por Fabiano Sousa*
Uma educadora exemplar, de pulso firme na condução das aulas de Matemática e Português, por outro lado, sorridente e amável. Essas são apenas algumas características que mostram um pouco do perfil da professora Daura Santiago Rangel, que dedicou quase 50 anos de sua vida ao ensino. Por sua notoriedade na área do magistério, foi convidada pelo Governo do Estado da Paraíba para ser superintendente da Educação de Adultos de 1955 a 1958. Em 1958, assumiu a direção da Escola de Professores, atualmente Instituto de Educação da Paraíba, e do Liceu Paraibano.
Permaneceu no cargo por um período de oito anos. “Foi uma mulher à frente de seu tempo, já que nessa época a maioria dos cargos de liderança era ocupado por homens”, declara o historiador, sociólogo e professor Jammerson Gomes Soares.
Registros, inclusive de teses de pós-graduação, mostram que, no Liceu, a professora lecionou Matemática juntamente com os professores Kléber Cruz Marques e Walter Rabelo Pessoa da Costa – considerados “a santíssima trindade dos professores de Matemática do velho Liceu Paraibano”.
Enquanto gestora na direção do Instituto de Educação da Paraíba, há registros de que Daura Santiago modificou a estrutura de funcionamento do local. Teria sido responsável pela implantação do funcionamento da escola nos turnos da manhã e da tarde, sendo as tardes dedicadas às atividades práticas e artísticas. Ainda assegurou almoço a preço baixo para as alunas que moravam distante, e a cada ano apresentava ao governador da época uma relação com os nomes das melhores alunas para serem conduzidas à contratação.
Segundo Jammerson Soares, Daura Santiago Rangel foi uma criança precoce. Aos seis anos de idade já se interessava pela leitura e Matemática, tendo conseguido aos sete anos uma bolsa de estudos no Colégio Nossa Senhora das Neves, um dos mais tradicionais de João Pessoa. Nessa instituição de ensino permaneceu por dez anos, terminando o Curso Normal, que lhe habilitava a ser professora na segunda etapa do ensino secundário, chamado atualmente de Ensino Médio. Após a conclusão do curso, passou a lecionar Matemática em diversas escolas de João Pessoa.
Uma das características da professora era passar em volta das escolas onde ensinava, às vezes dirigindo um jipe, à procura dos estudantes para levá-los de volta à sala de aula. Era sempre vista levando os apetrechos dentro de uma espécie de caixa. O material, como compasso, cordões, esquadros e giz, era usado nas aulas de Matemática, para tornar o ensino mais lúdico e dinâmico. “Era rigorosa na atividade docente, mas muito querida entre os estudantes”, frisa o historiador.
“Era Daura” foi no período de 1940 a 1970
Por causa da dedicação ao ensino e amor à educação, Daura Santiago Rangel destacou-se na atividade docente nas décadas de 1940 a 1970. O período que lecionou e assumiu a liderança de algumas instituições de ensino do Estado ficou conhecido como “Era Daura”.
“Via os estudantes como atores sociais capazes de transformar o contexto em que estavam inseridos, mostrando um interesse extremo pela educação. Se preocupava com a formação integral dos alunos e era franca e imparcial enquanto administradora e professora. Por seu profissionalismo exemplar e comportamento aguerrido diante das adversidades que enfrentava, o período em que se destacou à frente da Superintendência da Educação de Adultos e como diretora escolar é conhecido como a ‘Era Daura’”, salienta o historiador e sociólogo.
A trajetória marcante da educadora inspirou gestores a nomear algumas instituições de ensino na Paraíba com o nome da paraibana. Segundo Jammerson Soares, na Paraíba há uma escola estadual e duas municipais que homenageiam a professora.
Uma delas é a Escola Cidadã Integral Técnica (ECIT) Daura Santiago Rangel, situada no bairro José Américo, onde Jammerson é professor. “Foi criada pela Lei 5.269, de 13 de maio de 1987. É uma Escola Integral Técnica de Ensino Médio, que possui os Cursos de Vendas e Informática disponíveis para os estudantes do bairro e adjacências”, conta o historiador.
Na capital paraibana, ainda há a Escola Municipal Daura Santiago Rangel, situada no bairro do Cristo; e outra no bairro de Gramame.
Até em “outras vidas”
A paraibana Daura Santiago Rangel nasceu na cidade de Monteiro, na região do Cariri, em 31 de outubro de 1908. Em 1930, casou-se com o engenheiro José Rufino de Souza Rangel, tendo com ele três filhos: Eduardo José Santiago Rangel; Alfredo Américo Santiago Rangel e Eurico Santiago de Souza Rangel. Morava à Rua Desembargador Souto Maior, no Centro de João Pessoa.
Dedicou-se ao ensino por um período de quase 50 anos. Mesmo após a aposentadoria, ela não deixou o magistério, fundando o Instituto La Salle, em 1968. O educandário funcionava em Jaguaribe, onde ela lecionava Matemática e Português aos alunos do 1º grau. “Enquanto superintendente da Educação de Adultos na Paraíba e depois já aposentada, dialogava sem receios com os principais educadores e políticos do país em busca de soluções para os problemas educacionais do seu estado e da nação”, garante Jammerson Soares.
Ao longo da vida, ela desenvolveu diabetes e, em consequência da doença, teve uma perna amputada. A professora morreu no dia 22 de agosto de 1986, aos 78 anos. O corpo dela foi velado no Colégio Liceu Paraibano e o enterro ocorreu na Igreja Nossa Senhora do Carmo.
De acordo com o professor e historiador Jammerson Soares, não há registro sobre a causa da morte. Uma das frases célebres da professora e que demonstrava sua paixão pela profissão era o desejo de nunca perder o vínculo com o ensino: “Se me fosse dado quando eu desaparecer, quando cumprir a minha missão na Terra, voltar novamente à vida, eu desejaria ser outra vez professora’’.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de novembro de 2022.