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Animais em fase migratória na Paraíba

publicado: 05/04/2023 12h14, última modificação: 05/04/2023 12h14
Aves, mamíferos e espécies marinhas fazem trajetos enormes, mostrando que as mudanças locais afetam o global
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Maçarico pintado é uma espécie de ave, originária dos EUA, que é identificada em migração, passando pela Paraíba - Foto: Thomaz Callado.
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Tartarugas de pente e verdes vêm ao litoral da Paraíba para se reproduzir e contam com o apoio da Guajiru. Foto: Arquivo Pessoal
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Tartarugas - Foto: Divulgação/OngGuajiru
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Oceanógrafo Roberto Cavalcanti destaca que litoral do estado é muito procurado por ter clima ameno, e oferta de alimentos. Foto: Arquivo Pessoal.
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Maçarico-de-bico-torto é originário do Canadá e uma das espécies mais propensas às migrações. Foto: Thomaz Callado.
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Batuíra-de-bando - Foto: Thomaz Callado
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Maçarico-rasteirinho - Foto: Thomaz Callado
Maçarico-pintado - crédito da foto Thomaz Callado.jpg
Danielle Siqueira Barrêto de Oliveira - Arquivo Pessoal.jpg
Tartarugas - Divulgação Ong Guajiru.jpg
Roberto Barbosa - Arquivo Pessoal.jpg
Maçarico-de-bico-torto_2 - crédito Thomaz Callado.jpg
Batuíra-de-bando - crédito Thomaz Callado.jpg
Maçarico-rasteirinho 2 - crédito da foto Thomaz Callado.jpg

por Alexsandra Tavares*

Basta um passeio pelas ruas, praças e praias de algumas cidades paraibanas  para observarmos a presença de vários animais. Os mais comuns são os pássaros, que chamam a atenção pela beleza e graciosidade. O que muita gente não sabe é que muitas dessas aves, assim como alguns mamíferos e espécies marinhas não são originárias do estado, mas seres migratórios que só podem ser contemplados na Paraíba em alguns períodos do ano. Há visitantes que vêm de longe, da América do Norte, por exemplo, em busca de alimento e refúgio

O oceanólogo Roberto Cavalcanti Barbosa Filho, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestre (Cemave), do ICMBio, afirmou que existem pelo menos 78 espécies de aves migratórias na Paraíba. Segundo ele, o  estado está incluído na Rota Migratória Atlântica, por causa de sua localização privilegiada, ambiente quente e oferta de alimentos. 

“Entre essas áreas mais quentes, chamadas áreas de invernada (onde essas aves ficam durante o inverno boreal), está o litoral brasileiro, onde a Paraíba possui localização privilegiada. Aqui, essas aves encontram clima ameno, refúgio e alimento, sendo local de parada tanto no período em que as aves estão migrando para o Sul; quanto durante a volta ao Círculo Polar Ártico”, afirmou Roberto Cavalcanti.

Maçarico-de-bico-torto_2 - crédito Thomaz Callado.jpg
Maçarico-de-bico-torto é originário do Canadá e uma das espécies mais propensas às migrações. Foto: Thomaz Callado.

As aves formam um grupo dos animais mais propensos à migração. Entre os visitantes mais comuns estão as aves do Hemisfério Norte como a  batuíra-de-bando (Canadá), o maçarico-de-bico-torto (Canadá), o  maçarico-pintado (Estados Unidos), o maçarico-rasteirinho (Canadá) e a batuiruçu-de-axila-preta (Canadá e Alasca).

De acordo com o oceanólogo, essas aves estão presentes em, praticamente, todos os municípios costeiros, principalmente, aves limícolas (maçaricos e batuíras), que procuram praias, bancos de areia e manguezais. Os maiores números são avistados nas proximidades da desembocadura dos principais rios do estado: Rio Paraíba do Norte (nos municípios de Cabedelo e Lucena) e Rio Mamanguape (nos municípios de Rio Tinto e Marcação).

Roberto Cavalcanti explicou que a reprodução dessas espécies na América do Norte inicia no final de maio e estende-se até o final de agosto. Em seguida, elas migram para o Hemisfério Sul, chegando ao Brasil na primavera, permanecendo na Paraíba e em outros países da América do Sul até o final do verão, quando migram novamente para os locais de reprodução, no início de maio.

A orientação para quem observar uma dessas aves é para que não a importune, mantenha distância, observando-a silenciosamente para que possa continuar se alimentando e repousando naturalmente. O analista ambiental do ICMBio acrescentou que a presença de veículos e animais domésticos nas praias também precisa ser evitada. “As aves estão se preparando para uma longa e importante viagem. Aproveite para tirar fotografias e registrar a presença delas embelezando ainda mais nossa região”.

Animais viajam em busca de condições adequadas e seguras para o ciclo da vida

O processo migratório dos animais que, geralmente, fogem das intempéries do tempo de seu local de origem é essencial para a manutenção da espécie. No caso específico das aves, o oceanólogo Roberto Cavalcanti Barbosa Filho, analista ambiental do Cemave/ICMBio, destacou que todos os locais de paradas são essenciais para que elas concluam com sucesso as migrações anuais, completando as etapas do ciclo de vida.

