Hoje, 6 de setembro, é comemorado o Dia do Sexo, data que destaca a importância das relações sexuais para a saúde física e mental, inclusive os benefícios de melhorias para a vida em sociedade. “O Dia do Sexo serve para lembrar o quanto ele é maravilhoso e o quanto a vida sexual saudável movimenta positivamente nossas rotinas. É muito bom quando construímos uma vida sexual saudável onde cada um tem o seu ritmo e quando podemos nos conhecer/reconhecer sexualmente. Todo tempo é um tempo de aprendermos coisas novas no sexo e se cada pessoa é única, cada vida sexual vai ser unica também”, declarou o psicólogo e terapeuta sexual, André Memória.
O sexo é tão importante quanto outros aspectos da vida como família, trabalho, estudos e lazer e cada indivíduo tem a sua compreensão do quanto essa prática é importante para si e como ela deve estar presente na sua rotina.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a vivência da sexualidade se altera com o tempo, mas faz parte de todas as etapas da vida e sua expressão saudável é fundamental para a felicidade e realização do ser humano.
Assim, vários benefícios estão relacionados ao sexo desde mudanças de humor, melhora do condicionamento físico, do sistema imunológico, bem como redução do estresse e até queima de calorias. “Uma vida sexual saudável é onde você está bem sexualmente, seja sozinho ou sozinha, a dois ou em quaisquer quantidades que você queira de pessoas realizando as suas atividades sexuais. Ou seja, pode ser desde a masturbação ou qualquer tipo de sexo com uma ou mais pessoas que você se sinta bem, leve e compreendido. Portanto, é uma vida onde as relações sexuais acontecem de uma maneira que você está confortável, independente da quantidade de vezes”, esclareceu o terapeuta.
O sexo é tão importante quanto outros aspectos da vida como família, trabalho, estudos e lazer
A prática sexual também promove relaxamento, melhora a aparência da pele e dos cabelos, promove benefícios ao cérebro, músculos e sono, além de aumentar a disposição. Clinicamente, a falta de sexo não gera grandes riscos para a saúde. No entanto, algumas pesquisas já apontam várias consequências ligadas a ausência de qualquer tipo de relação durante muito tempo. “A quantidade de relações só interessa a cada pessoa. Cada um deve saber a quantidade que é saudável e nenhuma outra pessoa pode dizer isso. Portanto, se a pessoa tem uma relação por mês e está feliz assim, não está faltando sexo, pois cada pessoa determina a quantidade de vezes que vai sentir falta ou não. Mas, se ela percebe que faz menos sexo do que gostaria, pode acarretar ansiedade, tristeza e talvez interferir no trabalho, nas relações de amizade, familiares, na relação amorosa, entre outros pontos a serem avaliados pelo profissional”, explicou André Memória.
Para o especialista, uma vida sexual saudável e prazerosa aumenta a autoestima, melhora as relações não só com a pessoa que a gente pratica, mas com as pessoas ao redor. “Vida sexual saudável e felicidade estão atrelados. É possível um casal ser feliz sem sexo ( o que é raro), mas na média das vezes só existe relacionamento/casal feliz se tiver uma vida sexual saudável. Vale lembrar que sexo não é só penetração, mas um conjunto de ações, toques e sensações que vão muito além do que é visto nos filmes”, completou.
No entanto, os benefícios das relações sexuais só podem ser percebidos em uma relação prazerosa e sem problemas. Portanto, se o sexo for ruim, se a pessoa não está feliz, se o sexo é apenas para “cumprir tabela”, ou representa algo irrelevante na sua rotina, o sexo não têm as mesmas vanagens para a saúde física e mental. “Toda vida sexual saudável é uma vida sexual feliz e o corpo da pessoa fica mais ativo, fisicamente falando. Não substitui academia nem outras atividades físicas, mas é um ótimo exercício físico. Em relação à saúde mental, o sexo traz muita alegria, produz muitos hormônios que nos fazem sentir um dia a dia mais agradável, mais leve”, detalhou o psicólogo.
A maioria dos problemas sexuais que chegam aos médicos, sexólogos e psicólogos está mais ligado aos fatores psicológicos/mentais do que a questões físicas (biológicas). De qualquer forma, a recomendação é que a pessoa consulte um médico para descartar qualquer problema biológico para que o profissional da saúde possa avaliar quais pensamentos ou sentimentos podem impedir essa pessoa de ter uma vida sexual saudável. “O especialista vai ajudar muito nessa conexão e autoconhecimento sexual. Mas buscando bons livros, bons materiais on-line também é possível melhorar a vida sexual e afetiva”, aconselhou André.
Dificuldades sexuais devem ser superadas ao longo da vida
A vida sexual apenas acaba com a morte daquele indivíduo ou a ausência de condições físicas e emocionais. Por isso, não existe uma idade específica para que as dificuldades sexuais comecem a aparecer, pois cada fase da vida vai ter um tipo de transtorno mais recorrente e que preocupa determinadas pessoas. “As principais reclamações da vida sexual das pessoas incluem falta de diálogo e compreensão do outro, a rotina ( fazendo a mesma coisa sempre), casais que não buscam o que o outro gosta ou alguma novidade”, citou o terapeuta André Memória.
Inclusive, o orgasmo (momento de maior prazer sexual durante o ato – inclusive através da masturbação) pode ser experimentado por ambos os sexos e de diferentes maneiras. Porém, os terapeutas lidam com diversas reclamações das pessoas sobre esse assunto, que variam conforme o gênero e fase da vida do indivíduo. As mulheres que se relacionam com homens, por exemplo, costumam se queixar que eles não dão a devida atenção a tudo aquilo que está além da penetração e se queixam da dificuldade em ter prazer, o que está associado a questões psicológicas, problemas com o próprio corpo, com a sua autoestima, com a estética íntima ou mesmo com a pessoa que ela está tendo relações sexuais.
