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CÂNCER DE PELE

Alunos desenvolvem protetor solar

publicado: 22/05/2024 09h20, última modificação: 22/05/2024 09h20
Pesquisa apresentada durante mostra científica utilizou conhecimentos em ciências e matemática para criar o produto
2024.05.21 Pesquisa Câncer de Pele Pedro Paulo_Maria Rita_ Maria Beatriz_ Mariana Brandão_Professora Ana Malta © Leonardo Ariel (30).jpg

Os conteúdos trabalhados na atividade incluem temas conhecidos entre os alunos e bem abordados em sala de aula: a atmosfera e a camada de ozônio | Fotos: Leonardo Ariel

por Daniel Abath*

A interdisciplinaridade é um conceito que busca articular áreas distintas de conhecimento com o objetivo de ampliar e tornar a aprendizagem dos estudantes mais significativa. Pensando nisso, Ana Malta, professora de Ciências do Ensino Fundamental e Biologia, com a coordenadora pedagógica, Gioconda Seixas, ambas do Colégio Marista Pio X, propuseram um trabalho de pesquisa inovador e interdisciplinar para as quatro turmas do 7º ano da escola, apresentado ao público no dia 3 de maio na própria instituição.

A pesquisa relacionou conhecimentos dos componentes curriculares Ciências e Matemática e foi apresentada dentro da “Mostra Marista de Empreendedorismo Social, Ciência e Inovação”, uma semana cultural da escola. De acordo com a professora Ana Malta, os conteúdos trabalhados na atividade são muito vistos em sala de aula: a atmosfera, bem como a conhecida camada de ozônio. A professora passou, então, a abordar sobre a importância dessa camada na proteção contra a radiação solar e sobre a necessidade do uso de protetor solar. “Desse assunto surgiu a questão: será que o uso do protetor gera algum impacto ambiental?”, contou Ana.

A partir desse problema de pesquisa os alunos tentaram descobrir se já havia algum protetor solar natural e acabaram descobrindo que o produto já existia no mercado e que causava menos impacto ao meio ambiente. No entanto, era bem mais caro que o convencional. “Nós fizemos uma pesquisa nas redes sociais e vimos que algumas pessoas já tentam fazer esse protetor caseiro. Então, foi uma iniciativa dos meninos, até pelo valor alto do produto convencional, com a possibilidade de agredir menos ao ambiente”, frisou a professora. Diante dessa realidade, foram em busca de materiais alternativos para a produção de um protetor caseiro e começaram a fazer testes, inclusive com a utilização de luz negra, usada para demonstrar a aplicabilidade de suas hipóteses. “A luz negra meio que simula a radiação solar e, com uma porção de luz violeta, a gente consegue enxergar através dela”, informou o aluno Pedro Paulo.

Processo
Alunos utilizaram a luz negra para simular a radiação solar e testar os materiais alternativos que pudessem ser usados na produção de um protetor caseiro 

A matemática entrou na pesquisa por meio de um levantamento quantitativo com questões sobre a proteção individual em relação ao sol. O questionário feito com o público da escola perguntava sobre a frequência de uso do protetor solar: frequente, ocasional ou nunca usado.

Para Mariana Brandão, essa foi a parte mais complicada. “Houve uma pesquisa estatística com amostra dos alunos, professores e dos funcionários da escola, onde perguntávamos sobre o dia a dia deles, sobre proteção, uso de protetor solar e o que eles faziam para se proteger do câncer de pele. Também pesquisamos sobre câncer de pele e os resultados demonstraram que essa doença está bastante presente no cotidiano. A partir disso trouxemos a alternativa de um produto natural que é mais barato e pode substituir o convencional, porque pode ser feito sem muito recurso e sem agredir o meio ambiente e o ecossistema marinho”, explicou a estudante Maria Beatriz.

A aluna lembra ainda que foi interessante perceber como grande parte dos estudantes e dos funcionários só passava protetor solar no período das 10 às 14 horas. “Nós sabemos como o índice de radiação na região Nordeste é extremo. Por isso, temos que nos proteger a todo momento, pois apenas 10 minutos de exposição ao sol podem causar vermelhidão e irritação na nossa pele”, completou Maria Beatriz.

Experiência empolgante

A estudante Maria Rita Alexandres Teixeira falou com entusiasmo sobre a experiência. “A gente desenvolveu em sala de aula e foi uma experiência muito legal porque a gente pode ver na prática como os protetores em geral funcionam na pele, formando uma barreira que protege dos raios solares”.

