Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil
Fechando o carnaval dos blocos de rua não oficiais, ontem, Quarta-feira de Cinzas (1º), o Bloco das Mulheres Rodadas desfilou na zona sul do Rio de Janeiro contra o machismo, a misoginia, o racismo e a homofobia. O percurso começou no Largo do Machado com os versos tropicalistas “Eu organizo o movimento, eu oriento o carnaval” e seguiu até o Aterro do Flamengo, com músicas icônicas como Alguém me avisou, de Dona Ivone Lara, Tieta, de Caetano Veloso, Geni, de Chico Buarque, e Hoje, de Ludmila.
Uma das organizadoras do bloco, a jornalista Renata Rodrigues disse que o alerta contra o machismo continua muito necessário, lembrando da agressão sofrida no domingo de carnaval por mulheres que faziam campanha contra o assédio. “É por isso que a gente faz o que a gente faz.”
Neste ano, o terceiro em que o bloco sai, as homenageadas foram mulheres da música e da cultura brasileiras. “Foram [homenageadas] sete mulheres da música e da cultura brasileira, com os estandartes que a gente trouxe. Algumas são compositoras de músicas que estão no repertório do grupo, como Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Gretchen e Frenéticas”, disse Renata.
A foliã Mônica Ramalho, também jornalista, diz que gosta do Mulheres Rodadas porque as ações do bloco não se restringem ao carnaval. “O diferencial é que ele está ativo o ano todo, não só para o carnaval, mas para falar do feminismo, da importância de valorizar a mulher, contra o machismo. As organizadoras do bloco batalham o ano todo pelo feminismo, elas estão na ativa o ano todo. Eu achei o meu bloco.”
Vestida de Mulher Maravilha, a jornalista Flávia Dias explica que o nome do bloco é uma resposta ao machismo, num manifesto “zoeira” contra falas do tipo “eu não mereço uma mulher rodada”, ou seja, que teve muitos parceiros sexuais. Integrante do coletivo Deixa Ela em Paz, Flávia afirmou que está na hora de as mulheres pararem de se esconder e se assumirem como feministas.
“Não tem que se esconder. Feminismo não é o contrário de machismo, isso seria ‘femismo’. O que a gente quer é igualdade de direitos, cargos, salários, liberdade de andar na rua sem ser assediada, tudo o que o patriarcado tira da gente todos esses anos. Só isso. Se a gente sofre uma pressão dos homens, eles precisam ser conscientizados para que paremos de sofrer isso, então precisa desse diálogo [com os homens]”.
Trepadeiras
A cantora e atriz Maria Talita de Paula acompanhou o Mulheres Rodadas com o seu Bloco das Trepadeiras, criado há nove anos. “São mulheres vestidas de planta, cada uma com um nome, como Maria Sem Vergonha, Beijo Pintado, Dama da Noite, Flor do Cerrado, Sempre Viva. A gente vai na frente dos blocos, procura um lugar para trepar e espera o bloco passar.”
Para Maria Talita, as campanhas contra o assédio e de empoderamento das mulheres no carnaval têm surtido efeito. “O bloco é a representação da liberdade das mulheres, aqui é nosso corpo, nossas regras mesmo, unidas somos mais fortes, vários grupos de mulheres vêm para se sentir acarinhadas até, pelo empoderamento. Quando eu criei o bloco, em 2008, não tinha essa campanha contra o assédio, e chegamos a passar por situações em blocos da zona sul, tivemos que ir embora porque tinha homens que não entendiam que o nosso corpo não é deles. Agora estamos com mais adesão, é impressionante as mulheres poderem andar de peito de fora, de biquíni fio dental e ser respeitadas.”