por Juliana Cavalcanti*
O pátio da Estação Ferroviária de Cabedelo, na Região Metropolitana de João Pessoa, tem abrigado vários equipamentos antigos ou que estão fora de uso. São vagões, sucatas e outros maquinários que têm preocupado os moradores das áreas próximas. O medo do “cemitério de trens” se deve ao fato do local colocar em risco a saúde da população, com a possibilidade, por exemplo, desses espaços se deteriorarem ainda mais e se transformarem em focos do mosquito que transmite a dengue ou de criadouros de outros insetos nocivos.
Na localidade, algumas pessoas informam que já existiria “uma organização” da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em Cabedelo para que essa situação de abandono seja resolvida. Aidson Silva, proprietário de uma oficina de bicicletas vizinho à estação, relata que, por enquanto, não foi registrado nenhum grande transtorno provocado pelo “cemitério de trens”, mas enfatiza a necessidade de retirada do material abandonado no local, antes que algum problema mais sério venha a ocorrer em breve.
“Eu moro aqui há 12 anos. Já soube que estão vendendo os vagões e lá dentro estão tentando esvaziar mais. De vez em quando saem carretas com vagões em cima, que eles estão retirando daqui. Estão tentando sempre limpar o maquinário”, diz, otimista, o mecânico.
Ele destaca que, atualmente, uma das principais aplicações desses vagões abandonados e sem uso é a transformação dos equipamentos em food trucks (veículos que transportam e vendem alimentos). Segundo ele, por enquanto a limpeza e a manutenção constantes no local seriam os únicos motivos para os ainda poucos problemas existentes e, por essa razão, a população, na avaliação do mecânico, “não tem porquê reclamar tanto daquele espaço”.
Mesmo assim, ele acredita que a retirada de materiais velhos precisa acontecer com mais frequência e velocidade. “Estão sempre retirando e a CBTU deve ter um controle de quantas vezes essa limpeza ocorre. Há quinze dias fizeram uma manutenção, limparam tudo e eu pude observar. Saíram dois caminhões só de coisas velhas, mas a limpeza deve ser mais constante”, completa Aidson Silva.
Os leilões, segundo o morador, é uma das modalidades escolhidas para a retirada dos equipamentos da área. Ele conta que já colocaram placas anunciando o leilão dos vagões, que depois foram arrematados por microempresários da própria cidade. “Os vagões velhos estão sendo vendidos e algumas pessoas estão comprando para reformar e fazer lanchonetes. Teve até um leilão recente e levaram mais dois vagões velhos e, para tentar limpar, já vi vendendo também a sucata”, garante.
Geraldo Maciel, que mora há mais de 40 anos nas proximidades da Estação Ferroviária, por sua vez, revela que há muito tempo os vagões estão abandonados, assim como os demais equipamentos do pátio e, antigamente, tinham mais coisas como caminhões, carros menores e grandes sucatas dos trens.
Porém, após os leilões, muitos desses itens foram removidos, mas os trens antigos ainda têm dificuldades para serem comprados. “Nem todos os trens foram comprados, assim como uma van que está no local. Compraram uns carros pequenos e bastante sucata. Alguns vagões foram levados para João Pessoa, pelo que me disseram. Já vi vários leilões sendo divulgados”, detalha o morador.
Ele percebe que diversos materiais chegam a sair, mas entende que não é tão simples retirar máquinas tão grandes do local. “Imagino que não é tão fácil e barato fazer com que equipamentos tão pesados saiam. Também não é toda hora que aparecem interessados para comprar. Por isso acho que a CBTU deve tentar organizar outras formas de remover”, opina.
Em resposta à reportagem de A União, o coordenador de manutenção da CBTU em João Pessoa, Sérgio Marcelino, declara que os materiais que não servirem mais para a companhia devem seguir para leilão, para que não fiquem se estragando ainda mais e prejudiquem os moradores da região. “Os itens inservíveis vão para leilão. A CBTU já está providenciando essa ação”, garante o representante do órgão.
JP tem 30 quilômetros de via férrea
De acordo com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), o Sistema de Trens Urbanos de João Pessoa possui uma extensão de 30 quilômetros de via férrea “singela”, isto é, com apenas uma linha (via) principal, para que “os materiais rodantes possam se movimentar”.
Além da capital paraibana, a linha atende as cidades de Cabedelo, Bayeux e Santa Rita. Ao todo, são doze estações ferroviárias, sendo cinco no município de Cabedelo: Cabedelo, Jardim Manguinhos, Poço, Jacaré e Renascer.
Em João Pessoa, são quatro estações: Mandacaru, João Pessoa (Central), Ilha do Bispo e Alto do Mateus. Já Bayeux conta com apenas uma estação (Bayeux), assim como em Santa Rita (Várzea Nova).
A companhia estima que os trens atendem atualmente cerca de sete mil pessoas por dia nos períodos normais e foram aproximadamente quatro mil durante a pandemia.
Conforme o órgão, os Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) adotados pela CBTU em João Pessoa e na região polarizada pela capital pertencem ao modelo Mobile 3, dotado de duas cabines computadorizadas – uma em cada extremidade dos carros-motores – e um carro reboque ao meio da composição férrea. De acordo com a CBTU, trata-se de um veículo de passageiros para trânsito urbano, com motor a diesel, ar-condicionado, acessibilidade para deficientes físicos, passagem entre os carros, sistema de comunicação sonora interna digital e capacidade para transportar até 600 passageiros por viagem.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 8 de maio de 2022