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na terceira idade

Calor requer cuidados especiais

publicado: 18/03/2024 09h38, última modificação: 18/03/2024 09h38
Envelhecimento provoca alterações fisiológicas que comprometem a termorregulação do corpo e a saúde dos idosos
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O verão segue até o próximo dia 20 de março com temperaturas mais quentes em comparação com os anos anteriores | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

por Samantha Pimentel*

 verão é a estação mais quente do ano, e neste início de 2024 ele já atingiu uma marca histórica no município de João Pessoa, chegando a 34,9°C, a maior temperatura já registrada nos últimos 55 anos, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O verão segue até o próximo dia 20 de março, e a previsão é de que as temperaturas sigam mais quentes em comparação com os anos anteriores. Todo esse calor requer alguns cuidados com a saúde, sobretudo quanto à população idosa.

O envelhecimento provoca alterações fisiológicas que comprometem a termorregulação do corpo e a saúde dos idosos. Nessa fase da vida, as pessoas passam a ter menor capacidade de se adaptar às altas temperaturas, devido ao menor número de glândulas sudoríparas e menor quantidade de água pelo corpo. Por isso, cuidados básicos devem ser mantidos para evitar problemas como hipertermia e desidratação. O médico geriatra  e gerontologista, Dr. João Borges, fala sobre essas alterações no organismo dos idosos. “Com o avançar da idade, os idosos apresentam alterações anatomo-fisiológicas, que interferem no centro da sede, levando-os a reduzir a ingestão de  líquidos”, explicou.

Para que os idosos possam aproveitar essa estação sem grandes problemas é necessário redobrar a hidratação, ingerindo bastante água, o que é fundamental para manter diversas funções do corpo funcionando bem, e equilibrar a temperatura corporal.

"Como há um aumento muito grande do calor, da quentura durante o dia, a gente passa a ter mais cuidado, principalmente em beber muita água. Esse já era um costume, mas no verão acabo aumentando a quantidade"
-  Aparecida Rodrigues

Dentre as alterações que ocorrem no organismo durante o processo de envelhecimento, como citou o Dr. João Borges, ocorrem mudanças quanto a sensação de sede, que é causada pela redução da funcionalidade do hipotálamo. Com isso, os idosos costumam sentir menos vontade de beber água, e é necessário desenvolver esse hábito de manter-se hidratado, mesmo sem que ocorra a sensação de sede.

Aparecida Henriques, 60 anos, Gerente de Desenvolvimento Humano do Procase, relata que nesse período de calor ela tem alguns cuidados especiais com a saúde, sobretudo quanto a hidratação. “Como há um aumento muito grande do calor, da quentura durante o dia, a gente passa a ter mais cuidado, principalmente em beber água, beber muita água. Esse já era um costume, mas no verão acabo aumentando a quantidade porque sinto essa necessidade de estar hidratada. Então capricho na água, no suco, e procuro comer menos açúcar”, destacou.

Com as alterações no organismo, o calor afeta os idosos de forma diferente, e para além da desidratação, também podem ser desencadeados problemas de saúde mais graves, segundo alerta o Dr. João Borges. “No período do verão, principalmente se expostos a altas temperaturas, eles ficam sujeitos ao risco maior de desidratação e insolação, que  podem causar: tonturas, desânimo, redução da diurese (urina), maior risco de quedas, bem como o maior risco de doenças cardiovasculares, como arritmia, hipotensão arterial e síncope. Também ficam mais sujeitos a AVC, embolia, constipação intestinal e insuficiência renal”, afirmou.

Aparecida Henriques, que é hipertensa, diz que fica mais atenta nesse período para não ter nenhum mal-estar ou complicação de saúde. “Mal-estar por causa do calor, eu particularmente nunca tive, mas fico atenta, porque eu sou hipertensa, então fico atenta ao medicamento”, afirmou.

Mudanças fisiológicas também afetam a pele das pessoas idosas

As mudanças fisiológicas que surgem com o avanço da idade, também afetam a pele das pessoas idosas, que precisam de cuidados especiais e uma maior atenção nesse sentido. Como explica o Dr. João Borges, essas mudanças alteram o aspecto da pele e a produção de suor. “Em relação à pele, estas alterações fisiológicas levam à diminuição das glândulas sudoríparas e subáreas, na pele do idoso, por isso ela tende a ser mais seca”, explicou. 

Essa também é a sensação relatada por Aparecida Henriques, que ainda destaca que percebeu o surgimento de sinais e outras marcas na pele. “A pele vai precisando também de mais proteção, a partir da idade. Aparecem mais sinais, aparecem muitas outras coisas na pele que a gente precisa ter cuidado. Então, o protetor solar, ele é permanente, inclusive o protetor solar que eu uso ele é indicado por uma dermatologista por conta da situação de sinais que foram aparecendo no rosto, que foram aparecendo na pele”, destacou.

Essas alterações na pele podem ser agravadas pelo hábito de tomar banhos frequentes com água quente, o que pode acontecer de forma constante pelo fato dos idosos sentirem mais frio que as pessoas adultas, mesmo em épocas quentes. Esse fator também pode fazer com que os idosos usem roupas mais pesadas, mesmo no calor, o que pode piorar a perda líquida e a aumentar a possibilidade de desidratação.

Para além dos problemas com a hidratação, doenças cardiovasculares e as alterações na pele, os idosos também podem sentir menos disposição nesse período de verão, possuindo uma dificuldade maior para executar funções e atividades, tanto físicas como mentais.

Durante o verão também é preciso estar atento à prática de atividades físicas, pois o esforço realizado nesse período mais quente, pode ser prejudicial à saúde dos idosos.

Atenção redobrada para acamados ou que possuem limitações físicas

O calor afeta a saúde e bem-estar dos idosos de uma forma geral, mas quanto aqueles que se encontram acamados ou que possuem limitações físicas ou cognitivas, os cuidados e a atenção precisam ser ainda maiores.

Segundo a cuidadora de idosos, Irani Marques, a depender da patologia do idoso, tem-se que redobrar os cuidados. “É preciso estar sempre oferecendo líquidos ao idoso e uma alimentação balanceada, frutas, verduras... nada de comidas muito pesadas. E dependendo da patologia, por exemplo, um idoso com Alzheimer, ele não tem noção das altas temperaturas, não vai lembrar de beber água, essa atenção e cuidado tem que ser feitos pelos profissionais. Um idoso com hipertensão ou arritmia também pode ter piora desse problema pelo calor e baixa ingestão de líquidos”, afirmou.

Irani também destaca que, como cuidadora, é preciso estar sempre aferindo a pressão, verificando o estado de saúde do idoso, e atenta a qualquer sinal de problemas ou alterações no organismo e aspecto físico deles, que precise de cuidados maiores ou mesmo de atendimento médico.

A profissional diz ainda que, em casos de idosos que moram sozinhos, o risco é maior, pois não há ninguém que possa diariamente acompanhar esses aspectos de saúde, e fala também que, como muitos idosos não possuem esses hábitos de cuidado, ou não gostam de beber água, o desafio do seu trabalho nesse período de verão se torna ainda maior. “Nem todo idoso gosta de se hidratar, beber água, tomar banho. Tem idosos que compreendem essas necessidades, outros não. Muita gente compara com uma criança, com relação aos cuidados, mas eles são crianças que carregam uma bagagem enorme de conhecimento, e o cuidador tem que ter esse jogo de cintura”, destacou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 16 de março de 2024.