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Cardeais e bispos tratam freiras como escravas

publicado: 04/03/2018 19h17, última modificação: 04/03/2018 19h17
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Freiras servem nas casas de bispos e cardeais, outras trabalham nas cozinhas das instituições católicas ou ensinam - Foto: Charliellewellin/Flickr

tags: vaticano , mulheres , escravas , roma , papa francisco


Da Ciberia/ZAP

Servem na casa dos bispos e dos cardeais e trabalham em cozinhas sem remuneração. Na sua edição de março, a revista do Vaticano Women Church World expôs a forma como são tratadas algumas freiras pelos cardeais e bispos da Igreja Católica. O artigo central da revista Women Church World, intitulado ‘O trabalho (quase) gratuito das freiras’ e publicado pelo jornal oficial do Vaticano Osservatore Romano, denuncia a forma como são tratadas as freiras no seio da Igreja Católica. A revista está sendo cada vez mais encarada como a versão da Igreja Católica do movimento #MeToo.

“Algumas delas servem nas casas de bispos e cardeais, outras trabalham nas cozinhas das instituições católicas ou ensinam. Há quem, para servir os homens da Igreja, se levante de manhã para fazer o café da manhã e só se deite quando estiver tudo limpo, a roupa lavada e passada”, diz a irmã Maria, nome fictício.

Além de raramente serem convidadas a se sentar às mesas que servem, é realçada a falta de salários dignos e a falta de contratos das mulheres que vão para os prelados. Quando adoecem, conta o Público, as trabalhadoras são enviadas de novo para a congregação e substituídas por outras.

A editora quer dar voz a essas irmãs, através de uma revista que sobrevive pela boa vontade e esforço gratuito dos editores. Muitas vezes, o silêncio de muitas freiras está relacionado com o fato de virem de longe (África, Ásia ou América) e fazerem seus estudos religiosos no Vaticano pagos pelas congregações. “Elas se sentem em dívida, amarradas, e por isso se mantêm caladas”, disse a irmã Maria, que também foi da África para Roma para prosseguir os estudos religiosos.

Além disso, a edição deste mês destaca ainda o fato de muitas freiras terem intelectos brilhantes, mas que não podem pô-los em prática, pelo fato de seu avanço intelectual ser fortemente desencorajado pela Igreja. “Por trás está sempre a ideia infeliz de que as mulheres valem menos do que os homens, de que os padres são tudo na Igreja e de que as irmãs não são nada”, acrescentou a irmã Maria.

Mas as opções editoriais da revista estão constantemente em alta. Em março de 2016, a revista expôs um artigo no qual defendia que as freiras deviam poder dar homilias. A autora teve que se defender publicamente e dizer que não teve nenhuma intenção de sugerir uma mudança na doutrina nem na prática. A edição deste mês de março explora temas como as diferenças salariais de gênero e a falta de mulheres em posições de chefia.

“As mulheres são pessoal de segunda para a Igreja”

Para Maria João Sande Lemos, fundadora do movimento de leigos da Igreja Católica ‘Nós Somos Igreja’, que luta pela ordenação das mulheres a sacerdotes, “é um grande progresso uma revista que sai com o jornal do Vaticano reconhecer uma evidência, porque isso é o que acontece dentro da Igreja”.

Na opinião da fundadora do movimento, as mulheres “são pessoal de segunda para a Igreja Católica”. Por isso, Maria João defende que já deviam ter sido tomadas medidas em relação a essa fragilidade, como fazer com que as freiras “participem nas conferências episcopais, nos conselhos diocesanos ou tenham acesso aos ministérios ordenados”.

Destaca ainda o fato de o celibato das freiras ser imposto por razões econômicas, mas também pela perspectiva de que “as mulheres são um perigo”. No entanto, para Maria João a revista é uma autêntica vitória. Ao Diário de Notícias, a fundadora do movimento ‘Nós Somos Igreja’ desabafou: “Finalmente, que se comece a falar desse assunto. Nos EUA, o conselho geral das freiras foi perseguido e sujeito a investigação assim que começou a enfrentar os poderes romanos”, contou.

“O papa Francisco tenta mudar isso”, disse, lembrando que em um prefácio que assinou para um livro sobre assuntos femininos, o papa reconheceu que estava preocupado com muitos casos em que o trabalho das mulheres na Igreja “por vezes é mais servidão do que verdadeiro serviço”.