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Alerta

Animais da Caatinga em extinção

publicado: 17/07/2023 09h51, última modificação: 17/07/2023 09h51
De acordo com estudo do IBGE, existem atualmente, em todo o Brasil, 481 espécies em risco permanente no bioma
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Onça parda é um dos animais integrados ao bioma que sofre ameaças - Foto: Agência Brasil - Foto: Alexandre Marchetti / Itaipu Binacional/Direitos Reservados

por Carol Cassoli*

A Caatinga, bioma predominante na Paraíba, é o terceiro com mais espécies ameaçadas de extinção no país. São 481 entre fauna e flora, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E a caça é fator decisivo quando investigados os motivos pelos quais os animais desse bioma estão desaparecendo. Da domesticação e consumo ao comércio e tráfico, diversas são as razões que influenciam a atividade que é uma ameaça à biodiversidade na região e, no Brasil, é responsável pela captura ilegal de milhões de animais silvestres, como tatupebas, saguis e raposas.

É difícil calcular a dimensão de atividades como caça e tráfico de animais silvestres em todo o país, mas estima-se que quase 38 milhões de animais sejam caçados todos os anos no Brasil. Os dados são do relatório “Tráfico de Animais Selvagens no Brasil”, da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e apontam que, embora a Amazônia seja o bojo do mercado ilegal de compra e venda animais silvestres no país, este mercado tem afetado espécies em todos os estados.

Caatinga ocupa cerca de 10% do território e mais de 80% de suas características foram mudadas

Em linhas gerais, além de ser crime ambiental, a caça afeta negativamente tanto os ecossistemas como a biodiversidade do local onde acontece. Na Caatinga, a diminuição das espécies-chave (aquelas que são fundamentais para o funcionamento correto dos agrupamentos de cadeias alimentares, as chamadas teias alimentares) desequilibra a cadeia e pode causar até mesmo um colapso na estrutura do ecossistema local. E, segundo o Ministério do Meio Ambiente, este, que ocupa cerca de 10% do território, é o único bioma totalmente brasileiro e já teve mais de 80% de suas características mudadas, sendo também um dos ecossistemas mais afetados em toda a Terra.

Como as cadeias alimentares se ramificam do produtor, que geralmente existe em maior quantidade, ao último consumidor e decompositores, é comum que tanto a existência quanto a inexistência de indivíduos dentro das teias indique que há algo de errado com o funcionamento daquele ecossistema. É neste momento que a população começa a notar o aumento de animais normalmente pouco recorrentes dentro da cadeia ou o sumiço de bichos comuns.

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Imagem: Jornal A União

Em Campina Grande, o professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual da Paraíba, Rômulo Alves, dentre outras temáticas, desenvolve estudos voltados ao uso e conservação de espécies animais e ao comércio de animais silvestres. Ele, que está entre os pesquisadores mais influentes do mundo quando o assunto é Zoologia e Etnozoologia (um campo de estudo que investiga as relações existentes entre humanos e animais), alerta para os desdobramentos da caça na Caatinga.

“Qualquer atividade humana gera impacto, em maior ou menor escala, sobre o ambiente. Com a caça não é diferente. E as consequências dessa atividade são evidentes, sobretudo em áreas como a Caatinga, com alto grau de degradação ambiental. A mais óbvia: redução no número de espécies, podendo levar à extinção, dependendo da espécie e do grau de exploração”, explica.

Além do gato do mato, da onça parda e de diversas aves canoras, centenas de espécies animais estão ameaçadas de extinção. Rômulo Alves explica que, neste contexto, há diversos fatores envolvidos e, de uma forma ou de outra, todos são afetados. “Quando espécies animais são perdidas ou suas populações têm declínio, ocorrem mudanças na cadeia alimentar dos habitats afetados, portanto, outras espécies não-alvo de caça, acabam sendo afetadas também”.

Saiba Mais

De origem indígena, o vocábulo “caatinga” foi cunhado pelos povos Tupi-guarani e significa “mata branca’. O termo diz respeito à vegetação da região do Semiárido, onde, para evitar a perda de água em períodos de estiagem, os arbustos perdem as folhas como estratégia de sobrevivência.

Caça ilegal oferece riscos à fauna

 

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Aragão critica caça ilegal - Foto: Arquivo Pessoal

Ao afastar milhares de exemplares silvestres e submetê-los a maus-tratos, a caça e os cativeiros ilegais alimentam o cruel mercado do comércio e tráfico de fauna nativa. Dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontam que, em agosto de 2020, 572 animais silvestres foram apreendidos em uma única operação do Ibama contra a caça e ao tráfico de fauna silvestre no Sertão da Paraíba.

O chefe da Divisão de Fiscalização da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), capitão Aragão, afirma que a caça ilegal é um dos principais motivos para o desaparecimento de espécies da fauna silvestre paraibana. “As atividades humanas desorganizadas e de teor irresponsável, como a caça, são formas de ataque ao ecossistema, causando o desaparecimento de espécies animais e consequentemente, o desequilíbrio ecológico. As principais causas de extinção das espécies são a destruição de habitats, a exploração dos recursos naturais e a caça ilegal da fauna silvestre”, declara.

De acordo com Aragão, a biodiversidade é amplamente afetada por uma série de atitudes irresponsáveis, como a caça e a pesca sem critérios ou liberação; a exploração de espécies animais e vegetais; a destruição de habitats; e também o tráfico de fauna e flora silvestres (atitude amplamente atrelada à caça).

“A caça no Brasil é uma atividade ilegal e se manifesta com grande impacto nas populações de animais de todos os biomas”, diz o chefe da Divisão de Fiscalização da Sudema. Aragão explica que, além de ter sua proibição explícita através da Lei 9.605/1998, que prevê pena de seis meses a um ano de detenção, a caça é considerada infração administrativa, com multa de R$ 500 por espécies não constantes de listas oficiais de risco ou ameaça de extinção, ou de R$ 5 mil, quando incluídas nas listas.

Bioma na Paraíba está sob ameaças

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Leonardo teme extinções - Foto:Arquivo Pessoal

A partir de dados do Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) enfatizou as principais ameaças ao equilíbrio deste que é o bioma prevalente na Paraíba no artigo “Ameaças à Caatinga”. No estudo, o ISPN aponta que “a contínua retirada de produtos florestais, sem reposição de nutrientes, diminui a fertilidade do solo e intensifica a degradação do bioma”, o que demonstra que a devastação das espécies da Caatinga atinge, também, sua flora.

De acordo com a pesquisa “Contas de ecossistemas: espécies ameaçadas de extinção no Brasil”, liderada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem, hoje, 85 espécies da fauna e da flora em estado crítico de conservação. O mesmo estudo aponta que existem outras 396 espécies em situação de perigo ou vulnerabilidade.

Preservação do bioma
O coordenador da pesquisa, Leonardo Bergamini, explica que ainda que a proporção de espécies avaliadas seja baixa em comparação com o total de espécies reconhecidas em cada bioma, é um importante passo para a preservação da biodiversidade no Brasil.
De acordo com o coordenador da pesquisa Leonardo Bergamini, pesquisas como esta contribuem para a frenagem de colapsos iminentes, como o da Caatinga, a partir do norteamento de políticas de proteção ao meio ambiente. “Mas também ainda há muito o que avançar. Conforme o conhecimento vai se expandindo, é de se esperar que entrem na amostra mais espécies não-ameaçadas do que ameaçadas, já que as com potencialmente maior risco à extinção são avaliadas prioritariamente. Por isso, não podemos afirmar que o nível de ameaça diminuiu”, avalia o pesquisador.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 16 de julho de 2023.