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Em 75 anos de história da Câmara Municipal de João Pessoa, a partir do processo de redemocratização, ocorrido em 1947, pouquíssimas vereadoras assumiram o mandato no Legislativo pessoense, e a pioneira foi a professora e advogada Ofélia Gondim, em 1973

Almanaque: Casa das 14 mulheres

publicado: 05/12/2022 10h27, última modificação: 29/12/2022 16h13
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Em mais de sete décadas de redemocratização, CMJP registra pouca participação feminina - Foto: Foto: Secom-CMJP

por Lucilene Meireles*

 

Muito se fala sobre a necessidade de mais participação das mulheres na política e é certo que a presença delas hoje é maior do que algumas décadas atrás. Houve, sim, evolução com o passar do tempo, mas a fatia ocupada pelas representantes do sexo feminino nesse cenário ainda é pequena. Em João Pessoa, Ofélia Gondim Pessoa de Figueiredo foi pioneira, conseguindo o feito de ser eleita vereadora numa época em que as mulheres não tinham vez. Ela deixou seu nome marcado na história da Paraíba como a primeira vereadora da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), há quase meio século, em 1973, pelo extinto partido da Aliança Renovadora Nacional (Arena).

Para chegar à conquista, Ofélia se dedicou com afinco aos estudos, sendo aluna da primeira turma da Faculdade de Direito de João Pessoa. Ao concluir sua formação, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ela atuou também dando aulas. A paixão pela área rendeu frutos e, entre 1974 e 1995, foi professora do curso. Lecionou, ainda, em cursinhos particulares e no Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), onde trabalhou até os 86 anos de idade.

Em agosto de 2019, Ofélia Gondim foi homenageada na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) durante sessão solene em comemoração aos 70 anos da Faculdade de Direito da Paraíba. Na mesma ocasião, foram celebrados os 30 anos de Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) e uma década do Departamento de Ciências Jurídicas no Estado, numa sessão proposta pelo deputado estadual Tovar Correia Lima (PSDB).

Foi a partir da eleição de Ofélia Gondim que as mulheres começaram a ocupar espaço na CMJP. Depois dela, assumiram o mandato como titulares ou suplentes nomes como Magdalena Alves, Sônia Germano, Creusa Pires, Paula Frassinete, Nadja Palitot, Sandra Marrocos, Raíssa Lacerda, Eliza Virgínia, Vera Lucena, Helena Holanda, Fabíola Rezende, Rebeca Sodré e Cris Furtado. Ou seja, em 75 anos de história da Câmara pessoense (depois do processo de redemocratização, ocorrido em 1947), apenas 14 mulheres assumiram o mandato na Casa Napoleão Laureano.

Mesmo afastada da vida pública, o legado da ex-vereadora permanece e, inclusive, está nas páginas do livro ‘CMJP 75 Anos – Liberdade, Transparência, Democracia’, lançado recentemente pelo jornalista Edmilson Lucena, durante as comemorações do aniversário de 75 anos da Câmara de João Pessoa.

Hoje, aos 91 anos de idade, a ex-vereadora se mantém reclusa em casa, protegendo-se da Covid-19. À reportagem, ela preferiu não conceder entrevista, porque está com um familiar em tratamento de saúde. Ressaltou apenas que, em razão da idade avançada, não sai mais e que tem tomado todas as precauções para não ser contaminada pelo novo coronavírus, que provoca a doença.

Ofélia era avessa a excesso de homenagens

Na publicação ‘CMJP 75 Anos – Liberdade, Transparência, Democracia’, Edmilson Lucena conta outras curiosidades sobre Ofélia Gondim e, num dos trechos, relata que a ex-parlamentar defendia, com muita ênfase, as questões que envolviam a educação, já que, além de advogada, atuava como professora. “Como vereadora, ela criticava muito o excesso de homenagens que eram prestadas, medalhas, comendas de um modo geral, pelo estabelecimento de critérios”, relata.

Nessa linha, ainda na década de 1970, a então vereadora votou contra a proposição e fez um pronunciamento na Câmara da capital quando foi concedido um Título de Cidadão Pessoense ao ex-jogador Pelé. Segundo o jornalista, Ofélia Gondim não via nenhum trabalho importante feito pelo atleta em benefício da cidade de João Pessoa. “Contrariou muita gente naquela época, mas ela não se intimidou. Era a única mulher na Câmara, que era um ‘Clube do Bolinha’”, acrescenta Edmilson.

A ex-vereadora, também advogada, chegou ainda a assumir, interinamente, a presidência da Ordem dos Advogados do Brasil na Paraíba (OAB-PB), na década de 1990, substituindo o então deputado Vital do Rêgo, que estava à frente da instituição.

O atual presidente da OAB paraibana, Harrison Targino, afirma que Ofélia Gondim é uma referência da advocacia e da luta das mulheres. “Foi conselheira da OAB-PB, teve uma participação atuante e forte no movimento da advocacia e na articulação da representatividade da mulher. Foi uma das pioneiras, uma mulher firme e atuante, que deixa registros de sua passagem por onde esteve”, concluiu.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 4 de dezembro de 2022.