“Elas precisam encontrar ambientes equilibrados e seguros, e dependem da conservação das praias, manguezais, lagoas, rios e outros ambientes para que isso aconteça”, frisou Roberto Cavalcanti.

De acordo com ele, a presença desses animais migratórios na Paraíba demonstra que o planeta tem uma biodiversidade que depende do esforço coletivo, em diferentes partes do mundo, para poder acolhê-las quando necessário. Por isso é tão importante a preservação das matas, rios, praias e lagos em todos os cantos do planeta. A  morada dos animais pode não se restringir a apenas um país, mas a todo recanto da terra em que eles necessitem de parada. 

“As condições de nosso ambiente local podem prejudicar ou contribuir para que a migração tenha sucesso a cada ano, e que as aves completem seu ciclo de vida, continuando a proporcionar esse espetáculo da natureza, cujo palco tem dezenas de milhares de quilômetros”, disse Roberto. 

Ele destacou que, por causa de algumas fragilidades vistas no meio ambiente, as aves migratórias estão tendo suas populações reduzidas, com muitas espécies ameaçadas, sendo necessário um esforço do governo brasileiro para sua conservação, através do Plano Nacional para Conservação das Aves Limícolas Migratórias. 

Visitantes aquáticas

No litoral da Paraíba também podemos observar outros animais migratórios como as tartarugas. As espécies que viajam para o estado são a tartaruga de pente e a tartaruga verde. Apesar de ser menos comum, o paraibano ainda pode encontrar a tartaruga oliva e a cabeçuda.

Tartarugas - Foto: Divulgação/OngGuajiru

Entre os motivos que atraem as tartarugas para a costa paraibana estão a busca por um local seguro para se reproduzir e a maior oferta de alimentos. “A gente não tem como afirmar de onde elas vêm e quais são os principais sítios de alimentação das tartarugas daqui, porque não fazemos acompanhamento via satélite desses animais com rastreamento. Esses equipamentos são muito caros”, declarou a bióloga Danielle Siqueira Barrêto de Oliveira, presidente da ONG Guajiru, que desenvolve o projeto Tartarugas Urbanas.

O trabalho é voltado à conservação das tartarugas marinhas do litoral da Paraíba, com foco especial na proteção dessas animais no momento das desovas, bem como na promoção da educação ambiental e produção científica.

O período reprodutivo das tartarugas vai de outubro e novembro, podendo se estender até maio e junho. A grande quantidade de nascimento, porém, é registrado de janeiro a abril. Segundo Danielle Siqueira, uma mesma tartaruga pode desovar de três a sete vezes numa mesma temporada reprodutiva. “Então, elas chegam por volta de novembro, mas não sabemos quanto tempo ela vai ficar por aqui, pois o intervalo entre essas desovas é de cerca de 14 dias”. 

Os principais pontos de desova na Paraíba são nas praias de Intermares e Bessa. No entanto, também é possível ocorrer em Ponta de Campina, Manaíra, Baía da Traição e também no Litoral Sul, como na Praia de Tabatinga. “É importante frisar que as pessoas não mexam nos ninhos. Caso vejam alguma tartaruga desovando não se aproximem (ficar distante 30 metros), e não usem qualquer tipo de luz para não prejudicar o nascimento”, explicou Danielle.

Baleias minke-austral migram para litoral na primavera

As baleias são animais mamíferos que também migram para o litoral paraibano. Segundo Pedro Cordeiro Estrela, professor do Departamento de Sistemática e Ecologia do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), os demais mamíferos terrestres encontrados, atualmente, no estado não realizam migrações.

Mas, as baleias, sobretudo, da espécie minke-austral (Balaenoptera bonaerensis) já foram vistas nas águas marítimas que circundam o estado. Ele explicou que na época da caça comercial da baleia, realizada há algumas décadas em Costinha, estudos realizados de 1975 e 1985 pela Companhia de Pesca Norte do Brasil (Copesbra) mostraram a presença desses animais no nosso litoral. 

O professor contou que análises feitas em 2013 apontaram que a maior presença da baleia-minke-austral no litoral do estado foi registrada de setembro a outubro, meses em que a espécie vem se acasalar a 30 quilômetros do litoral. “Neste estudo da Copesbra, raríssimas foram as capturas de fêmeas amamentando ou de filhotes. No entanto, a baleia minke é encontrada com filhotes no Sul do Brasil e no Oeste da África do Sul. Sabe-se também que elas são avistadas se alimentando na Antártica”, declarou o professor. 

Segundo ele, essas evidências mostram que elas migram por meio de todo o oceano Atlântico Sul, se alimentando na região do Polo Sul,  realizando a reprodução na Paraíba. Já o nascimento dos filhotes ocorre em latitudes médias, no Sul do Brasil.

A rota de migração exata, porém, ainda é desconhecida. “Em 1986 a caça da baleia foi suspensa pela comissão baleeira internacional, um acordo assinado por 80 países. Esqueletos e peças anatômicas de baleias obtidos da Copesbra  durante este período estão preservados e disponibilizados para estudos na coleção de mamíferos da UFPB”. 

Visitas

As peças podem ser visitadas sob agendamento no site do Museu de Biodiversidade, da UFPB - http://www.ccen.ufpb.br/museubiologia/. Mais informações podem ser obtidas (83) 9 9664-2222 com o professor Pedro  Estrela.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 2 de abril de 2023.