A professora Ana Malta conta ainda que os alunos fizeram uma pesquisa sobre a radiação no Brasil e descobriram que a região Nordeste é onde tem o maior índice de radiação relacionado com os casos. “Também pesquisaram sobre a altitude e sua relação com a radiação e houve alguns resultados em que a gente ficou discutindo. Por que na região Sul, por exemplo, não há tanta incidência solar como aqui? Para isso, começamos a pensar quais seriam as hipóteses e pesquisar sobre os tipos de câncer de pele, alguns mais comuns e outros menos comuns. A pesquisa foi justamente sobre isso: como a radiação exerce influência sobre as camadas da pele, tipos de radiação e tipos de câncer”, esclareceu Ana.

A professora propôs desenhos em cores diferentes junto com uma folha dividida em quatro partes para servir de método de verificação. De um lado, dois quadrantes formaram o “controle negativo”, espaço em que a luz negra deve trespassar totalmente o desenho escolhido devido ao uso de alguma substância sem eficácia de proteção. Já os quadrantes do “controle positivo” foram usados para não permitir a passagem de luz, local em que foram aplicados sobre os desenhos tanto o protetor convencional como o caseiro, desenvolvido pelos alunos. “Para provar que o nosso controle realmente funciona, utilizamos o controle negativo com produtos que sabemos que não funcionam e não vão dar certo e para o controle positivo utilizamos os nossos protetores naturais e o protetor convencional vendido em mercados e utilizado no dia a dia”, explanou Maria Beatriz.

Apenas dois produtos de uso comum são usados na fabricação

O mais interessante é que o protetor caseiro é feito apenas com dois ingredientes: pasta d’água e óleo de coco. Para fazer o protetor, os alunos misturaram duas colheres de pasta d’água e uma colher de óleo de coco. A pasta d’água atua como protetora da pele ao passo que o óleo de coco, apesar de ter alguns ativos que protegem da radiação solar, serve mais para hidratar o órgão.

"A proposta era apresentar aos pais os trabalhos e também ensiná-los. Então, na hora, os pais faziam o procedimento com os alunos"
- Ana Malta

Para realizar esse experimento e provar a eficácia da pesquisa, utilizaram os controles negativo e positivo e demonstraram que, ao incidir a luz negra, tanto o quadrante vazio quanto aquele que estava com um pouco de manteiga, houve reflexão da tinta no quadro. Já ao colocarem o protetor convencional e o protetor caseiro, a luz negra não atravessou e não refletiu a tinta, não permitindo a passagem de luz e, portanto, comprovando a formação de uma barreira de proteção. O protetor solar convencional apresenta menos passagem de luz do que o caseiro, já que conta com um fator FPS alto. Significa dizer que o FPS do protetor caseiro é bem mais baixo, sendo necessária a reposição do produto na pele com mais frequência. 

Estudantes se surpreendem com os resultados obtidos no desenvolvimento do trabalho

Segundo a professora Ana Malta, dentro dessa proposta, é possível medir o que os alunos aprenderam através do critério de habilidades e, a partir dessas habilidades, tentar aproximar mais o indivíduo do ambiente e ir além do mero estudo baseado no livro didático. Gioconda ressaltou, ainda, a participação dos pais no dia da mostra. “A proposta era apresentar aos pais os trabalhos desenvolvidos, e também ensiná-los. Então, na hora, os pais faziam o procedimento junto com os estudantes e saíam com o produto na pele para constatar a veracidade”.

Para Ana, trata-se de uma proposta que tem tudo para se tornar uma pesquisa maior, com promessas de publicação. “Discutimos sobre como usar, porque as pessoas usam, mas muitas vezes não sabem como usar. E aí seria uma proposta para dar um pontapé em pesquisas. Temos, inclusive, a ideia de publicarmos essa experiência pedagógica em alguma revista científica, pois trabalhamos nesse experimento com métodos e conceitos científicos, como a noção de falseabilidade para comprovação das hipóteses”.

Ficará para sempre, na memória de Maria Beatriz, bem como dos demais participantes da pesquisa, o conhecimento e a conscientização sobre um tema tão atual. “Eu não sabia como funcionava, só passava porque minha mãe me pediu para usar. Mas eu descobri que ele forma uma barreira física na nossa pele. Ele realmente forma uma barreira impedindo que os raios solares entrem. Com isso, você consegue se proteger  de uma doença tão grave quanto o câncer de pele”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 22 de maio de 2024.