Em João Pessoa, uma série de ações voltadas para o cuidado com o meio ambiente vem fazendo diferença direta na vida dos moradores. Elas estimulam a empatia e a criatividade das novas gerações e convertem a reciclagem de tampinhas de garrafa em suporte para projetos que doam comida para famílias em situação de vulnerabilidade e que protegem animais de forma independente.
Algumas iniciativas, que se tornaram grandes com o tempo, começaram com uma simples inquietação: lixo nas ruas e, principalmente, resíduos plásticos nas praias. O pessoense Hildevanio Macedo conta que, anos atrás, ao caminhar pela orla da cidade com um grupo de amigos, incomodou-se com a quantidade de sujeira. Juntos, eles começaram a coletar o lixo para fazer o descarte apropriado. Em 2020, quando a pandemia de Covid-19 fez com que as pessoas precisassem se isolar em casa, os amigos continuaram conversando e perceberam que a atitude podia ir além da coleta: era possível, também, vender as tampinhas e utilizar o dinheiro arrecadado para ajudar quem estava precisando, com comida e outras doações. Assim, nasceu o projeto Tampa Solidária, que foi apresentado ao público, oficialmente, em julho de 2023.
“O primeiro objetivo foi auxiliar a causa animal aqui em João Pessoa,” diz Hildevanio, que hoje coordena o Tampa. Mas, a partir da realização de ações de conscientização, com o propósito de estimular as pessoas a descartar o lixo de forma correta — o que inclui a distribuição de pontos de coleta em escolas e órgãos públicos —, e de conversas com amigos, o Tampa Solidária conheceu o Multiplicação, outra iniciativa que atua na cidade, ofertando comida para pessoas em situação de rua. “Em contato com a coordenação desse projeto, decidimos contribuir com ele também. Então, quando comercializamos as tampinhas ou desenvolvemos alguma ação com coleta de doações, levamos alimentos para o Multiplicação e ração para protetores independentes de animais”, relata. Com isso, além de promover ações solidárias, eles também estimulam a economia circular.
A quantidade de lixo no mar também foi a razão por trás da criação de uma iniciativa de extensão universitária da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a Mares Sem Plástico, voltada à sensibilização ambiental, especialmente no litoral nordestino. “Por meio de campanhas educativas, ações de limpeza de praias e oficinas de reutilização de materiais, o projeto tem contribuído significativamente para a formação de uma consciência ambiental crítica e para a construção de uma cultura oceânica voltada à responsabilidade compartilhada na conservação do mar”, explica a professora Cláudia Cunha. Ela coordena essa e outras duas iniciativas desenvolvidas na UFPB. Uma delas é o Guardiões do Mar, projeto social e ambiental voltado à proteção dos ecossistemas costeiros e à valorização das comunidades que vivem próximas ao mar, que envolve crianças e jovens em atividades voltadas para preservação ambiental. O outro projeto é o Precious Plastic UFPB, que integra um movimento global de código aberto, propondo soluções comunitárias para o problema do plástico na natureza.
Segundo Cláudia, tais iniciativas trazem contribuições expressivas à cultura oceânica e à sociedade. “Elas promovem a conscientização sobre a importância dos mares para a vida no planeta, incentivam a redução do consumo de plásticos, fortalecem o senso de corresponsabilidade ambiental e aproximam ciência, educação e comunidade. Além disso, contribuem para a formação de uma nova ética ambiental, pautada na solidariedade, no respeito à natureza e na busca por alternativas sustentáveis”, afirma.
A Mares Sem Plástico já realizou, desde 2019, 156 ações ao longo do litoral paraibano, coletando 4.625,71 kg de resíduos e impactando diretamente 8.576 pessoas. Segundo Cláudia, esses números refletem a importância da atuação do projeto na redução da poluição marinha e na conscientização ambiental da população. Entretanto, apesar das ações de limpeza e educação ambiental promovidas por projetos como o Tampa Solidária e o Mares Sem Plástico, o descarte inadequado de resíduos, tanto por atividades urbanas quanto por banhistas e turistas, segue sendo uma preocupação constante. “Ainda é necessário um esforço contínuo e coordenado para reduzir a poluição, conter a erosão e promover a recuperação integral dos ecossistemas costeiros, garantindo a sustentabilidade do litoral paraibano para as futuras gerações”, adverte a professora.
