notado pelos seus auxiliares. Sentou-se em um banco para tomar um café, deixando o Ponto de Cém Réis intransitável. Todos queriam ver João Pessoa.
Após a estreia do filme no estado, surgiram artigos de elogios, dentre os quais destacamos o de Francisco Marcelo para a publicação Nordeste, em maio de 1929:
“Como documentação, repetimos, é um bom filme. Tem nitidez, tem paysagens, tem marinhas, tem movimentos, tem quadros. Destes, se outros merecimentos o filme não tivesse — risos entre flores —, só por si, seria bastante para valorizá-lo”.
A exibição percorreu o interior da Paraíba e Fortaleza. A obra foi apontada pela revista O Cruzeiro como “obra de sadio patriotismo”.
Encerra-se aquele documentário com a estátua de Epitácio Pessoa que fica na praça principal da cidade (hoje João Pessoa). O cineasta — Walfredo Rodrigues — “queria fazer a publicidade do filme aproveitando um negativo (...) do presidente, no Rio (...), ele tirando o chapéu”.
Ao todo foram rodados 2.080 metros da película. “Ele pretendia, com o filme, mostrar ao Sul que o Nordeste não era só miséria”, escreve José Marinho. São imagens de rara beleza.
Parte desse trabalho foi utilizada nas filmagens de O Homem de Areia, produzida por Vladimir de Carvalho, e que traça um perfil biográfico do ex-ministro José Américo de Almeida.
José Américo foi figura importante para o cinema paraibano. No seu governo foi criado o Serviço de Cinema Educativo (1955), dirigido por João Córdula. Esse departamento mantinha um pequeno acervo de filmes, exibia-os nas escolas e centros operários, além de apoiar os cineclubes de nosso estado.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 12 de março de 2025.