Frente a uma luta contra um câncer de intestino, Dona Ivonete Costa, de 71 anos, enxergou num amigo de quatro patas um refúgio. Ela conta que durante o momento desafiador, seu neto decidiu adotar um gato de estimação. Há quase seis anos, quando a família morava em Campina Grande, a senhora viu no gatinho Balbur, a companhia necessária para garantir o aconchego durante a recuperação de uma cirurgia para retirada do tumor, e logo se transformou numa parceria para a vida toda.
Balbur, carinhosamente apelidado por ela de “meu bisneto”, chegou com apenas quarenta e cinco dias de vida, e já nessa época fez diferença no cotidiano de Ivonete. Ela lembra que, nesse período de repouso e tratamentos para a doença, acabava sendo a última acordada em casa, já que os familiares dormiam mais cedo. Foram especialmente nesses momentos que ser acompanhada pelo pet se tornava definitivo para o bem-estar da senhora.
Hoje, residente na capital paraibana, a aposentada conta que Balbur tem uma personalidade mais forte do que quando era filhote, mas que a companhia é certa do mesmo jeito: “Depois que ele cresceu, ficou um pouco ‘arisco’, mas ele é nosso gatinho de estimação, eu amo muito ele”, complementou.
"Depois que ele cresceu, ficou um pouco ‘arisco’, mas é nosso gatinho de estimação" Ivonete Costa
Para a idosa, adotar um animalzinho a fez ver a vida com outros olhos, sob um olhar onde as coisas se tornam mais simples e felizes. Ela ainda dá um conselho a outros idosos que pensam na adoção: “Eu incentivo todo mundo a adotar, por quê? Os filhos já foram embora, já cresceram, então você começa a cuidar de uma nova criança que está crescendo junto de você. Olhe, é uma alegria constante que você tem, sendo ‘arisco’, carinhoso, mas é aquele animalzinho do seu lado”, finalizou compartilhando a alegria de dividir a vida com o “bisneto”.
O médico veterinário com residência em clínica médica de cães e gatos pela Universidade Federal da Paraíba, José Neto Alves, explica o porquê dos bichinhos de estimação serem excelentes companhias. Para ele, os animais como cães e gatos “casam” exatamente o estilo de vida levado pelos idosos. Os pets ocupam um lugar de parceria nesse estilo “desacelerado” e comumente mais solitário. Além disso, essas criaturas também vão passando pelo processo de envelhecimento, e acabam dividindo o mesmo momento de seus tutores, contribuindo ainda mais na parceria.
José Neto conta, ainda, que esses acompanhantes domésticos têm um grande percentual na contribuição para a qualidade de vida de seus donos, isso se dá porque os cuidados requerem atividades físicas dos humanos, como fazer a limpeza do espaço onde o animal dorme ou de onde fazem necessidades, levar para passear e outras coisas que mantém a mente e o corpo do tutor ocupados.
Quando perguntado sobre quais precauções os idosos devem considerar ao escolher um animal de estimação, destacou: “É importante a escolha de um pet que não exija muita demanda, a pessoa que pensa em adotar precisa avaliar seu estilo de vida antes de tudo. Por exemplo, se aquele idoso mora em apartamento, devemos optar por cães ou gatos de raças pequenas, de gatos, de raças pequenas que não precisam de tanto espaço, ou caso não se possa fazer atividade física, é interessante tomar cuidado com aqueles animais que exigem muito disso. A gente também não pode esquecer do temperamento, às vezes alguns animais possuem um comportamento territorialista, é preciso tomar cuidado com isso e pensar em um comportamento mais dócil”, explica.
Graduado em psicologia pela Unifip e pós-graduado em neuropsicologia e psicomotricidade pela Universidade Cândido Mendes, o psicólogo Kleydson Freire destaca que um dos principais benefícios psicológicos da adoção é a diminuição ou controle da ansiedade.
Ele destaca que existe um grande índice de depressão nessa faixa etária e os animaizinhos atuam justamente na diminuição dos sentimentos de solidão e incapacidade. “Devido ao processo de capacidade e satisfação do cuidado com o outro, os sentimentos daquele idoso irão ter sentido, em que acontecerá um processo de transformação muitas vezes onde o mesmo desacreditava que poderia ter utilidade. Com isso, ele terá uma maior comunicação social, fazendo com que de forma natural se tenha um contato externo e mais contínuo”, Freire esclarece.
Por fim, justificou que ao estar nessa relação de cuidado, o idoso produz um neurotransmissor chamado serotonina, que está responsável pelo hormônio da felicidade, fazendo que senhoras e senhores possam desenvolver suas habilidades de uma forma mais harmônica e natural, tenham um maior controle nas suas emoções negativas e evidenciem as emoções positivas.
Mudança na vida de quem adotou um animal recentemente
Baby Neves, jornalista de 73 anos, conta que sempre teve afinidade com animais, mas tinha decidido não criar mais nenhum desde a morte de seu último pet, há mais de 20 anos. O fato de que ela não residir em uma casa, mas sim em um apartamento, foi um grande fator para a tomada da decisão. Além disso, ela também revelou que outra razão para a escolha era a perda de liberdade para viajar, atividade que pratica com frequência e que, ao ter a responsabilidade de cuidar de um cão ou gato, teria que se privar em certa medida, já que não gosta de deixar os bichinhos em hotéis para animais.
Os anos se passaram e em maio deste ano, Baby teve a oportunidade da experiência de cuidar de um animalzinho mais uma vez, ela começou a tomar conta da cadela de estimação de sua amiga, uma Shi-tzu chamada Frida.
A chama do amor pela cachorrinha se acendeu no final de semana seguinte, no dia das mães. Neves levou a cachorrinha para a casa de seu filho e sua nora, ambos amantes de bichinhos. Foi naquele momento que a mulher que nunca achou que adotaria de novo, se viu pensando em ter um cãozinho mais um vez. Ela conta que a tutora de Frida foi quem mais a incentivou nessa ideia, junto de sua nora e outras amigas.
Nesse meio tempo, um casal de amigos estava querendo doar uma cachorrinha também da raça shih-tzu, já que eles não tinham tempo suficiente para dar uma criação adequada a ela. Um mês depois, Baby e os antigos tutores fizeram um acordo para testar uma adaptação de Luluca - de dois anos - ao novo lar.
Baby disse que, por se tratar de um animal que não foi adotado por ela ainda filhote, a adaptação foi um pouco mais difícil para as duas. Ela acredita que por não estar familiarizada com o novo lar, Laluca deu um pouco de trabalho: “Ela estragou duas sandálias minhas em 15 dias”, completou.
Apesar de um início levemente conturbado, Baby Neves declarou que as duas já estão perfeitamente adaptadas: “Luluca chegou aqui no dia 1o de julho, e espero que não saia mais.” Hoje, a cachorrinha é descrita como bastante comportada, sua tutora se sente feliz em saber que ela vem realmente se adaptando ao apartamento, e que as duas já viveram muitos momentos especiais.
Sobre a privação de liberdade parcial que tanto a preocupava no passado, hoje ela justifica que é compensada pela demonstração de carinho de sua nova amiga de quatro patas.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 26 de agosto de 2023.