Materiais recicláveis são instrumento para projeto educativo
Outro projeto de extensão desenvolvido na UFPB é o Edu.Comunicação, coordenado pela professora de Arquitetura e Urbanismo Cláudia Ruberg, que trabalha com reciclagem e sustentabilidade há mais de 20 anos. Pensado como uma forma de levar a educação ambiental de uma forma divertida para a Educação Infantil, o Edu.Comunicação atua em escolas de João Pessoa e Bananeiras, buscando plantar a semente de um futuro mais ecológico e consciente.
Em seu terceiro ano de atuação, o Edu.Comunicação já levou ações de educação ambiental para mais de 500 crianças, professores e gestores. De acordo com Cláudia, o projeto utiliza materiais recicláveis ou descartados para confeccionar jogos e brinquedos, em atividades realizadas junto com as crianças e alinhadas com as escolas visitadas. “Fazemos fantoches, por exemplo, a partir de caixas de leite, e já organizamos oficinas de confecção de lixeiras utilizando garrafas PET. Durante o processo, conversamos com os alunos e não só apresentamos nosso objetivo, como também estimulamos neles um novo olhar, mais criativo, para lidar com os materiais que levamos”, detalha a coordenadora.
O contato com a educação ambiental na infância ajuda a formar cidadãos mais conscientes e responsáveis pela preservação do planeta. Por meio dela, as crianças desenvolvem uma conexão mais profunda com a natureza e aprendem sobre respeito e equilíbrio ecológico, essenciais para a manutenção e bem-estar da vida na Terra. A abordagem lúdica permite que projetos como o Edu.Comunicação facilitem a compreensão de conceitos como sustentabilidade, utilização sustentável de recursos, reciclagem e combate às mudanças climáticas. Além disso, eles estimulam o pensamento crítico e moldam hábitos e valores que perdurarão na criança até a vida adulta.
“Com essas ações, a gente busca despertar, na criança, uma consciência com relação a possíveis usos para materiais que normalmente são descartados. Assim, a gente reduz a quantidade de resíduo gerado. Mas, também, fazemos com que eles reflitam a respeito da quantidade de materiais descartados”, a arquiteta discorre. “Nossa expectativa é que essas ações não se restrinjam aos alunos. Queremos que eles possam levar o conhecimento para casa, que sejam propagadores entre amigos e familiares”, finaliza.
Voluntariado
Da coleta de tampinhas até a participação em ações de limpeza das praias, voluntários são parte importante de toda iniciativa que gera impacto social. O trabalho conjunto entre as iniciativas e pessoas dispostas a apoiá-las amplia o alcance da causa e potencializa o impacto positivo no meio ambiente. Por isso, o Tampa Solidária e o Mares Sem Plástico incentivam que a comunidade entre em contato e participe como puder. No Instagram, os projetos podem ser encontrados nos perfis @tampasolidaria e @maressemplastico, respectivamente.
Para a professora Cláudia Cunha, a sociedade pode se envolver de diversas maneiras, adotando hábitos sustentáveis, separando corretamente os resíduos e participando de campanhas locais, apoiando organizações e iniciativas de educação ambiental. “Além disso, pequenas ações cotidianas, como recolher lixo em áreas públicas, evitar descarte inadequado e valorizar produtos recicláveis, contribuem diretamente para a saúde dos ecossistemas. O engajamento individual e coletivo fortalece a cultura ambiental, criando uma sociedade mais consciente e responsável, capaz de promover mudanças significativas tanto no ambiente urbano quanto no natural”, defende. Quando se fala de cuidar do meio ambiente, dos projetos pequenos aos mais complexos, todos têm potencial para fazer uma grande diferença.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 9 de novembro de 2025.

