Assim como as roupas expressam a personalidade de uma mulher, as roupas íntimas também - acessório básico em guarda-roupa feminino. Mas será que, com a chegada da maturidade, a feminilidade, autoestima e valorização do corpo são deixadas de lado? A utilização de lingerie não tem a ver com idade cronológica, mas o imaginário social ainda associa a pessoa idosa ao consumo de peças grandes e nada atraentes. Mas o segmento de moda íntima está antenado ao consumidor maduro.
A influenciadora digital mineira Dirce Ferreira (@donadirceferreira), 75 anos, é uma inspiração para as pessoas de como chegar à velhice de forma bem-humorada, com autoestima e exemplo de empoderamento feminino. Ela começou a fazer sucesso nas redes sociais ao postar fotos e vídeos com roupas íntimas.
Os produtos mais procurados pelo público 60+ são kit de calcinhas confortáveis (pala alta), kit de cueca, sutiã sem enchimento, body rendado, camisolas e pijamas estilo americano. Segundo a gerente de uma loja de atacado de lingeriena, Avenida Maximiano Figueiredo, Fabíola Santos, a maioria do público 60+ prefere camisolas discretas e em cores neutras, mas existem mulheres maduras que entram na loja à procura de lingeries mais sensuais, sem deixar de ser elegante. “Tenho clientes que gostam bastante de body de renda com partes de lurex, como também camisolas de seda e detalhes de renda. Além de conjunto de lingeries mais ousados, sem abrir mão do conforto”, disse.
Fabíola relembra que na pandemia a moda do pijama americano voltou a ser tendência, principalmente, para quem trabalha home office e precisava fazer reunião on-line. “Foi uma tendência que surgiu nos Estados Unidos, mas no Brasil essa moda aflorou na pandemia, o estilo homewear. Nilza Kokiela, 69 anos, mora em Curitiba, mas veio conhecer o comércio de Mangabeira. Há 10 anos tinha mais dificuldade em encontrar opções de roupas íntimas, pois o mercado não investia em produtos para o público sênior.“ Hoje em dia é bem mais fácil encontrar variedade de peças íntimas voltadas ao público idoso. Antes só vendiam conjunto de calcinha e sutiã em tons de bege e preto. Hoje é possível encontrar peças confortáveis que valorizam a mulher madura”, disse.
A gerente de uma loja do mesmo segmento situada em Mangabeira I, Patrícia Gama, reitera que a procura por roupas íntimas do público 60+ tem aumentado ao longo dos anos. “A maioria utiliza conjunto de calcinha confortável e sutiã sem enchimento em cores neutras. Já as mulheres maduras mais ousadas gostam de camisolas com detalhes em renda e um pouco transparente”, disse.
Já as mulheres 70+ gostam de camisolas em tecido de algodão para ficar em casa, principalmente no período do verão.“As idosas gostam mais de camisola em U e corte reto. Preferem estampas mais discretas ou neutras”, analisou. Mas há quem seja uma exceção no padrão. Uma cliente da loja tem 85 anos e possui vida sexual ativa. Todo mês ela dá uma passada no estabelecimento para ver as novidades, mas também colocar o papo em dia. “Ela tem uma camisola rendada de cada cor. É uma cliente muito divertida e empoderada, compra até brinquedo no sex-shop”, elogiou.
Mercado cresce, mas etarismo ainda é frequente
A lingerie é um acessório básico em um guarda-roupa de uma mulher. A psicóloga e terapeuta sexual Danielle Azevedo explica que a mulher madura, ao longo da vida, provavelmente já utilizou uma calcinha mais cavada ou um estilo fio dental na vida adulta. Independente da fase que a mulher vivenciou existiu um sentimento por trás das roupas íntimas. “Ou seja, este sentimento está associado ao autocuidado, feminilidade e aceitação do seu corpo”, explica a psicóloga.
Assim como as roupas expressam a personalidade do indivíduo, a moda íntima também. “A lingerie é um acessório que expressa sua personalidade: do que eu sou, como me sinto e do que gosto. A lingerie é também utilizada para surpreender o parceiro e também demonstrar afeto. E, acima de tudo, a sexualidade não é apenas o sexo, mas o contexto de sensualidade naquele momento”, explicou a psicóloga.
Jaqueline Pontes, 60 anos, consumidora, prefere dormir com mais o conforto do que a sensualidade.“ Eu prefiro babydolls sem enchimento, de seda ou algodão”, disse. Mas compra conjuntos de lingerie mais ousados. “Eu estou um pouco acima do peso, mas continuo me achando gostosa. Hoje em dia existe fios dentais para moças de 18 anos como também existe fio-dental para senhoras da minha idade. Essas peças vestem bem e são confortáveis, um sexy elegante”, frisou.
Jaqueline concorda que tem aumentado o mercado para roupas íntimas 60+ aumentou consideravelmente nos últimos anos, embora o etarismo ainda seja predominante. ”É como se mulheres velhas deixassem de ser mulher. Como se elas só pudessem usar aquela camisola de bichinho. Eu sou separada, mas continuo comprando lingerie para me sentir bem comigo”, declarou.
Por fim, Daniele Azevedo enfatiza que as roupas íntimas auxiliam no processo de aceitação do nosso corpo, autoestima e feminilidade. “Não há nada melhor que encontrar uma peça que valorize o nosso corpo. Mesmo seminua, a mulher precisa dessa validação do seu eu diante do espelho: ‘mesmo mais velha, flácida ou com celulite, eu continuo me amando’. A lingerie funciona como um plus para fortalecer essa feminilidade, independente da sua idade”, frisou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de fevereiro de 2024.