Em Dona Inês, uma moeda social foi lançada na última sexta-feira (14), durante a inauguração do Banco Solidário Municipal, primeiro banco comunitário da Paraíba com uma moeda social própria. Segundo a coordenação, o uso das unidades virtuais da moeda inês contribui para um modelo de desenvolvimento baseado na economia circular. “Os auxílios de alimentos, que já são distribuídos através de seleção da assistência social, serão convertidos em valores na nova moeda, através de cartões de crédito. O dinheiro circula no município, e o mercado local assume o compromisso de adquirir a produção da agricultura familiar”, explica o secretário da Cultura e Turismo de Dona Inês, Josenildo Fernandes.
A elaboração da iniciativa teve apoio técnico de universidades públicas e organizações do campo da economia solidária. O trabalho coletivo envolveu instituições como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Instituto Federal da Paraíba (IFPB), além do Governo do Estado e da prefeitura de Dona Inês. “Os protagonistas desse processo, porém, são os cidadãos locais, as comunidades e associações que participaram de forma ativa”, afirma o professor Danilo Arruda, do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da UFPB.
Membro da equipe de elaboração do plano de economia solidária do município, Danilo explica que a moeda social nasceu em meio ao processo de construção do Banco Solidário de Dona Inês. “Foi fruto de discussões que tiveram início com oficinas e um minicurso sobre economia solidária, além de uma trajetória de mais de 30 reuniões de trabalho”, descreve.
O intuito é promover a dinamização da economia local e valorizar o comércio e a produção, com foco na agricultura e nos empreendimentos que têm base comunitária e solidária. “É uma ferramenta concreta do processo de desenvolvimento e de inclusão social e financeira. Uma coisa que a gente ressalta é que esta política em Dona Inês tem dois eixos fundamentais: o primeiro, que é a parte produtiva, e o segundo, que é a parte financeira”, conta Arruda.

- Trabalho envolveu instituições, a exemplo da Universidade Estadual da Paraíba | Foto: Divulgação/Secretaria da Cultura de Dona Inês
O fundo de combate à pobreza, conforme explica Danilo, será o veículo do implemento da nova moeda. O fundo de desenvolvimento social do município faz pagamentos mensais de auxílios, a partir de um cadastro estabelecido pela assistência social. “Agora, esse pagamento será feito em moeda local. Existe uma paridade, cada inês equivale a R$ 1, então, consequentemente, as pessoas vão ativar o comércio de Dona Inês. Nesse processo, vamos fazer com que recursos passem a circular na economia, e eliminar, muitas vezes, o custo de transação. Esse uso pode também avançar e fazer parte de outros auxílios e setores da gestão municipal”, avalia.
Para o presidente do Fórum de Turismo do Brejo e secretário de Cultura e Turismo do município, Josenildo Fernandes, a política de economia solidária em implementação fortalece ainda mais os arranjos produtivos em Dona Inês. “Isso, para nós, que trabalhamos com turismo de base comunitária, é muito importante, porque nós estamos, justamente, fortalecendo as bases do nosso turismo, com produtos que vão desenvolver a atividade na região. Então, ao chegar em Dona Inês, o turista verá produtos locais, criados através da valorização da agricultura familiar e da economia da cidade”, ressalta.
O Banco Comunitário de Dona Inês é uma inovação institucional e financeira. O objetivo é, segundo Arruda, gerar renda, oportunidade e trabalho, estimulando o consumo responsável dentro do território. “A partir desse processo de fazer com que o dinheiro circule, alavancamos a economia, evitando uma evasão de renda com um consumo fora do município. Toda parte produtiva tem por base a produção agroecológica, levando em conta a emergência das mudanças climáticas e os impactos que são observados no Semiárido, principalmente na Caatinga, então nós prezamos pela sustentabilidade”, afirma o professor.
Além de facilitar trocas, estimular o comércio interno e fortalecer redes produtivas, a implementação da moeda integra o município à rede brasileira de finanças solidárias, reforçando as práticas econômicas inclusivas e o desenvolvimento sustentável. “Na prática, isso amplia o alcance das políticas locais, atrai parcerias e dá mais visibilidade às iniciativas de base comunitária. Dona Inês passa a se conectar a uma rede nacional de inovação e inclusão social. Isso é de extrema importância e terá um impacto local significativo”, avalia Danilo Arruda.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de novembro de 2025.