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Ato busca desconstruir o 13 de Maio

publicado: 14/05/2024 09h11, última modificação: 14/05/2024 09h11
Evento foi organizado pela Marcha da Negritude Unificada da Paraíba, ontem, no Ponto Cem Réis
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Integrantes ergueram cartazes com frases como “Queremos educação antirracista”; “Saúde para o povo preto”; “Pelo fim do genocídio do povo preto” | Foto: Evandro Pereira

por Sara Gomes*

Uma performance sobre as desigualdades sociais enfrentadas pelo povo negro, mesclada com versos da música ”Savanas” do cantor Escurinho, marcou o ato simbólico em alusão ao 13 de Maio, organizado pela Marcha da Negritude Unificada da Paraíba na manhã de ontem(13), no Ponto de Cem Réis. Com o tema “Desconstruindo o 13 de Maio: Abolição Sem Reparação não é Abolição”, o evento contou com a participação de movimentos sociais e ativistas ligados ao movimento negro.

Após a apresentação, os integrantes levantaram cartazes que diziam “Queremos educação antirracista”, “Saúde para o povo preto”, “Pelo fim do genocídio do povo preto”, entre outros. A manifestação faz parte do calendário anual temático do movimento, que desde 2020 busca desmistificar a assinatura da Lei Áurea, ou Lei no 3.353/1888, que aboliu a escravidão no Brasil.

A abolição foi algo simbólico porque, no dia 14 de maio, não foi oferecida nenhuma política social às pessoas negras
- Cantor Escurinho

De acordo com a doutoranda em Antropologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e ativista da Marcha da Negritude Unificada e do Movimento de Mulheres Negras da Paraíba, Renálide Carvalho, as informações proferidas na performance reforçam a necessidade de uma reparação em muitos aspectos. “Mulheres negras recebem menores salários, mesmo exercendo funções iguais a pessoas brancas; a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil; Abolição para quem? Só haverá abolição verdadeira a partir da ocupação de espaços de poder. A gente luta por direitos básicos, por justiça e equidade racial, mas também queremos ocupar espaços de poder, como o judiciário e legislativo”, afirmou.

Em sua fala, a ativista da Marcha, Marli Soares, lembra que a divisão de classe é latente no Brasil. “De um lado, a branquitude impregnada de privilégios; por outro lado, as pessoas negras vivenciando os piores indicadores sociais. Na periferia, por exemplo, a população negra padece sem acesso a direitos básicos”, criticou.

O integrante do Observatório Antirracista, Leonardo Silva, explica que a narrativa que vinculou o fim da escravidão à figura da “benevolente” princesa Isabel é falacioso, pois coloca o negro como sujeito passivo no processo de sua própria libertação. “Desde que começou o sistema escravista, existiu resistência. A organização dos quilombos e episódios de revolta na senzala começaram no século 17, ou seja, sempre ocorreu a tentativa de contrapor a hegemonia de dominação.

O movimento abolicionista brasileiro do século 19 (Joaquim Nabuco, José Patrocínio, Tobias Barreto) influenciado pela pressão internacional, aproveitou a luta da população negra por liberdade”, analisou.

Na percepção do cantor Escurinho, toda a sociedade deveria estar presente nesse ato simbólico para promover uma cultura antirracista. “A gente está aqui porque somos as principais vítimas do sistema escravista instituído no Brasil, mas todo mundo deveria se empenhar na luta contra o racismo. A abolição foi algo simbólico porque, no dia 14 de maio, não foi oferecida nenhuma política social às pessoas negras, nenhum pedaço de terra para reconstruírem suas vidas com dignidade”, disse.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 maio de 2024.