Entre os homens, por sua vez, as principais reclamações são a impotência (não conseguir ter ou manter uma ereção firme o suficiente para a relação sexual) e a a ejaculação precoce, fatores que podem estar associados à ansiedade. No caso dos homens heterossexuais, alguns reclamam que os parceiros (as) não fazem o que eles gostariam. “Isso pode estar ligado a crenças que não são saudáveis porque estão ligadas aos filmes eróticos ou muitas vezes o outro é mais conservador”, acrescentou o sexólogo.
Tecnologia e brinquedos eróticos indicados por especialistas
Atualmente, os brinquedos eróticos são indicados com frequência por especialistas. Estes objetos podem ser utilizados com ou sem o parceiro, pois são inúmeras opções no mercado que variam de acordo com a necessidade e as preferências dos clientes. Além disso, o auxílio da tecnologia é fundamental em muitos destes produtos, pois alguns dispositivos funcionam via Wi-Fi ou Bluetooth.
A intenção, conforme o especialista André Memória, é deixar a atividade sexual mais divertida. Geralmente, vai haver algum item que a pessoa vai se identificar e vários brinquedos, inclusive, são quase unanimidade entre as pessoas, independente da idade. Mas, algumas pessoas podem passar a vida sexual inteira sem adquirir qualquer tipo de brinquedo, enquanto outras já descobriram produtos acessíveis e muitas novidades nesse mercado, principalmente através de compras pela internet, onde vários já possuem preços mais acessíveis.
Sobre isso, o terapeuta ressalta que cada pessoa é única e não é obrigada a usar ou gostar. É possível fazer um teste e ver qual seria bom para ela e caso não tenha gostado de nenhum, não há problema, pois a pessoa é livre nessa escolha. “Brinquedos sexuais/eróticos não são obrigatórios, mas para muitas pessoas eles vão ser um ótimo aliado, sozinho ou acompanhado, melhorando a vida sexual de várias maneiras. Há uma infinidade de opções, e sexo tem que ser divertido. Por isso são recomendados e a pessoa pode testar e achar aqueles que têm preferência”, recomendou André Memória.
Sexo na terceira idade não deve ser tratado como um tabu
A redução da atividade sexual na terceira idade está muito mais relacionada a fatores culturais e comportamentos sociais do que a natureza e fisiologia (ou hormônios). E o preconceito das famílias é uma das razões que interferem na vida sexual nesta fase da vida, pois o idoso evita falar de sexo para a família porque, quando se comenta o assunto, ainda existe deboches, o que acaba reprimindo a pessoa idosa de comentar o tema com parentes.
Geralmente, outras formas de contato físico passam a expressar o carinho e o afeto, assumindo maior importância na expressão da sexualidade nesta faixa etária. “Hoje, estudiosos já têm a ideia de que o sexo só acaba quando a pessoa morre. O corpo pode ter várias mudanças com o tempo e talvez não seja possível fazer determinadas coisas com 70, 80 ou mais anos, que eram feitas quando a pessoa era mais jovem. Mas sexo não é só penetração e tendo isso como premissa, pode-se fazer sexo até o último dia de vida, de várias formas”, comentou André Memória.
"O Dia do Sexo serve para lembrar o quanto ele é maravilhoso e o quanto a vida sexual saudável movimenta positivamente nossas rotinas" André Memória
O guia Cadernos de Atenção Básica Saúde Sexual e Reprodutiva do Ministério da Saúde alerta que o desconhecimento, o preconceito e a discriminação podem fazer com que o comportamento sexual na terceira idade seja visto como inadequado, imoral ou anormal, inclusive até pelos próprios idosos, que podem sentir culpa ou vergonha. Assim, o preconceito acerca da sexualidade da pessoa idosa, pode, inclusive, aumentar a vulnerabilidade deste público para as DST/HIV/Aids.
Além disso, muitas pessoas foram criadas com a questão cultural dos pais e falar sobre sexo no passado era algo diferente do que ocorre atualmente. Com isso, muitos idosos, principalmente viúvos, não sabem ainda lidar com temas como namoro, e formas de se relacionar com as pessoas, pois foram educados apenas para entender o casamento como forma de procriação. E depois dos filhos, o casal se torna amigo e não há mais atividade sexual.
Mas nesta fase da vida pode ocorrer o processo de reinventar a relação, isto é, procurar sentir e dar prazer ao outro de outras maneiras como através de beijos, carinhos e abraços, por exemplo. Neste sentido, pesquisas científicas comprovam que o prazer e a realização sexual elevam a autoestima da pessoa idosa, evitando depressão ou isolamento, e portanto, a qualidade de vida é o principal benefício.
De acordo com o sexólogo André Memória, o sexo na terceira idade, não deveria ser um tabu, pois é possível se beneficiar de uma vida sexual ativa de várias maneiras, mesmo que os homens e mulheres tenham algumas dificuldades biológicas.
Portanto, se a pessoa idosa sente vontade de paquerar, namorar ou tentar inserir alguém em sua vida, mas possui alguma dificuldade, ela pode procurar um profissional (psicólogo, médico ou alguém que trabalha voltado à terceira idade) para entender como lidar com isso e lhe dar suporte diante de várias situações físicas e emocionais.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 6 de setembro de 2023.